A era de Neon

Capítulo 3 - O botânico

Aos poucos, uma antiga cidade com prédios tomados pela vegetação surgiu; gigantes de concreto, trepadeiras e frutos desconhecidos trançados em vigas. As antigas ruas, tornaram-se parte da floresta, repletas de árvores e lagos isolados.

Code se orgulhava em ter escolhido aquela região como base. A falta de iluminação elétrica na área externa não chamava muito a atenção, deixando livre os espaços internos de qualquer construção para as pesquisas e criações tecnológicas. Ela e os outros já tinham limpado boa parte da toxicidade, pesquisado, mas ainda havia muitos perigos naquela cidade e áreas não exploradas.

— Sabe, Adam, houve um tempo que o multiverso mantinha-se em segredo — contou ela, olhando brevemente para o resgatado ao lado. Ele prestava atenção ao que ela dizia, apesar de curioso com o mundo que se mostrava fora do balão. — Nós, de uma dimensão chamada Dreamare, cuidávamos dos sonhos, tecnologia, direções e estações desse mundo. Houve um ponto onde tudo ficou crítico, a guerra. Mas, o que nos fez realmente vir foi o que Neon está fazendo.

— O distrito?

— A tecnologia de tanques. Isso não é de vocês, têm alguém extradimensional dando um empurrãozinho na destruição da Terra e isso se tornou um problema para se resolver presencialmente.

— E chegamos ao ninho — anunciou Batista e balançou os ombros em um comemorar quase dançado.

Adam e Code viraram-se no cesto e depararam-se com a visão de uma área limpa, provavelmente uma antiga fazenda, onde um casarão se mostrava ao centro. Apesar das árvores, era mais aberto e o movimento de pessoas pequeninas já podia ser observado. Na cobertura da larga construção a qual se aproximavam, havia uma base de pouso para helicópteros. Um jovem de cabelos pretos e lisos balançava dois sinalizadores de luz vermelha, e era visto mais pelo movimento amplo dos braços do que o brilho dos objetos; o sol ainda não se escondera completamente no horizonte, o que fazia a claridade do fim de tarde atrapalhar um pouco.

Adam curvou-se levemente na base do cesto para observá-lo descer sobre um círculo vermelho, feito com tinta desgastada sobre o concreto. Sentiu a cabeça girar e deu um passo para trás, quase esbarrando em Batista.

— Oh, céus — murmurou ele, cobrindo o rosto com as mãos para bloquear a iluminação e recuperar o equilíbrio. Ouviu os passos de Batista e a Doutora descendo do balão, além de conversas e cumprimentos que pareceram distantes por um momento. Quando liberou novamente a visão, estavam todos calados diante dele do lado de fora do transporte. — Não estou acostumado com tantas expressões faciais, movimentos, pessoas... É como se eu acordasse de um longo sono.

Code soprou o ar em um leve rir e abriu espaço para ele sair do balão. O rapaz que antes sinalizava a descida ajudou-o segurando-lhe a mão em apoio. A sensação de pisar em terra firme novamente era um alívio.

— Kevin, por favor, apresente a base e o necessário para Adam — pediu a Doutora. —Atualizarei Aion na sala de comunicação. E, Russel, vê se seu marido tem algo natural para acalmar a mente dele. Ainda está com reflexos dos choques.

— Pode deixar! — O jovem concordou, e acenou tocando brevemente a testa com o indicador ao vê-la sair com o condutor do balão; Code entrou em uma das portas que levava à diferentes lugares do casarão. — Então, vamos nessa?

— Eu tenho uma pergunta... — disse Adam, enquanto olhava ao redor e puxava as mangas curtas do macacão sobre os pulsos descobertos. — Como todos nos entendemos, já que somos de distritos e lugares diferentes unidos aqui?

— Percepção mental só sua, eu estou falando francês e você entende na sua língua — respondeu Kevin e encolheu os ombros. Conteve o riso por alguns segundos, até não aguentar e dar uma leve risada balançando a cabeça negativamente. — Brincadeira, cara! Na verdade, Neon lançou o satélite Babel há vinte anos, que envia ondas em inúmeras línguas e faz com que a maioria se entenda. Não são todas as linguagens, apenas as que ele considerava em maior potência. Controle, sempre visando controle.