Lucky

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Lucky I'm in love with my best friend

Lucky to have been where I have been

Lucky to be coming home again

Izuku se sentou no futon de repente, um som agudo e esganiçado latejando em seus tímpanos. Então ele percebeu que o som saía de sua própria garganta. O quarto ainda estava escuro, mas o canto longínquo de um pássaro soou audível quando Izuku conteve o grito, a garganta em chamas e as mãos tremendo.

Mais uma noite, mais um pesadelo.

Ele vinha tomando remédios para dormir, mas nem isso estava ajudando a manter os pesadelos distantes. Izuku trincou os dentes, o suor frio descendo por dentro do pijama enquanto ele permanecia sentado, imóvel. Como se assim as imagens tenebrosas sumissem. Doce ilusão. O canto do pássaro sumiu enquanto a respiração pesada do homem aumentou, enchendo o silêncio do quarto com o som entrecortado e desesperado. Izuku apertou a cabeça entre os dedos, a garganta ardendo com os soluços baixos.

Esse inferno não vai ter fim?

Ele não conseguia voltar a dormir. Pensar em fechar os olhos e ver tudo aquilo de novo já fazia seu corpo tremer e o coração acelerar. Ele apertou os fios verdes e mordeu os lábios, os olhos arregalados e fixos na parede a frente. Eu não consigo. Não sou forte o suficiente. Não dá mais!

Você não é um fracote qualquer. A gente vai dar um jeito nisso. Você. Não. Tá. Sozinho!

As palavras de Kacchan surgiram de repente, como um gatilho. Izuku sentiu o peito apertar. Você tava errado, Kacchan. Eu tô sozinho. Ele suspirou, se preparando para passar o resto da madrugada acordado e revivendo o pesadelo vezes e vezes sem fim.

- Papai?

Izuku ergueu os olhos para a cama ao seu lado onde o rosto pequeno e redondo de Kana surgiu da beirada, a escuridão deixando a mostra apenas a silhueta dela, mas Izuku já sabia todos os detalhes de cor: os cabelos verdes bagunçados devido o travesseiro, os olhos vermelhos cerrados pelo sono, os lábios crispados em confusão. Ele ouviu o bocejo baixo dela e sorriu.

- Oi, querida. Ainda tá cedo, pode voltar a dormir.

Ele viu a cabeça dela mexer de um lado a outro em negação.

- Você tá acordado. Foi pesadelo?

Izuku suspirou e acariciou os cabelos dela.

- Foi sim, mas já está tudo bem. Desculpa te acordar, meu amor.

Ela ergueu a cabeça e Izuku podia jurar que os olhos vermelhos brilharam na escuridão, fixos nele como se conhecessem todos os seus segredos e soubessem que nada estava bem. Ela bocejou de novo e sua voz soou ainda mais sonolenta.

- Dorme comigo, papai. Eu vou espantar os pesadelos, tá?

Izuku apertou os lábios que tremiam feito de uma criança e sentiu os olhos arderem, mas apenas acenou em concordância pois sabia que qualquer palavra que falasse soaria embargada demais. Ele saiu do futon e se acomodou na cama de solteiro que usara anos antes, Kana se encolhendo no outro lado para que os dois coubessem ali. Ele sentiu Kana o cobrindo com o cobertor e logo ela se aproximou, deitando-se com a cabeça sobre seu braço e fechando os olhos. Izuku não conseguia parar de sorrir, os olhos bem abertos admirando a menina aconchegada contra si como se aquele fosse o melhor lugar do mundo.

- Papai, tem que fechar os olhos pra dormir.

Izuku soltou uma risada baixa e murmurou um "ok", fechando os olhos e rodeando o braço livre pela cintura da menina. Ele nem ao menos lembrou do sonho ao sentir a respiração calma e o corpo pequeno da menina tão perto, uma necessidade de protegê-la até mesmo de seus próprios pesadelos.

Just Like UsWhere stories live. Discover now