32- Back.

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Amanheci com Emma deitada em meu peito, seu sono era tranquilo como quem havia finalmente conseguido ter uma noite de descanso, o peito apertou um pouco por lembrar que era dia de encarar a realidade de perto. O dia anterior foi quase um sonho, desses que não se quer acordar, mas foi preciso.

Abracei seu corpo molinho pelo cansaço e deixei beijos delicados em seu ombro, subindo pelo pescoço até cessar em sua boca.

– Bom dia. – Ela falou manhosa pela preguiça.
– Bom dia, meu bem.– Estava com meu corpo repousando por cima do dela, me aninhou em seus braços e acabamos compartilhando o calor de ambos corpos despidos.
– Não quero sair dessa bolha, Regina.
– Tudo bem. Podemos ficar aqui quietinhas e quando alguém procurar por nós, ficamos em silêncio e fingimos que não existimos mais. Ok?
– Perfeito.– Ela inclinou um pouco o rosto para me beijar e acabamos rindo juntas.
Ficamos um tempo em silêncio, ela se manteve me admirando de pertinho, a expressão séria tomou sua feição por um tempo.
– Quero que saiba que a minha intenção não era te pressionar. Eu nunca faria isso. Apenas percebi um brecha e considerei ser o momento certo para te dizer que nunca te esqueci.
– Não me senti pressionada. E o sentimento é recíproco. – Entrelacei meus dedos aos dela.
– Agora precisamos reunir as crianças, arrumar nossas coisas e partir, a viagem de volta é longa.
– Nada disso! Você me fez uma promessa. Hoje nós não existimos.
– Emma.– Segurei a risada e tentei me afastar.
Ela empurrou meu corpo contra o colchão outra vez e segurou minhas mãos contra o travesseiro macio, ficando por cima e me encarando de perto, enquanto sua cachoeira dourada caia para o lado. Emma era de um imenso esplendor.

Ainda era cedo, passamos mais algumas horas trocando carícias na cama antes de levantar para encarar a realidade. A loira deixou o quarto com cautela para não ser notada e eu permaneci na cama tentando entender o turbilhão de acontecimentos que rendeu nessa viagem. Ajeitamos nossas coisas e posicionamos dentro da van, optei por reunir as crianças para almoçar antes de voltarmos e assim foi feito, já era fim de tarde quando embarcamos de volta para casa. A van foi deixando cada criança em sua residência e nesse meio tempo estava sempre parando para agradecer pessoalmente cada mãe pela confiança. Por fim, chegamos em minha casa e desci com Henry, acompanhado de Emma. Estava com as malas presas no braço quando segui em direção à portaria e antes que pudesse entrar, notei a presença da mulher que estava encostada em seu carro de luxo, trajada com um terno preto e com a pose mais marrenta que já vi na vida.

– Com licença.– Falei para meu filho e a para minha ex esposa, informando que eles tinham permissão para subir e eu seguiria logo depois.
Larguei as malas na entrada e caminhei até a loira que admirava todos os meus passos. – Indrid! Tudo bem?– Me aproximei.
– Tudo perfeitamente bem agora.– Ela tocou minha cintura com ambas as mãos e me puxou para depositar um beijo em minha bochecha.
– Não esperava sua visita.
– Eu imaginei que não. Ruby me avisou que chegaria por agora e decidi te fazer uma surpresa. Está feliz?
– Claro! É sempre de uma imensa felicidade te reencontrar.
– Pensei em te levar para jantar. O que acha?– Ela me abraçou, prendeu meu corpo entre seus braços e ficou admirando meus lábios de perto.

Ingrid era uma mulher maravilhosa. Tinha pose galanteadora, era bonita, malhada, usava perfume de quem não valia um centavo, típico perfume que faria qualquer mulher lésbica ir à loucura e eu tinha tudo aquilo entregue para mim. Tinha aquele desejo de consumo de qualquer um na palma da minha mão. E mesmo com tudo isso, minha mente só conseguia resgatar a imagem de Emma deitada nua em minha cama, enquanto a alvorada coloria seu corpo como um quadro pintado pelas mãos de Van Gogh.
Senti saudade daquelas mãos, senti saudade daquele cheiro doce de quem possuía uma alma jovem, senti saudade do beijo...

– Eu não posso. Infelizmente tenho que desfazer as minhas malas e as de Henry. Foi uma viagem cansativa. – Levei minhas mãos até as dela e me soltei do abraço sutilmente.
– Tudo bem. Podemos marcar para outro dia?
– Claro. Você tem meu número.
Larguei ela e corri para casa, subi os degraus como se não existisse chance de queda. Tudo isso para ver ela outra vez.
— Vamos.– Esbarrei com Emma saindo do apartamento.
– Onde vão?– Perguntei totalmente confusa.
– Vou dormir com a mamãe Emma.– Ambos estavam com uma expressão séria no rosto.
– Aconteceu alguma coisa?– Ninguém me respondeu.

Eles partiram e não demorou muito para eu entender que era ciúmes.

Aceitei a situação, arrumei minhas coisas e as do meu filho, me preparei um banho longo e demorado e só depois me deitei para dormir. Depois de ter passado uma noite inteira aos braços da minha ex mulher, estar sozinha carregava o peso gigantesco do vazio dentro de mim. Virei de um lado para o outro e não sentia nadinha de sono, já era madrugada quando peguei meu celular e disquei o número dela, chamou entre três ou quatro vezes antes dela atender e eu perder a coragem. Eu não sabia o que queria falar, por esse motivo desliguei. Não demorou muito para ela retornar a ligação.

– Regina? Está tudo bem?– A voz do outro lado estava sonolenta.
– Desculpa. Eu só queria saber se o Henry está bem.
– Ele está dormindo agora. – A ligação ficou um tempo em absoluto silêncio. – Foi só por isso que você ligou?
– Acho que sim. – Pensei melhor. – Não, Emma, acho que estou disposta a tentar.
– Tentar ficar comigo?
– Isso, acho que pode dar certo.
– Sua incerteza se chama Ingrid?
– O quê? Claro que não.
– Regina...– O barulho do outro lado da linha me fez acreditar que ela estava se sentando na cama. – Eu sou completamente apaixonada por você, nunca escondi isso de você e nem de ninguém. Mas sinto que tem muito achismo nessa ligação. Quando você deixar de achar e passar a ter certeza, por favor, não hesite em me dizer.

Ela desligou e eu fui obrigada dormir com o peso de suas palavras ecoando em minha cabeça. Eu tinha estragado tudo e não sabia como concertar.

M̶Y̶ ̶M̶Y̶̶S̶T̶E̶R̶Y̶̶.Where stories live. Discover now