Lune Argentée

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Ian ainda explicou para Anahi que a doença estava em estágio IB e falou pacientemente o que aquilo significava e quais as possibilidades de tratamento. A principal era a cirurgia, que estava descartada no momento. Então a melhor opção para aquela situação seria a quimioterapia e Ian garantiu que iria estudar o caso dela para avaliar qual seria a melhor conduta.

— Eu achei que você já soubesse o que fazer. — Anahi murmurou, um tanto quanto desanimada.

— Não me entenda mal, Anahi. Mas é que casos de câncer de estômago em grávidas são raros. Eu preciso sentar e estudar, talvez conversar com alguns colegas para definir qual a melhor conduta. O que posso te garantir é que tem saída. — Devolveu, os olhos azuis perfurando-a.

Anahi não gostou de ouvir aquilo. Ela já tomava ansiolíticos, tinha o tratamento com a psicóloga — No qual ela estava em falta — e ainda teria que tomar outra medicação. Seu receio nem era tanto por ela, mas sim por seu bebê. Vendo a tristeza tomar conta dela novamente, Ian logo tratou de emendar:

— Seu caso é difícil, Anahi. Mas não é impossível de ser resolvido. Nós vamos achar uma saída para você e seu bebê, pode confiar.

O casal ainda conversou um pouco mais com Ian, principalmente sobre quando iniciar o tratamento. O médico disse que Anahi ainda precisava fazer alguns exames, que ele falaria com a obstetra dela e que estudaria o caso, mas garantiu que não levaria mais que três semanas.

Quando os dois saíram do consultório, Ian ligou para a recepção e pediu cinco minutos antes do próximo paciente. Ele suspirou, se levantando da cadeira, esticando os braços e se movimentando pela sala. Aquele caso tinha intrigado-o e deixado ele exausto. Sua cabeça trabalhava a mil por hora pensando em várias possibilidades e ele iria desmembrar uma por uma até achar a que fosse melhor para a sua paciente.

Chegando próximo a janela, Ian fixou os olhos no casal, que andava pela calçada de mãos dadas.

Não era só o caso que tinha intrigado-o, mas ela também. Anahi era uma moça jovem e pelo que ele havia levantado no histórico clínico, havia passado por muita coisa. E, mesmo assim, estava ali, disposta a lutar mais essa batalha. E ele, Ian, já havia mergulhado de cabeça naquele caso. Não havia se comprometido apenas com ela, mas com ele mesmo. Ele iria ajuda-la.

O próximo paciente havia batido na porta no exato momento em que Anahi e Alfonso viravam a esquina e Ian retomou sua postura profissional de sempre. Naquele momento, era outro caso, outra vida, outra história. Apesar de saber disso, a imagem dos olhos azuis assustados e cheios de esperança de Anahi insistiam em povoar a sua mente. E ele não iria decepcioná-la.

Anahi e Alfonso foram caminhando até uma padaria proxima à clínica. Antes de começar a sentir enjoos e mal estar, Anahi não podia olhar uma vitrine de padaria, lanchonete, etc que já salivava de vontade. Agora, mesmo que os enjoos estivessem mais controlados, ela tinha certo receio de comer e acabar se sentindo mal. Alfonso apertou a mão dela e ela o olhou. Ele assentiu, dando forças a ela. Os dois entraram e escolheram uma mesa próxima às janelas para sentarem. Não havia muito movimento aquela hora e os dois logo foram atendidos. Não pediram nada pesado, era apenas para Anahi não ficar de estômago vazio.

— Amor, nós temos que falar com nossa família e nossos amigos. Não podemos mais esconder o que se passa.

Alfonso apanhou as mãos delicadas entre as suas por cima da mesa. Anahi estava meio fria, mas ele preferia acreditar que era por causa do clima. Ela aceitou o carinho, sentindo certo conforto com aquele afago tão doce.

— Você tem razão. Estive pensando em como podemos fazer isso. Se contamos em separado ou se reunimos todos de uma vez para falar. Não quero fazer disso um clima de funeral, mas é que ficar repetindo essa história para cada um vai me fazer mal.

À Travers Le MiroirWhere stories live. Discover now