36 - Welcome to my house.

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Chegou aos nossos ouvidos que a vizinhança estava planejando nos visitar e prestar apoio a nossa nova fase com a Soph em casa. Aproveitamos a ocasião para fazer uma recepção adequada dos nossos vizinhos, primeiro porque a nossa vida sempre foi muito corrida e de todos os moradores do condomínio, éramos as que menos participavam dos eventos e reuniões. Segundo porque o assistente social voltaria para fazer entrevista com as pessoas que moravam por ali, então achamos viável que eles tivessem uma boa imagem do nosso papel de mãe. A verdade é que grande parte das moradoras do condomínio espalhavam fofocas sobre a nossa vida. Éramos o único casal homoafetivo daquele lugar e ainda existia toda aquela história de eu ser a filha de Cora Mills, aquela que foi traída pelo marido no dia do casamento e apareceu meses depois casada com uma mulher.

Era um bom condomínio. As casas eram magníficas. Tinha área de lazer para as crianças e a segurança era excepcional. Acontece que todas as qualidades não anulam os defeitos. Estávamos rodeadas de famílias conservadoras que adoravam falar da nossa vida pelas costas e se fazer de bons vizinhos ao nos encontrar na rua. Emma e eu sempre fomos muito reservadas morando ali, nunca abrimos brechas para discussões e sempre tratamos todos da melhor forma possível, por isso agora eles queriam nos compensar.

— Eu trouxe um bolo de pistache.
— Muito obrigada, Sabine.— Emma apanhou o bolo e aguardou até que a vizinha e seu marido entrassem. Caminhou com o bolo em direção à cozinha e voltou pouco depois.
— Regina já vai descer, está apenas terminando de trocar a pequena. — Esboçou um sorriso gentil. — Mas fique à vontade, por favor. Os Gauthier estão lá fora na área da piscina, se quiser se juntar a eles.
— Obrigada, Emma, você é muito gentil.

Terminei de colocar a fralda em Soph e ajeitei o vestido em seu pequeno corpo. Ela estava adorável. Aninhei ela em meu colo antes de descer as escadas com todo cuidado do mundo. Fui recepcionada pelos vizinhos já presentes e passei Soph para primeira das várias pessoas que pediram para segurá-la. Era um bom sinal não fazer o papel de cuidadora chata que não deixa ninguém se aproximar da criança, mas vale ressaltar que grande parte das nossas vizinhas já eram mães, então tinham a cautela e higiene necessária para apanhar o bebê.

— Já é a terceira vez que eu escuto alguém dizer "Eu ouvi falar que elas tinham se divorciado." — Emma sentou-se no balcão da cozinha e apanhou uma torrada da bandeja do garçom que passou servindo.
— E já é a quarta vez que escuto "Mas ela não está muito velha para adotar uma criança?" — Acabei rindo e ela também.
— Você é a mais bonita do condomínio e de toda a região. É compreensível que incomode um pouco. — Terminou de comer a sua torrada. — Hoje em especial caprichou bastante.
— Você acha? — Dei um gole no vinho rosé que segurava.
— Eu tenho certeza.
— Eu discordo. Já vi outra mais bonita.
— Impossível.
— É totalmente possível, inclusive, estou olhando para ela agora mesmo.
— Ah. — Ela definitivamente não estava esperando por aquilo. — Se você diz.
De repente o álcool me fez sentir calor. Ficamos um tempo trocando olhares que carregavam a mesma intenção, até Emma decidir pular no balcão e usar a palma das mãos para me empurrar para dentro da despensa. Ela segurou meu rosto e beijou meus lábios com voracidade, não tive tempo para pensar a respeito e já estava dominada por um desejo descomunal. Emma empurrou meu corpo em direção a uma das prateleiras e se posicionou por trás de mim, abriu alguns botões da camisa acetinada e desceu um pouco para revelar os meus ombros, onde deixou diversos beijos que também subiam até meu pescoço e maxilar. Estava ofegante de vontade. Minhas mãos apertaram a madeira com tanta força que por pouco os potes de macarrão não caíram no chão. A destra dela acariciou minha barriga por baixo da camisa e seguiu em direção ao meu seio do mesmo lado, acariciando por cima da renda vermelha, causando um atrito enlouquecedor contra o bico rígido. Precisei apertar uma coxa na outra.
— Desculpa, eu...— O garçom estava perplexo, segurando a bandeja com uma das mãos e a maçaneta da porta com a outra. — Preciso de sal.
Empurrei Emma com o quadril e rapidamente ajeitei minha camisa desorganizada no corpo.
— Sal, claro. — A loira procurou pelo sal na prateleira e entregou para o homem claramente assustado. Ele se retirou. Nos olhamos por um tempo antes de cair na risada.
— Meu Deus, Emma.
— Vamos voltar para a Soph.
— Sim, por favor.
Ajeitamos nossas roupas amarrotadas e a desordem que ficaram os cabelos depois de termos nos esfregado uma na outra.

Procuramos pela pequena e a encontramos no colo de uma moça que nunca tínhamos visto antes. Ela era jovem, tinha o cabelo escuro e levemente ondulado.

— Emma. Regina. — Ela sorriu. — Finalmente nos conhecemos.
— Desapareceram na festa. — Riu Sabine.
— Desculpa, tivemos um problema com a preparação da comida.
— Sim, totalmente compreensível. — Ela movimentou a mão. — Essa é a Marian, nova moradora do condomínio. Ela e o esposo compraram a casa de esquina.
— É um prazer conhecê-la, Marian. — Emma tocou a mão da outra mulher com gentileza.
— O prazer é todo meu. — Ela tinha um sorriso belíssimo. — Adorável a filha de vocês.
Minha boca automaticamente se abriu para corrigir o comentário feito pela vizinha, mas nada saiu. Era isso o que Soph era agora. Era estranho pensar nela dessa forma, mas era esse o amor que ela merecia receber.

Meu Deus, se tudo der certo, Soph será nossa filha.

— Regina? — A voz da convidada me tirou dos meus pensamentos e me trouxe de volta para a realidade.
— Ela é mesmo encantadora.
— E você, não pensa em ter filhos, Marian? — Perguntou Sabine, enquanto comia dois mini quiche Lorraine ao mesmo tempo.
— Na verdade esse é o meu maior sonho. — Respondeu, olhando encantada para o rostinho de Soph que dormia tranquilamente. — Mas infelizmente eu não posso dar um filho ao meu esposo.
— Eu sinto muito por isso, querida. — Toquei levemente seu ombro e ela sorriu.
— Mas eu tenho ambição. Não é o fim do mundo, eu ainda posso ser mãe.
— É claro que você pode e vai.

No fim, a recepção dos moradores foi um sucesso. Era bom poder apresentar Soph como um novo membro da nossa família e ver como foi bem recebida por pessoas que de alguma forma vão fazer parte da vida dela. A casa já estava vazia e organizada.

— Pronto. Henry e Soph estão dormindo como anjos. — Emma descia as escadas, carregando a babá eletrônica nas mãos. Era o nosso mais novo acessório.
— Que dia cheio. — Relaxei no sofá, segurando uma taça de vinho nas mãos que repousavam em meu colo.
— Muito cheio. — A loira encheu a sua taça também e se sentou ao meu lado.
Dei um gole longo no vinho e repousei a taça na mesa de centro próxima ao sofá.
— Emma, sobre hoje mais cedo na despensa...
— Foi sem noção. — Ela respondeu prontamente.
— Deixamos Soph sozinha com os convidados.
— Sim, não pode se repetir.
— É, não pode se repetir.
Nos olhamos por um tempo em silêncio. Não dava pra controlar, compartilhávamos do mesmo desejo. Urgente. Emma largou sua taça e avançou em minha direção. Tomei seus lábios em um beijo necessitado e ergui meu corpo para me sentar em sua cintura, enquanto suas mãos subiam minha saia apertada. Os dedos tocaram a nuca e brincaram com os fios loiros, impedindo o rosto de fugir do beijo apressado.
Foi no sofá da sala que Emma arrancou as minhas roupas, arrancou de mim os meus mais sinceros gemidos, tirou meu medo, minha tristeza e vontade de ser tocada por qualquer um que não fosse ela. Isso porque ela me conhecia como ninguém. Porque juntas éramos a definição de intimidade. Intimidade era aquilo que existia quando ela se colocava de joelhos e me fazia ultrapassar o céu e chegar mais longe. Era como se a boca dela adorasse ler e meu corpo fosse o seu livro predileto. Ela desfrutava do sabor de cada parágrafo e me fazia gritar, implorando para nunca chegar no final. Na mesma noite eu também pude experimentar do sal da pele suada que só um bom sexo pode proporcionar. Pude tocar sua pele clara e deixar minha assinatura com a boca, escrevi com a língua em cada parte de seu corpo. Memorizei a constelação que ela tinha nas costas. Provei Emma de quatro, de lado, de costas, por cima e por baixo. Ela me chamou gemendo e eu me permiti sentir cada arrepio na ponta da espinha quando ela me pediu pra ir mais fundo, quando me pediu pra não parar e ir mais forte. Meus dedos percorreram por todos os espaços concedidos da maneira mais fácil e prazerosa possível.

Provamos aquele momento que era só nosso, religiosamente nosso.

M̶Y̶ ̶M̶Y̶̶S̶T̶E̶R̶Y̶̶.Where stories live. Discover now