24 - O pior fim de festa

175 14 22
                                    


Poliana foi para o banheiro fugir do escrutínio dos colegas.

Agora, encostada no box do banheiro, parecia uma jogada realmente estúpida sair correndo que nem uma garotinha só porque estava com vergonha. O largo espelho ao seu lado refletia seu estado: olhos vermelhos, cabelo arrepiado. Quem visse podia até dizer que tinha acontecido algo grave. Ela se sentiu muito patética por ter-se deixado abalar tanto por tão pouco.

Essa não foi a primeira vez que ela se viu numa situação assim, julgada por desconhecidos. Ao menos a maioria dos julgamentos que sofria no passado tinha uma base verdadeira. "Boneca de pano", "menina chata", "poli-gralha", todos esses apelidos vinham do lado ruim da sua personalidade efusiva da infância. Ela tinha consciência de que, embora tenha conseguido maravilhosas amizades assim, quando mais nova possuía o hábito de ser muito inconveniente, insistente e desagradável, e estava bem com isso. Entretanto, sua reação ao que aconteceu a fez pensar. Será que ela estava realmente segura sobre quem realmente era? Será que por serem desconhecidas essas pessoas viam o que seus amigos se recusavam a enxergar nela?

Para todos eles ela era a filha de Otto Pendleton, uma menina muito rica e cheia de amigos que tinha muitas chances de adorar chamar atenção.De suas perspectivas, parecia plausível pensar que ela mentiria sobre si mesma apenas para parecer bem aos olhos de todos, uma santa como disseram. Para mostrar-se superior.

A Poliana D'Ávila, a órfã que sorria diante das tragédias, a menina em busca de uma grande família, a amiga que faria qualquer coisa por aqueles que ama... Essa pessoa estava oculta para todos, exceto seus amigos e familiares. Sem querer, eles a envolveram numa bolha protetora nos últimos anos, e nos últimos anos muita coisa mudou.

Aquelas pessoas estariam realmente tão erradas assim? Porque, se toda mentira tem um fundo de verdade, quanto de realidade permeava suas palavras ferinas? Como disse, muito mudou nos últimos anos, é possível que tenha se tornado um pouco mimada e dissimulada mesmo. Ela vivia numa bolha, não teria como adivinhar. Seus amigos e familiares teriam a impedido de notar com toda sua proteção com ela.

Afinal, deveria ser tão inacreditável que ela jamais houvesse beijado? Talvez fosse esquisito no contexto do mundo atual, ok, mas sua palavra valia tão pouco, parecia tão falsa a ponto de decidirem sem a menor dúvida que estaria mentindo? Dissimulando?

Ela bufou desdenhosamente. 

Sempre se achou uma menina bem resolvida em relação à própria personalidade e as próprias escolhas, mas esses últimos desenvolvimentos revelaram o contrário. Aqui estava ela, conjecturando e encontrando motivos para duvidar de si mesma.

Ela se repreendeu por estar chorando por uma coisa tão boba.

Não foi nada tão ruim assim, para de drama!  Pensou enxugando as lágrimas com força, apenas para que mais caíssem, lavando o pouco rímel que ainda restava em seus olhos. Estava convencida de que toda essa reação não passava de exagero. Já lidara com coisas muito piores, pelo amor de Deus! Todo esse abalo era sem sentido e desproporcional.

Uma batida na porta a fez parar.

— Poliana.

João. A voz era inconfundível. Mas ela ainda não saiu de sua posição congelada, vergonha dominando suas ações.

— Abre a porta para mim, bichinha. — ela ainda não se moveu por algum tempo. — Por favor.

Ele não precisou pedir de novo.

Ela abriu a porta devagar, esperando seu amigo reclamar por ela ser tão dramática, mas isso nunca veio.

Tudo o que havia nas duas orbes castanhas era carinho. Cuidado. Preocupação. Reconhecer isso foi o suficiente para levá-la ao choro novamente. Tão logo desceu a primeira lágrima, João se aproximou, dando-lhe o conforto de seu contato físico. Agora ele tinha duas vezes do seu tamanho, e seu corpo fechava o dela, envolvendo-o como um casulo. Isso a fez suspirar de alívio segundos antes de dizer algo.

Poliana - Sobre crescimento e escolhasWhere stories live. Discover now