querido diário 01

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Hoje completando meus vinte anos, atrás da mesa do bolo cheia de uma infinidade de doces e enfeites olhando todas aquelas pessoas batendo palmas cantando meus parabéns e comemorando minha volta ao sol, só consigo me sentir vazia.

Mexo os lábios pintados de vermelho, pra algo parecido com um sorriso, passo a mão no vestido tubinho preto colado, tentando desamassa-lo sem nem está de fato amassado. Forço uma cara de menina inocente e feliz para não deixar transparecer o turbilhão que está minha mente.

Comemos o bolo e demos fim aquela palhaçada antes mesmo do que eu esperava, graças a Deus.

Subo para o meu quarto, para terminar minha mala.

- Filha... Já terminou? - diz meu pai dando três batidinhas na porta aberta me olhando com aquela carinha de cachorro com fome que ele faz sempre que faz merda.

Tiro a atenção da mala para responde-lo.

- Sim pai. Não se preocupe, eu vou. Não por você, pela minha mãe. Ela não merece essa decepção.

Ele olha para o chão e vem em minha direção em passos lentos.

- Todo mundo erra, Sophia. E se errei, foi para bancar tudo do bom e do melhor que sempre proporcionei para você e sua mãe. Essa vida boa aí que vocês adoram.

Olho incrédula para ele.

- Não vem jogar a culpa dos seus erros na gente! Minha mãe nunca concordaria com isso. Ela iria preferir morar debaixo da ponte á deixar você se meter com traficantes perigosos arriscando nossas vidas por causa de dinheiro! Você não ver a merda que se meteu, pai?

Ele me olha com raiva e respira fundo antes de me responder.

- Presta atenção do jeito que fala comigo - respira fundo e continua

- Por mim você não iria, Mas eles insistem que seja dessa forma. Estão com medo que eu engane eles ou mande um polícia, sei lá! Você só tem que entregar o dinheiro toda semana e voltar de jato. É uma coisa simples! Tem que fazer esse alarde todo?

Fico olhando perplexa para ele dizendo que eu, fazendo uma viagem toda semana levando uma mala de dinheiro ilegalmente de um estado para o outro, até uma favela para traficantes seja algo simples.

Caramba!

- Deixa eu arrumar minhas coisas em paz. Já basta aguentar todo esse show de falsidades que foi ver todos vocês reunidos. - Digo me referindo a minha família paterna. Eles se odeiam e passam a maior parte do tempo falando mal um do outro.

Ele não diz mais nada apenas me dá as costas e sai do quarto, fechando a porta atrás de si.

Caio na cama tirando os saltos dos pés e fechando os olhos, esfregando as têmporas.

Amanhã vai ser um longo dia.

(...)

Checo minha maquiagem no espelho e dou uma olhada no que visto. Não sabia o que colocar, então optei por uma calça pantalona verde militar e uma camisa branca lisa de manga.

Óculos escuro e bolsa grande preta de alças.

Vou até meu móvel de jóias, puxo a gaveta dos colares e pego um grosso com o pingente da minha inicial s. Anéis e uma argola pequena.

Meu pai e minha mãe me esperavam para tomar café, raramente minha mãe está nas refeições, ela é médica e sempre está no hospital de plantão ou dormindo, é bastante puxado.

Hoje ela está, em especial porque queria se despedir antes que eu saísse de viagem " com uma amiga".

Meu pai, é o dono de uma grande empresa de mármores, granitos e pedras. Atende a um mercado de luxo e é bastante conhecido no meio dos famosos. O queridinho das mansões das estrelas. E eu sou a futura herdeira dessa empresa.

Do Asfalto Pra Favela Where stories live. Discover now