Capítulo 3

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Aisha estava deitada, presa em um sono leve e inconstante.

Ela se remexeu, com a testa franzida, desejando se virar. Foi quando sentiu o repuxar da algema em seus pés. O toque frio lhe acordou e a jovem suspirou, cansada. Ela olhou pela janela e viu que o dia ainda nem começara. O céu estava escuro.

Aisha se ergueu do jeito que conseguiu e olhou para os pés descalços. Um dos seus tornozelos estava envolto por uma corrente de ferro pesada, presa numa alça da enorme cama. Ela se levantou, tentando ir em direção à porta, porém foi parada pela extensão da corrente, que tinha apenas alguns metros, o que dava liberdade para Aisha dormir bem e caminhar um pouco, porém impedia que ela transitasse livremente pelo quarto.

A jovem voltou para a cama e se deitou novamente, tentando dormir, mas seu cérebro não parava.

Já fazia dias que ela fora separada de Timotthe e desde então, ela vivia naquele quarto. Aisha sabia que estava no palácio imperial, mas mesmo estando ali, não tinha liberdade. Pinoua  havia trancado-a naquele quarto e ela só saía quando a mulher queria lhe fazer algumas perguntas.

Os hematomas que nunca sumiam e as dores espalhadas pelo corpo de Aisha provavam a frequência com que Pinoua tinha perguntas para ela.

A jovem ficou olhando o nada, até ouvir a batida na sua porta. Ela não respondeu, mas uma criada entrou mesmo assim, fazendo uma reverência.

- Senhorita. - disse a criada. - Trouxe seu desjejum.

Aisha não respondeu, virada de costas para a entrada do quarto, mas ouviu a criada andar até a pequena mesa que tinha no quarto e deixar a bandeja de comida ali. Após isso, a moça foi embora, trancando a porta assim que saiu.

Aisha estava acostumada com isso. Todo dia, nos mesmos horários, aquela criada vinha lhe trazer comida. Desjejum, almoço e o jantar. Não faltando um único dia sequer e a mulher nunca mudava. Porém, mesmo sentindo o estômago roncar, a jovem não se levantou da cama.

Ela já havia tentado fugir inúmeras vezes. Tantas que agora sua algema quase não dava espaço entre o ferro e o pé, de forma que não importava se Aisha quebrasse o próprio pé, ela não conseguiria tirar. Mas as tentativas não foram em vão. Agora, ela sabia que havia um guarda na porta de seu quarto, além de mais alguns debaixo da sua varanda. Todos à postos para interceptá-la.

Aisha se levantou da cama quando o quarto clareou o suficiente. A comida já estava fria, mas ela comeu mesmo assim, sabendo que se quisesse escapar em algum momento, precisaria de forças.

Ela encarou a comida. O prato e o copo eram de metal, perfeitamente arredondados para não servirem de arma. Além disso, Aisha nunca recebia facas ou garfos. O único talher que permitiam ela usar eram colheres. Talvez temessem que ela roubasse para tentar tirar a algema ou atacar alguém.

Aisha pensou em fazer isso inúmeras vezes, mas não queria dar mais motivos para restringirem seus movimentos mais ainda.

Observou o quarto, reparando em todas as modificações. Os cantos das mesas e cadeiras foram lixados para ficarem redondos, além de todos os objetos pontudos terem sido retirados. Mal eles sabiam que Aisha poderia pegar uma daquelas mesas e cadeiras e bater em alguém como se fosse um porrete, ou talvez quebrar uma delas e transformar as lascas em armas.

Mas de que adiantaria ela sair daquele quarto se seria capturada nos corredores?

Aisha estava isolada, mas o quarto onde a colocaram era perto o suficiente do meio do palácio. Então se ela ficasse em silêncio, poderia ouvir as vozes e passos ao seu redor. Sabia que a cada duas horas, os guardas eram mudados e criados frequentemente passavam em frente à porta do seu quarto. Talvez ela estivesse em algum lugar perto da cozinha.

Aisha - A Noiva do LordeOnde histórias criam vida. Descubra agora