Quinto capítulo: Socorro.

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—Aí você engatilha aqui. E atira aqui. Tudo o que você precisa é manter a estabilidade das suas mãos. Com o tempo e a prática, você vai fazer isso involuntariamente e perfeitamente, até com uma só mão. —Ele me ensina, atrás de mim, apoiando minhas mãos. Antes de sair e sentar no sofá para responder as mensagens que não param de chegar no celular.
—Miguelito chegou. Está pronta? —Minhas mãos suam frio.
—Estou.
—Certo, vou chamar o Guilherme.
—Quem é Guilherme?
—O motorista.
—A polícia tá em cima. E não só a do Rio de Janeiro. Tem um cara, um delegado, chamam de Galvão. Ele tá em cima dos meus negócios. Não seja pega.
—Galvão? Delgado Galvão?
—Conhece?
—É o meu pai.
—Droga, Isabela. —Ele ruge meu nome, dando um soco na mesa de bilhar. —Você nos colocou na mira da polícia. Como diabos você virou uma prostituta tendo um delegado como pai?
—Já parou para pensar que talvez essa tenha sido a razão? Eu nunca vivi, Otávio. E não me imaginava como traficante, menos ainda trabalhando com o dono do maior cartel do Brasil.
—Teu pai deve ter colocado o Brasil inteiro atrás de ti. Temos que sair do Brasil. —Ele fala, pegando o celular.
—O QUÊ?
—Você tem algo a perder aqui além da vida e da liberdade?
—Não.
—Então vá ao hotel que estava e arrume suas malas, seu passaporte está pronto, e partimos em duas horas.
—Para onde?
—Considerando a margem de erro, é melhor você não saber. Se te pegarem, não terás como me entregar. Mas antes, ainda preciso que miguelito receba a entrega. Guilherme está vindo em outro carro. Um Creta blindado com placa falsificada.Tudo o que precisa fazer é entrar no quarto para dar o pacote ao Miguelito, e então seguir para o hotel que estava para pegar suas coisas. Guilherme chegou, vai.
—Certo.
Saio da sala séria até o carro, entrando e sentando no banco traseiro.
—Isabela, espera! —Otávio vem correndo atrás de mim, se apoiando na janela do carro e estendendo a glock 9mm para  mim. —Você esqueceu isso.
—Mas eu não sei usar!
—É melhor não precisar e ter do que precisar e não ter.
Guilherme arranca. Ao chegar, desço, indo até o quarto, apressada.
Bato na porta, e Miguelito atende, nu.
—Estava te esperando, delícia. —Ele me puxa pelo braço e joga na cama antes de eu ter tempo de falar.
—Miguelito, eu não vim para isso, eu só vim para te entregar o pacote, saia de cima de mim, por favor. —Ele não ouve, parece estar sob efeito de algo, rasga minha roupa e me invade enquanto tento afastá-lo e consigo pegar meu celular, digitando para Otávio.
     "Socorro!"
Miguelito jorra dentro de mim e continua, sem parar, a me encher enquanto luto contra, sem sucesso, já que ele é muito mais forte, e por alguns minutos fico pensando se é isso o que realmente quero, penso se todos serão gentis ou terei que lidar com homens assim novamente e lágrimas escorrem dos meus olhos, no fim, estou sendo mandada da mesma forma que fui. Estou servindo, mas dessa vez, de banco de esperma,  penso em pegar o revólver, mas minha bolsa está no chão e ele me mantém presa na cama. Otávio invade o quarto e imobiliza o homem com uma arma de choque. Jogando-o no chão e correndo até mim.
—Você está bem? Ele te machucou? —Ele me olha, preocupado, e percebe o que aconteceu ao ver minhas roupas rasgadas. —Minha nossa, Isabela, você quer isso mesmo? Você ainda tem escolha.
Só consigo chorar. Ele me enrola no lençol branco do hotel e me leva até o carro nos braços. Deixando mil reais em dinheiro na recepção do hotel para que os danos sejam reparados. Entramos no carro e ele me pôs deitada no banco traseiro.
—Guilherme, segue para o hotel que ela estava.
Ao chegar, Otávio desce, e depois de algum tempo, volta com minhas malas, pondo-as no porta malas.
—Minha casa agora.
Fico quieta, e de olhos fechados, apenas tentando processar tudo. A vergonha e o nojo de mim mesma me fazem chorar mais, soluçar pensando no quanto estava em segurança na casa dos meus pais, busco adrenalina ou destruir minha vida?
O carro para e Otávio desce, vindo até a porta de trás e me tomando nos braços.
—Escuta, adiei a viagem para amanhã, vou te dar tempo para pensar, um quarto só seu para ficar, e as roupas que você quiser. Não vou tocar em você se não me pedir, eu espero que isso te recompense. —Quando ele termina de falar, me põe em uma cama macia e sai do quarto, fechando a porta. O sol se põe, pelo brilho alaranjado que a janela emite, e eu adormeço. Mas durante a noite, me vem imagens daquele homem asqueroso com bafo de vodca adulterada e eu levanto, ofegante e assustada, pegando meu celular, no criado mudo, e vendo que Otávio está online.
   "Durma comigo hoje, por favor"
Envio, nervosa pela resposta.
   "Estou subindo as escadas."
Otávio entra no quarto, fecha a porta e  deita ao meu lado.
—O que você quer? —Ele pergunta.
—Companhia, só isso.
—Não sou boa companhia.
—Não me importo. Pode me abraçar? —Ele hesita por alguns minutos, como se estivesse travando uma luta contra si mesmo. Então se aproxima, e me envolve em seus braços.
—Desculpe, não estou acostumado com contatos corporais além de apertos de mão. —Ele fala, desconcertado.
—Obrigada por me salvar, mais cedo, e desculpa por não ter agradecido antes. —Falo, deixando algumas lágrimas escaparem.
—Isabela, você não precisa disso, não precisa viver uma vida assim.
—Meus pais nunca me aceitariam de volta, fiz besteira, uma besteira enorme e isso é tudo culpa minha. —Ele solta do abraço, fica na minha frente e enxuga minhas lágrimas.
—Não precisa voltar para eles. Você pode ficar.
—Aqui?
—Comigo. Não aqui.
—Você tá me pedindo…
—Não! —A expressão dele muda. —Você entendeu errado. Quero que trabalhe comigo, mas não mais dessa forma. Desiste dessa ideia louca de prostituição. Me deixa te mostrar adrenalina de verdade. Vai poder exercer sua profissão enquanto movimenta muito dinheiro.
—Eu vou. Eu só tô muito machucada para sentir qualquer coisa, mas obrigada, por tudo. —Falo, pondo uma das minhas mãos na perna dele.
—Vamos dormir, Bela, partimos amanhã de manhã. —Meu corpo gela ao ouvi-lo me chamar pelo apelido que meu pai me chamava quando era uma criança, por favor não me faça depender emocionalmente de você, por favor não faça.

AdrenalinaOnde histórias criam vida. Descubra agora