Prólogo

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A senhora franziu o cenho, olhando-me de cima abaixo, analisando minhas roupas e meu rosto, em uma tentativa de perscrutar algo nos meus olhos. Estava em busca de um novo emprego, mas sem currículo algum, as pessoas nem mesmo me permitiam fazer uma entrevista. Eu não podia simplesmente chegar e dizer: "Olá, meu nome é Hwa Young, eu trabalhava na maior máfia de Gangnam, era uma das melhores operantes, modéstia à parte". O que elas diriam?

— Hwa Young, você quer trabalhar na minha floricultura? - perguntou a senhora.

Abri um largo sorriso e assenti com a cabeça. A senhora da floricultura me conhecia apenas superficialmente por morarmos na mesma região, mas ela sabia que eu só pediria o emprego se fosse absolutamente necessário. No entanto, eu não estava acostumada a agir conforme as expectativas dos outros, então demorou bastante tempo para que a senhora Chang percebesse que cometera um erro ao me contratar.

— Como assim não gostou do cheiro das flores? Você também não me cheira muito bem, e ninguém fica reclamando.

— Está comprando flores para dar de presente para sua namorada ou para um velório? Que mau gosto!

— Se o senhor der mais uma dessas cantadas, os espinhos dessa rosa vão parar num lugar do seu corpo que você nem mesmo imagina.

Digamos que ela não tenha compreendido muito bem a forma como me comunico com os clientes; ela disse que eu não era "amorosa" o suficiente.

— Está demitida, Hwa Young.

Assim, minha primeira tentativa de mudança de vida deu errado. Mas por que saí da máfia? Por que alguém deixaria de trabalhar em algo tão perigoso para se dedicar a uma floricultura? Tudo começou dois dias atrás.

— Uma Semana Antes


"As mulheres que lutem por si mesmas".

Minha mãe costumava me dizer isso quando eu estava na pré-adolescência. Ela parecia uma mulher tão sábia e centrada, mas mesmo assim se rendeu ao primeiro milionário que lhe ofereceu uma vida confortável em troca de seu orgulho e dignidade.

Mas minha vida não é assim. Depois que ela se mudou para sei lá onde, tive que lutar por mim mesma, como ela me ensinou. Mas o universo não me deu muita coisa, na verdade, ele não me deu absolutamente nada. Então, busquei meios alternativos. Não era exatamente o que esperavam de mim, mas não foi como se eu tivesse pedido para estar lá. Não escolhemos o caminho errado, mas quando menos esperamos, ele já tomou conta da nossa vida. Não podemos sair, não podemos falar, não podemos ver ou ouvir; é uma prisão em troca de dinheiro sujo.

Estou nesse trabalho desde que precisei assumir as despesas que minha família deixou para trás - agiotas, contas e impostos. A máfia também me classifica de acordo com meu nível de lealdade, mas isso não impede que me matem se eu não for suficientemente boa. Por isso, sempre optei por não me envolver com ninguém, apenas sigo e faço o que eles pedem, sem questionar os motivos de suas ações. Mas há coisas que simplesmente chegam ao nosso conhecimento. Em Gangnam, duas máfias poderosas atuam, e eu trabalho para uma delas, liderada por um homem chamado Juliano. Os operantes costumam dizer que ele é um homem de sangue frio, já tirou inúmeras vidas, inclusive de seus próprios comparsas. Sua família é extremamente perigosa, e nem mesmo a polícia acredita que vale a pena tentar detê-los. Em casos de denúncias, eles simplesmente arquivam e ignoram as evidências.

Mas quem se importa com o que esse Juliano faz ou deixou de fazer? Afinal, são apenas seus subordinados que se preocupam com ele. Eu me contento em cuidar apenas de mim e da minha vida, fazendo o meu trabalho - o que também é a minha forma de dizer que não me considero subordinada a ele. E era exatamente isso que eu estava fazendo no hotel mais luxuoso da cidade, onde uma operação discreta estava em andamento. Os homens precisavam transportar a mercadoria pela cozinha do hotel, em caixas de madeira, disfarçadas como verduras e alimentos. O cozinheiro era um informante e, mediante um alto suborno, aceitou cooperar na operação. Eu precisava apenas garantir que tudo corresse bem até que a mercadoria fosse completamente transferida para o caminhão do lado de fora. Por cima da minha roupa preta, vesti uma jaqueta de segurança e me posicionei próximo à porta do elevador. Foi então que escutei um ruído no meu ponto de ouvido.

Another LifeWhere stories live. Discover now