CAPÍTULO 05

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CAPÍTULO 05

Helena Dias

Já fazia duas semanas que eu estava trabalhando para Massimo de Leone e até que as coisas estavam indo muito bem, ele era silencioso, gostava do meu serviço e principalmente da minha comida.

No começo, quando aceite trabalhar com ele, tive receio de não dar conta, ou de não gostar do meu novo lar, mas as coisas estavam indo bem.

Eu passava bastante tempo sozinha e isso era algo que me agradava bastante.

Meu trabalho era simples, mas eu gostava de manter tudo organizado, de cozinhar e ver o semblante de aprovação que ele fazia a cada receita nova.

Para mim, era especial ter a aprovação das pessoas que eu servia e o senhor De Leone, parecia gostar das minhas delícias.

A única coisa esquisita foi o meu escândalo por ter visto um rato na cozinha, mas naquela mesma semana ele resolveu o problema e contratou uma empresa para dedetizar a casa.

A convivência com ele estava sendo melhor do que eu imaginava, o problema eram as coisas que ele me fazia sentir.

Sentia seu olhar em mim o tempo todo, mas não sabia se aquilo era real ou alucinação da minha cabeça.

Todo aquele jeito sério despertava minha curiosidade, por isso toda vez que eu limpava seu quarto ou escritório, eu ficava bolando teorias na minha cabeça.

Será que ele saia com alguém ali da cidade ou namorava alguma grã-fina de São Paulo?

Um homem como ele deveria ter vários casos espalhados por aí, pois achava impossível que ele vivesse de luto até na cama.

Eu tinha zero experiencia com homens, mas capturava tantos olhares dele que era impossível não pensar besteira.

Coisas bobas como essas começaram a rondar meus pensamentos, era como se eu quisesse montar um quebra-cabeça e as peças eram situações da vida dele.

Mesmo com todo o serviço que tinha naquela casa, eu ainda arranjava tempo para ficar pensando nele e em como o achava atraente.

Havia tanta beleza naquela aparente melancolia de um viúvo solitário e fechado para o mundo.

Já tinha encontrado algumas fotos de sua falecida esposa pela casa, ela era muito bonita, cabelos negros, na altura dos ombros, rosto de delicado e seu sorriso em todas as fotos era de uma mulher feliz e amada.

O semblante dele também era diferente em todas as imagens. Seu sorriso era lardo, os olhos brilhavam, muito diferente do homem que eu conheci.

Era como se Cicília tivesse levado a alegria dele junto com ela para o túmulo.

Eu nunca tinha perdido ninguém especial, a pessoa mais próxima que eu tinha, era a tia Nair e com a graça de Deus, ela viveria por muitos anos.

Então era difícil imaginar a dor do luto que ele sentia.

No dia anterior eu passei a boa parte da tarde revirando terra e cuidando da minha horta, o problema é que estava caindo uma garoa fina e por isso eu acordei resfriada, febril e com o corpo dolorido.

Senti que iria ficar resfriada e mesmo assim passei uma boa meia- hora na chuva.

O clima em pontes era sempre de sol aberto, já no Sul, chegava a fazer as quatro estações do ano em um dia só.

Mesmo com todos aqueles sintomas, eu me obriguei a pular da cama e preparei o café da manhã.

Sempre tive uma saúde forte, foram poucas as vezes que uma gripe me derrubou, então estava confiante que logo iria melhorar.

— Você está bem?

Massimo perguntou quando me escutou espirrando por três vezes seguidas.

O encarei fungando o nariz e com os olhos ardendo.

Deveria estar horrível, enquanto ele parecia aqueles empresários de capa de revista.

De jeans escuro, camisa preta e blazer da mesma cor por cima. De luto como sempre e mais lindo do que nunca.

Massimo passava grande parte do seu tempo no escritório, que tinha na sede da vinícola, fechando acordos com importadoras e ajudando a administrar os vários negócios da família,

Sei disso, pois sempre o escutava falando com sua avó pelo telefone.

Os dois pareciam muito próximo e tinham conversas longas e diárias, vez ou outra eu escutava alguma coisa e tentava encaixar aquelas informações no quebra-cabeça que estava montando sobre a vida do meu patrão.

— Tomei chuva ontem à tarde e hoje acordei com resfriado — expliquei.

— Vi que estava mexendo na horta, mas não deveria fazer isso na chuva.

— Pois é, mas já fiz um chá, daqui a pouco eu melhoro — falei com a voz anasalada e o rosto pegando fogo.

Ele assentiu e foi para a mesa do café.

Naquele dia eu teria que limpar a academia, salão de festas, e dar uma organizada no resto da casa, mas a cada passo que eu dava parecia que meu corpo implorava para que me sentasse e ficasse jogada em algum canto.

Mesmo assim eu cumpri com as minhas obrigações e tomei várias xicaras de chá, com esperanças de que melhorasse ao menos um pouco.

No fim do dia, quando as coisas estavam em ordem, eu fiz o jantar, servi o senhor de Leone e depois fui lavar a louça.

— Pode ir descansar deixe a louça para lavar amanhã — ele sugeriu ao entrar na cozinha, pois percebeu que eu não estava legal.

— Estou bem, não se preocupe— Falei e voltei a lavar a louça.

Ele me olhou de um jeito estranho, como se não concordasse com a minha teimosia, mas não falou mais nada.

Continuei organizando as coisas, mas a cada minuto que passava eu sentia que meu corpo implorava por descanso.

Lavei a louça o mais rápido que pude, peguei mais uma xicara de chá e fui para o meu quarto.

Estava me sentindo péssima, mas tomei um banho para baixar a temperatura do corpo, coloquei um pijama qualquer e me deitei com esperanças de que acordasse melhor no dia seguinte.

Antes de dormir, senti a cabeça latejando e até pensei em pedir uma aspirina para Massimo, mas depois mudei de ideia. Com sorte eu acordaria melhor e não precisaria incomodá-lo.

Ele já tinha avisado que viajaria no dia seguinte, pois era sexta-feira, então no sábado eu daria um pulinho na cidade e compraria algumas coisas para mim, inclusive remédios para o caso de uma emergência.

Bebi o último gole de chá e tentei dormir, pois teria muito serviço no dia seguinte.

Continua...

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