o efemero adeus

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O amor é um dos sentimentos mais engraçados que existem. Eu vivo para amar eu amo para viver.

Acredito que o amar e o existir são dependentes um do outro, se não há amor não há vida etc, acho que vocês entenderam. Até pouco tempo atrás acreditava que o Louis era o homem dos meus sonhos, mas eu estava errado. O Louis é o Louis, com todos os seus defeitos e problemas, ele não é quem eu imaginei, meu cavaleiro de armadura, mas ele é o Meu Louis e a cada nova coisa que eu descubro sobre ele eu sinto que me apaixono cada vez mais, por que eu estou me apaixonando por uma pessoa real, não uma idealização minha.

Percebi isso quando uma vez perguntei para ele se eu sou quem ele sempre sonhou e ele me respondeu um simples não, me disse que eu era melhor e que nem em seus melhores sonhos imaginaria alguém como eu mas que se fosse para ele ser sincero eu era o completo oposto da pessoa que ele acreditava que faria parte dos porta-retratos de família. Louis ainda disse que é por isso que nosso relacionamento dá tão certo, não somos nossas idealizações, somos muito mais particulares do que isso.

Gostaria de ter uma citação agora que se encaixasse com o que eu acabei de dizer mas nem Clarice Lispector, Fernando Pessoa ou Carlos Drummond conseguiriam transcrever o que eu sinto por Louis.

Porém Manuel Bandeira uma vez escreveu
"Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada."

E com isso ele, um homem debilitado pela pneumonia e com o atestado de óbito pronto desde seus 19 anos, expõe que, mesmo conformado com sua realidade e tentando amar o pouco que a vida ainda poderia lhe oferecer, tinha os sonhos e vontades mais banais de todas, como tomar um banho de mar. Quantas vezes eu já não tomei um banho de mar?

Eu chorei quando tive essa aula com a minha professora, e foi assim que eu percebi que era isso que eu queria fazer pelo resto da minha vida.

Literatura e arte me completam, fazem com que eu me sinta inteiro, preenchem o vazio de algo que o capitalismo coloca na gente. O capitalismo existe no vazio existencial, na perda da identidade - do que faz você ser você. Por isso eu o odeio. Ele desumaniza a raça humana, joga fora todos esses anos de evolução por que o que importa é o que você tem não o que você é, na verdade eles te fazem esquecer que você é alguém, que você tem vontades, ambições e sentimentos, que você tem paixões e é repleto de amor, por que essas são qualidades ruins pois se você as reconhece você entende a injustiça nesse sistema, você entende que você produz para sobreviver mas o que realmente te deixa vivo é o amor. Para Marx o trabalho torna o homem digno, nós nascemos trabalhando, é da natureza do ser humano, mas para o capitalismo isso não é lá muito interessante porque, convenhamos, para que dignidade se eu posso limitar os prazeres e lazeres da vida a um grupo seleto de pessoas para fazer com que eles se sintam especiais enquanto a maioria morre de fome?

Chico Buarque tem um dos textos mais lindos que eu já li. "Minha mãe sempre diz: Não há dor que dure para sempre!
Tudo é vário. Temporário. Efêmero. Nunca somos, sempre estamos! E apesar de saber de tudo isso. Por que algumas dores duram tanto? Por que alguns sentimentos (diga-se de passagem os mais ridículos) demoram tanto a passar? Por que olhar pra ele reaviva esperanças perdidas e suscitas lágrimas quentes até então contidas? Por que o cérebro ainda não inculcou no coração que esquecer faz bem a saúde?". Eu me sinto meio bobo por me deixar ser tocado tão profundamente pelas mesmas 26 letras combinadas de formas diferentes.

Por muito tempo eu me deixei de lado, parei de me cuidar e de me alimentar, passava o dia todo sob efeito de laxantes dorflex e algum sonífero barato que eu encontrasse na farmácia. Mas agora que eu estou me recuperando aprecio demais meus momentos de cuidado, amo cuidar da minha pele, do meu cabelo, me depilar e fazer minhas unhas, muitos dizem que isso é fútil e feminino demais mas eles nunca vão entender o sentimento de se reencontrar com você mesmo, de se cuidar e de se sentir você mesmo de novo.

Eu gostaria de continuar escrevendo, mas sinto que esse ciclo se encerrou. Eu nem sei o que de fato estou escrevendo, um diário? uma coleção de contos? Enfim, isso não faz tanta diferença, o ponto é que tudo que começa precisa terminar em algum momento e na maioria das vezes é muito difícil de enxergar e aceitar que esse fim chegou porque dói. Que injusto a raça humana ser a única capaz de vivenciar esse tipo de angústia sentimental. Mas é o que é. Vai doer, eu sei que vai, assim como eu sei que vai passar do mesmo jeito que todas as outras coisas passaram.

Todo santo tem um passado e todo pecador tem um futuro. Julgar o presente é inútil quando temos a sombra do que fomos e a dúvida do que seremos.

Sou péssimo com despedidas, sinto muito.

stargirl interludeWhere stories live. Discover now