NATASHA ROMANOFF

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— Romanoff. - A voz estava distante mas eu conseguia entender perfeitamente que alguém me chamava.

Meus olhos foram de encontro com a palma das minhas mãos. Estavam minúsculas e pálidas por uma sustância branca que cobria toda a extensão da minha palma até a ponta dos meus dedos. Me virei involuntariamente seguindo o som da voz de quem me chamava e me deparei com espelhos me roteando por toda a aparte. O chão de porcelanato e as barras presas na parede formando um quadrado completo. Paredes brancas e um reflexo de criança.
Uma criança pequena, por volta de seus dez ou doze anos. Cabelos vermelhos e presos em uma renda rosa bebe tão quanto a roupa que usava da mesma coloração. Era uma sala de dança, um estúdio de ballet. E a criança diante do espelho era eu.

Joelhos fortes e sapatilha nos pés.

- Natasha, vamos está na hora. - A voz distante se tornou mais próxima. E junto com ela uma mulher surgiu.

A encarei por alguns segundos analisando o que eu mal entendia que acontecia. Não sabia ao certo o que eu estava fazendo aqui, mas me senti tentada a descobrir pois tudo isso me parece real, até o cheiro do lugar deixava o que aparentemente era um sonho, algo realista e material.

- Querida você não estava me ouvindo, está na hora de ir. - A mesma mulher surgiu na minha frente me fazendo questionar como a vi se aproximar tão de repente.

Cabelos ruivos, pele branca e um casado verde exército que tinha uma costura muito sofisticada. Mas eu não conseguia responde-la, não conseguia agir por conta própria como se o piloto automático estivesse narrando os meus atos. E ela estendeu as mãos para mim que apenas segurei e segui para o lado de fora.

Era uma cidade fria, e coberta por neve como um grande e vasto carpete branco cobrindo boa parte das calçadas, telhados e carros estacionados ali. Logo senti meu corpo ser envolvido de surpresa, tecido felpudo e quente, algum tipo de sobretudo na cor marrom que me cobriu e aqueceu de imediato.

Fui guiada até um Ford na cor branca, estacionado rente ao meio-fio da calçada coberta por neve. Adentrei o veículo no banco de trás e de uma forma singela e carinhosa, a mulher de cabelos avermelhados me prendeu no estofado de couro com o cinto de segurança me dando um beijo no topo da cabeça antes de se direcionar até o banco do motorista. Ela era atenciosa, fez o percurso parecer calmo e confortável enquanto puxava assuntos variados que me faziam me sentir em "Casa".

Não parecia ter pressa, o para-brisas expulsaram os flocos de neve das janelas. E a chuva branca teimava a cair e deixar os vidros suados e turvos o suficiente para desenhar objetos com a ponta dos dedos nele. E foi o que eu fiz, desenhei dois triângulos, um a cima do outro, sendo conectados por suas pontas como uma ampulheta. A junção geométrica era formidável, eu adorava a circunferência equilibrada que aquele símbolo demonstrava ter. Eu estava convencida a mostrar o meu feito a mulher que estava concentrada ao voltante, mas com muita insistência consegui faze-la se virar para atrás apenas para olhar meu desenho. Apenas segundos foram necessários para tudo virar de cabeça para baixo, várias e várias vezes.

Um limpador de neves que vinha na direção oposta não viu o nosso carro, aparentemente o impacto havia sido tão forte que o veículo girou e girou até parar por si só com as rodas emborcada para cima completamente cobertas por gelo. Eu estava presa ao sinto de segurança, sentindo dor na parte lateral da coxas. A meia calça rosa estava rasgada com um corte bastante profundo no local, dor e desconforto era a sensação.

A mulher estava com os fios ruivos cobrindo seu rosto com metade do corpo pendendo para o banco do passageiro. Ela não usava cinto de segurança e tinha bem mais cortes e sangue do que eu. Meu desespero era evidente e eu sentia uma enorme vontade de chorar e correr mesmo que eu não conseguisse mover minhas próprias pernas. Eu tentava chama-la mas não emitia nenhum som, sem controle algum para interferir no que parecia ser uma cena gravada de um filme de horror.

VERMELHO ESCARLATE • Wandanat Where stories live. Discover now