CAPÍTULO CINCO 🍁

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Os gêmeos chegaram por volta das quatro da tarde naquela terça-feira. Liam desceu primeiro da carruagem, apreciando o casarão de pedra, e Victoria logo em seguida, como se nada naquela cidade fosse interessante.

- Prima! - Berrou Liam, olhando para a mais velha, que estava parada na porta, como se ela fosse um ser angelical - Seus olhos estão mais verdes do que da última vez que a vi.

Margot sorriu. Havia passado alguns dias com eles no ano interior, e considerou a memória do garotinho admirável, visto que havia gravado até mesmo a cor de seus olhos.

- Isso é bom? - Indagou, ainda risonha.

- Claro que sim! - Ele inclinou a cabeça levemente para o lado, como se a resposta fosse óbvia. Então, deu de ombros e abriu um sorriso largo - Eu adoro verde, é uma cor muito bonita.

Antes que ela pudesse responder, Victoria se aproximou, com o nariz empinado.

- Podemos entrar para comer alguma coisa? Estou morrendo de fome! - Ela disse, enfatizando o verbo morrer. Era algo típico seu, inserir um bom tom de drama em suas frases para terem mais efeito.

- Oh, sim. Venham, vou pedir que levem suas coisas para o quarto.

Por conhecerem a propriedade, os gêmeos seguiram para a sala de estar informal antes mesmo de Margot. Liam parou vez ou outra para admirar alguns quadros que estavam pendurados na parede, enquanto Victoria parecia não fazer nada além de contar quantos passos daria até chegar no cômodo. Ao se acomodarem nos sofás e a jovem Lynth pedir ao mordomo que servisse comida para eles, a pequena garotinha franziu a testa ao perguntar:

- Onda está a tia Martha?

Margot também franziu a testa. Sua tia havia ido ao chapeleiro, o que fazia com bastante frequência... Naquele momento, percebeu que as idas semanais haviam se tornado desnecessárias e suspeitas. Uma mulher não precisava de tantos chapéus novos! Não quando se tinha um armário repleto deles, como o que havia no segundo andar da Casa Lynth.

Margot pigarreou.

- Foi ao chapeleiro.

Por sorte, Victoria não comentou mais nada. Ao menos não sobre o mesmo assunto.

- Terça-feira me parece um dia qualquer. Gosto das quartas, elas ficam bem no meio da semana - Disse.

Liam concordou.

- Gosto dos sábados, no entanto, prefiro as sextas.

Victoria o encarou e estreitou os olhos para ele.

- Você diz que prefere as sextas porque a mamãe prepara o jantar de Shabat e você come todo o pão que sobra após a ceia!

Ele deu de ombros.

- Eu espero todos comerem primeiro, e a mamãe me permite comer o restante.

Agora a irmã que deu de ombros.
Margot olhou para os dois, tentando acompanhar o curioso diálogo que se estendia sem pausa. Sabia que as duas crianças eram tagarelas natas, mas a cada vez que os via, pareciam ainda mais falantes. Que Deus a ajudasse.

Ela gostava de conversar. Oh, é claro que sim. A melhor amiga, Thalya, sempre tinha algo a dizer, e Margot sempre a ouvia sem qualquer sinal de impaciência. No entanto, não podia negar que preferia o silêncio em certas ocasiões. A calmaria, mansidão e a paz que o barulho não podia oferecer.

Gostava de privacidade, de ouvir o som das folhas balançando e se chocando umas nas outras quando o vento as tocava, a própria respiração sincronizando com as batidas do coração, e até mesmo do som da chuva caindo. Ela apreciava os pequenos detalhes, e era amante da natureza. Era dona de uma personalidade calma, serena, mas ao mesmo tempo carregava um espírito livre em seu interior.

Margot Lynth possuía um universo de pequenos detalhes dentro de si, e sorte daquele que conseguia acessá-lo.

- Aquele cachorro não era vermelho, Liam! Quantas vezes vou ter que lhe dizer isso? Era laranja!

A jovem foi tirada de seus devaneios com o berro da mais nova, o que causou uma grande confusão em sua mente. Pois, perdida em pensamentos, não percebeu quando os dois mudaram de assunto. Como era possível que de jantar de Shabat eles chegaram em cachorro vermelho? Bem, era melhor deixar a conversa maluca prosseguir do que tentar entender. Nesse instante, o mordomo entrou com uma enorme bandeja repleta de petiscos. Liam deu um salto do sofá.

- Eba! Eu adoro queijo!

🍁

Naquela noite, enquanto todos dormiam, Margot encarava o próprio reflexo no espelho sentada na beirada de sua cama. A luz tremeluzente das velas deixou o quarto com um um ar ainda mais meditativo e silencioso.

Seu cabelo dourado estava preso em uma trança despojada, a qual descia delicadamente até o busto. Os olhos brilhavam como duas esmeraldas, recebendo um destaque encantador em meio à pele clara. Sua camisola era branca e simples, sem nenhuma renda ou estampa. Ela deu um suspiro.

Nunca fora egocêntrica ou tivera qualquer sentimento de superioridade, mas era honesta ao reconhecer que possuía uma beleza cativante, a qual muitas mulheres da alta sociedade desejariam ter e, mesmo assim, conseguiam um bom casamento, enquanto ela permanecia solteira.

Seu problema não era a aparência.
Nem sua condição financeira.
Ou o modo de se portar.
Martha era rica e tinha uma boa influência, e Margot sempre fora uma moça muito educada.

Sua família era a grande questão. Os homens não poderiam pedir a mão dela em casamento para o futuro sogro, porque ela simplesmente não tinha um pai presente ou sequer um responsável do sexo masculino. Isso era algo que não estava sob seu controle, pois a decisão de ser deixada na porta da casa de Martha Lynth quando era apenas um bebê não havia partido dela. No entanto, era ela que carregava esse fardo e sofria as consequências. Injusto, não?

Passou a mão pela coberta macia, tentando afastar o sentimento autodepreciativo que sempre a invadia ao pensar no seu passado. Se quisesse mudar sua vida, não adiantava apenas lamentar a situação, precisava fazer algo a respeito. E, partindo desse pressuposto, decidiu que iria se casar.

Ela sempre frequentava bailes e os outros eventos da alta sociedade, não seria uma grande mudança em sua rotina. No entanto, teria que dançar com mais cavalheiros, permitir que eles a conhecessem melhor e dar a entender que estava procurando por um marido - sem parecer atirada, é claro.

Ela franziu a testa.
Caso algum pretendente escolhesse avançar para o próximo nível, teria que amá-la o bastante - ou apenas ter afeto suficiente - para não abrir mão do compromisso pelo fato de ela não ter o padrão de família ideal. Isso não seria impossível, seria?

Para sua sorte - ou infelicidade -, os Klent dariam um baile na noite seguinte, e ela estava certa de que haveria no mínimo cinquenta cavalheiros solteiros presentes no local.

Após pensar e pensar, cansou de refletir sobre as possibilidades e improbabilidades de sua vida, fazendo sua breve oração noturna e deitando logo em seguida para descansar.

Esperava que o dia seguinte fosse uma chance para construir seu futuro feliz, e não uma oportunidade de a vida jogar em sua cara que ela não era como as outras damas.

Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2Where stories live. Discover now