Capítulo III: O Último Adeus

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O ocorrido no final daquela tarde permanece na mente de Namjoon. As notas agudas ressoaram para dentro de seu coração abatido e amenizaram as feridas não cicatrizadas, como uma compressa umedecida de remédio para a dor. Ainda se recorda da expressão focada e emotiva de seu vizinho na sacada estreita. Foi uma apresentação grandiosa demais para um local tão pequeno, contudo, fora para ele. Pôde sentir na maneira como o outro direcionou a sonoridade das cordas para Namjoon. E, certamente, o professor sequer pensou em desviar daquilo que trouxe um pouco de calor para seu peito.

Com o cessar da música, o vizinho se curvou elegante e formal ao som das palmas exageradas do espectador. Ele se virou, adentrando em seu apartamento, sem esperar outra reação de Namjoon que, no momento, estava muito sensibilizado para esboçar algo além de aplausos e ameaças de lágrimas. Porém, gostaria de ter agradecido; de, ao menos, ter perguntado seu nome. Moram de frente para o outro e sabe tão pouco sobre o musicista que se deu ao trabalho de ajudá-lo nesse momento difícil. As cortinas invisíveis, fechadas com o fim do espetáculo de outrora, permanecem lá, sobre a janela de um lugar que visualmente vazio e sem vida. Quando estará em casa?

"[...] A sensação de ter recebido um presente sem demonstrar gratidão me consome. Ele sempre foi silencioso e discreto, no entanto, agora que preciso me comunicar, sua falta é sentida. Sei que a senhora também quer agradecê-lo. Aquela música tão serena também te alcançou, assim como ainda está aqui guardada comigo. Não se preocupe e nem me pressione a encontrá-lo o mais rápido possível. Vou fazê-lo a todo custo. E manterei a honra de sua imagem e vida.

Seu filho Namjoon"

Os demais moradores dos prédios possuem um mínimo conhecimento sobre ele. "Está falando do Taehyung? Ah, que rapaz doce." A senhora Bom sorri largo, mas logo suas linhas faciais se curvam para baixo. "É uma pena que mal para em casa. Faz semanas que não o vejo. Sinto falta de seu lindo rosto." A mais velha solta um muxoxo entristecido. E é evidente, ao reunir mais relatos, que todos o consideram mais um fantasma do que um vizinho em carne e osso. Pelo menos, nessa busca, descobriu seu nome. Kim Taehyung.

Namjoon atravessa a porta de entrada da pizzaria e já avista rostos familiares. É sexta à noite, marcou de encontrar seus amigos Yoongi, Jimin e Jungkook. Ele se aproxima da mesa, sendo cumprimentado pelos três. O fotógrafo vira-se rindo para o modelo de cabelo rosa. "Tudinho por sua conta". Jimin bufa. "Droga." O professor olha de um para o outro, sem entender. "O que aconteceu?" Yoongi se arruma no assento, sorrindo de lado. "Ele duvidou que você viria, então apostamos." Namjoon se limita a semicerrar as pálpebras. "Eu não participei disso." Jungkook se defende. A reação gera graça aos demais. Os amigos fazem os pedidos das pizzas com diversos sabores, indo da tradicional margherita a de queijo, de kimchi e de champignon.

"Como está?" Jimin se pronuncia, após bebericar a taça de vinho. Devido a sua profissão, ele é o menos presente no dia a dia do docente. "Estou bem." A resposta sai baixa. "Só é um pouco confuso. O sentimento de estar péssimo sumiu, mas uma força inquieta e estranha torna meus dias menos formosos." O outro assente em compreensão. "O ponto alto foi meu vizinho da frente ter tocado uma bela música para mim." Jimin e Jungkook se espantam. "É, foi lindo." Yoongi relembra mentalmente a cena. "E muito gentil." Pontua Namjoon. "Não acredito que perdi! Queria saber como ele é." O modelo fica inconformado. "Devia ter passado na sua casa naquele dia." Até Jungkook lamenta. Todos riem. "Mas que bom que você recebeu algo surpreendentemente incrível. Consideração de uma pessoa inesperada pode mudar nosso dia." Jimin comenta, sorrindo inspirado. "É verdade. Preciso agradecê-lo assim que o encontrar." Seus amigos concordam, contentes por Namjoon ter tido uma breve alegria em meio a sua fase cinza.

Os quatro homens caminham entre risadas pelas ruas no centro da cidade, suas barrigas cheias de carboidrato e vinho. Três deles estão fazendo o possível para distrair o amigo. Entretanto, algo na parede de um prédio chama sua atenção. Um cartaz de divulgação da próxima apresentação da Orquestra de Seul, e nele uma figura pequena é reconhecida dentre as demais. Kim Taehyung, vestindo terno e tocando violino no estático. Namjoon nem deveria se surpreender. Com sua postura e forma de reproduz encanto através das cordas, é evidente que o outro só poderia fazer parte de uma grande companhia sinfônica. O que também explica o motivo de não conseguir encontrá-lo. Está trabalhando para que a apresentação seja impecável. Já tem um compromisso para a próxima sexta. "Hyung." A voz embargada – da qual não é admitida – de Jungkook chama-o para voltar ao grupo ao qual se afastou momentaneamente.

Beautiful Remains | vmonWhere stories live. Discover now