PARTE UM

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A CHAMADA

Sanford, Flórida, EUA.

04 de Abril de 2001.


Eram quase 04h00min da manhã quando o celular do Inspetor Clark tocou. Do outro lado da linha, seu supervisor, o Comandante Marshall, informou que havia ocorrido um crime bárbaro durante a madrugada e solicitou que Clark se deslocasse ao local imediatamente. Sua esposa se virou na cama, pois já sabia que ele a deixaria mais uma vez sozinha. Depois que ele assumiu as investigações da Divisão de Homicídios, eles quase não tinham mais vida. Ou ele estava nas ruas investigando algum assassinato ou no escritório fazendo interrogatórios e juntando provas. E quando estava em casa, na maioria das vezes era como se não estivesse. Quem mais sofria era o pequeno Richard, o filho do casal de apenas quatro anos. O menino sentia muito a falta do pai. E essa tristeza do pequeno arrebentava Clark por dentro.

Clark ainda tentou negociar com seu supervisor:

— Ah chefe, não dá para mandar o Oficial Martinez e pela manhã, quando eu chegar ao Departamento, ele me põe a par dos detalhes do crime? — questionou Clark que queria muito ter o sono pesado e não ouvir seu celular tocar.

Martinez era o oficial mais novo do departamento, mas que já demonstrava ter uma grande capacidade técnica e "estomacal" para o trabalho. O Comandante Marshall respondeu:

— Eu até ia fazer isso, porém os policiais que encontraram o corpo informaram que seu nome estava escrito no peito da vítima com sangue. Acho mais prudente que você mesmo faça a averiguação inicial dos fatos. — disse em tom firme.

Neste momento, o Inspetor travou, seu corpo se arrepiou e ele ficou mudo por alguns instantes. Com a voz rouca e embargada, ele respondeu ao Comandante Marshall:

— Pode deixar Sr. Já estou me deslocando para o local.

Marshall respondeu:

— Ok, Clark, já estou enviando a localização do crime por mensagem.

— Obrigado Sr. — respondeu ele já se levantando da cama e indo em direção ao banheiro para se vestir.

— Quando sair, não se esqueça de levar o lixo John. — falou Beth, sua esposa e uma das únicas pessoas no mundo a chamá-lo de John.

— Pode deixar amor, me desculpe se te acordei.

— Tudo bem John, já estou acostumada. Você acha que consegue voltar para o nosso jantar em família? Richard está ansioso para te mostrar o desenho dele.

— Farei o possível, mas pelo que o Comandante falou o caso é sério. — disse enquanto terminava de amarrar o cadarço do seu sapato.

— Todos sempre são John, seu filho sente sua falta. Ele está crescendo rápido, o tempo não volta. — disse Beth em voz de desânimo, e Clark sabia que ela estava certa, mas o que poderia fazer? Precisava trabalhar para pagar as contas no final do mês.

— Eu sei, eu tenho me esforçado o máximo que posso para dar o melhor para ele e para você também. Você sabe que não é fácil para mim também, sair de casa de madrugada para ir ver gente morta, sem saber se voltarei para casa no final do dia.

— O melhor que seu filho precisa é a presença do pai. Tudo bem John, vai fazer o seu trabalho, estaremos aqui quando voltar.

Clark fica chateado, pensa em chegar perto da esposa e lhe dar um beijo antes de sair, mas nota que ela já virou para o outro lado indicando para ele que a conversa acabou. Assim Clark sai do quarto, tentando não fazer barulho para que o pequeno Richard não acorde. Passa pela cozinha, pega uma maçã em cima da bancada e sai pela porta dos fundos.

THE BODY - A delegada e o herdeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora