Melhor reinar no inferno do que servir no céu.
– John Milton, Paraíso Perdido
O Hellfire Rising era um covil de corrupção. Um foco de pecado e escândalo. Aqui corações foram quebrados, sonhos destruídos e fantasias escuras realizadas. Era a coisa mais próxima de uma casa que Lauren Jauregui tinha. Encostou-se à varanda com vista para os dançarinos abaixo e, com um estalo de dedos, segurou um copo de conhaque. Ela tomou um gole lento, saboreando o sabor escuro e forte do álcool.
Dois anos atrás, ela havia deixado para trás a demônia que seu pai esperava que ela fosse e se transformou em um demônio diferente. Lauren, a Estrela da Manhã, a outrora favorecida anjo, a governante do inferno que nunca deixou a escuridão, se foi. Lauren parou de passar a maior parte de seus dias no escuro abismo e no fogo do inferno no reino do mal e do condenado. Ela se tornou Lauren Jauregui. Ela usou seus poderes para criar um mundo que atendesse aos seus próprios desejos, o 'Hellfire Rising,' um clube no centro de Chicago.
Lauren retornava ao abismo, às trevas, somente quando absolutamente necessário para cuidar de seus deveres. Os portões do inferno precisavam ser guardados, ou então eles iriam se quebrar e demônios inundariam o mundo, destruindo-o. Isso não era o que Lauren queria. Ao contrário da opinião popular, ela preferia o reino humano do jeito que era. Lauren não queria vê-lo destruído pelas chamas e deixado na escuridão eterna.
Uma mulher abaixo dela na escada olhou para cima, mostrando-lhe um sorriso abafado em um convite aberto. Lauren levantou seu copo de bebida em saudação, mas ela não estava interessada. Sua mente estava em outros assuntos, a estranha preocupação com pensamentos profundos e incômodos tão diferentes dela que sacudiu as barras da gaiola emocional infernal que ela se sentiu presa naquela noite.
Ela desejou que o inferno pudesse se cuidar sozinho, e isso acontecia... principalmente. O maldito não precisava dela para continuar sofrendo o tempo todo, o que era um alívio. Lauren desprezava o inferno. Mas ela não conseguia evitar completamente o seu trabalho. Ela tinha que tomar cuidado com os demônios perdidos que vagavam pelos caminhos dos mortais, depois os pegava e os destruía. Isso não lhe dava alegria também.
Lauren preferia o plano mortal, observando os humanos tomarem decisões que os colocam no caminho do pecado. Ela amava a linguagem secreta de sorrisos escondidos, olhares sedutores, explorando as mãos enquanto se entregavam aos seus desejos mais sombrios. Ela ansiava pela corrupção, não pelo mal.
– Lauren. – A voz suave e sombria chamou a atenção de Lauren.
Ela ainda estava na beira da varanda no último andar de seu clube que levava ao seu escritório particular. Do ponto relativamente isolado, Lauren podia ver os clientes do clube abaixo dela dançando descontroladamente.
– Sim? – Ela se afastou da neblina esfumaçada do estroboscópio que iluminava o porão abaixo e encarou Niall, um dos seus companheiros anjos caídos.
O homem de cabelos loiros tinha os pálidos olhos azuis, como geleiras congeladas. Eles haviam sido irmãos na brilhante cidade de nuvens, mas agora eles eram irmãos amarrados na escuridão.
– Você me pediu para trazer uma lista dos acordos feitos no cruzamento este mês. – Niall foi até Lauren e estendeu a palma da mão como se fosse apertar sua mão.
Lauren colocou a mão na de Niall e sua cabeça subitamente se encheu com uma enxurrada de imagens. Cem almas, cem ofertas feitas. Ofertas feitas de raiva, ganância e luxúria.
Quão aborrecido e previsível.
Lauren soltou a mão de Niall e suspirou quando se virou para encarar a multidão abaixo. Niall se juntou a ela no corrimão e permaneceu quieto por um momento. Lauren novamente se fixou no sentimento que a assombrou cada vez mais nos últimos anos. Ela não estava contente. Havia um vazio enjoativo que parecia pronto para estrangulá-la, e ela não conseguia se livrar disso. Lauren não era estranha a esse sentimento oco, mas parecia pior ultimamente.
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Devil - Lauren Intersexual
FanfictionAté onde você iria para conseguir o que quer? O que você faria para salvar a vida de um ente querido? Em defesa de Camila, ela só estava alucinando. Sim, um completo sonho. Porque não poderia ser possível que ela tenha se vendido a uma estranha para...