eu vs. o mundo

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"Eu nunca fui livre na minha vida inteira. por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim."

Essa foi a primeira frase que eu grifei no primeiro livro que eu li da Clarice Lispector. Primeiras vezes são legais, você sabe quando elas estão acontecendo. Diferente das últimas vezes que você nunca pode prever, elas aparecem do nada e te assombram pra sempre.

Talvez eu tenha começado meio errado, fez parecer que algo ruim aconteceu. Quer dizer, coisas ruins acontecem o tempo todo e nós nem percebemos. Tipo quando eu vou pro meu café favorito e tem alguém sentado no meu lugar de sempre, ou quando não tem donuts com recheio de baunilha e canela.

Recebi meu boletim essa semana. Fiquei de recuperação em química e física. Tirei 10 em filosofia, sociologia e literatura. Mesmo que essa tenha sido a nota geral da sala por serem consideradas matérias fáceis e menos relevantes eu fiquei feliz. Mas depois fiquei triste de novo por que não posso me deixar levar pelo resultado de um sistema de ensino opressor. Foda-se as notas, por mim pegaria recuperação em todas as matérias, isso não me faria menos inteligente do que ninguém daquela sala.

"como vou verbalizar o consentimento na vida adulta se não me ensinaram na infância"

Estive pensando sobre isso esses tempos. Tem tantas coisas que nossos pais não nos ensinam e que depois nos são cobradas por outras pessoas.
A culpa é da minha mãe por não ter me ensinado? Por não ter dado seu melhor? Quem sabe o que ela me ofereceu foi o seu melhor, apenas não era o suficiente.
Talvez a culpa seja da minha vó, que foi quem criou a minha mãe e a fez ser assim, mas aí a culpa seria da minha bisavó que criou a minha vó para ser daquele jeito.
Por isso não procuro culpados por nada, a vida é minha, eu tomo todas as decisões sobre ela consciente então as consequências também são minha responsabilidade.

"Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração."

Eu gosto muito da minha professora de literatura, é por causa dela que eu quero fazer faculdade disso a propósito, ela as vezes me dá alguns livros bem legais (o que eu falei antes da Clarice foi ela que me deu). A dedicatória era alguma coisa tipo "Para o seu complexo eu maior que o mundo."

Talvez eu projete nela o que eu gostaria que minha mãe fosse comigo, sei lá.

Falei disso com o Louis, ele falou que eu ando lendo muito Freud e eu respondi que ele não tinha muita moral pra me julgar usando uma camiseta escrita "Pink Freud: the dark side of your mom".

Ontem ele me levou pra fazer minha segunda tatuagem (que viraram três), Born to die na minha costela, um laço na parte de trás da minha coxa e a frase Every saint has a past Every sinner has a future na parte da frente. Elas são bem breguinhas, mas eu gosto.

Eu criei um novo hábito de ir pra cafeteria todos os dias ler um pouco enquanto o Louis está ajudando o pai na oficina (apesar dele ficar muito gostoso todo sujo de graxa eu meio que fiquei entediado - e também porque o pai dele me colocava no caixa e eu tenho certeza que entreguei o troco errado para umas cinco pessoas). Espero que esse dure mais que o último. Meu recorde é de 8 dias.

stargirl interludeWhere stories live. Discover now