04 | Escopo

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— Onde está o queijo?

*

Ai' Pat! Onde está o queijo?

— O quê? — Pat sai do quarto, vestindo a camisa às pressas, com o semblante exausto e não havia mesmo entendido a pergunta.

Onde. Está. O queijo? — Repete com as mãos espalmadas na bancada, olhos fechados, tentando manter um volume educado.

Shia... Não tem mais?

— Você está vendo algum aqui, Pat? — Pran abre a geladeira e exibe teatralmente todas as prateleira. E em nenhuma delas tinha queijo.

— Que gritaria é essa, meninos? São sete e meia da manhã! — Dissaya sai do banheiro, confusa com o barulho que ela notou ter começado no quarto e aumentou o volume em uns dois tons quando atingiu a sala.

— O queijo acabou e Pran está bravo. — Pat resume, simplista, vai em direção à bancada imitando a pose do namorado há segundos atrás, como provocação. Pran bufa.

— E com razão?! — Pran fecha a geladeira com cuidado, falando num tom baixo, e um tanto sarcástico. — Ou vocês não pensaram nisso também?

— Pran. — Dissaya tenta falar, mas Pran a interrompe.

— Eu costumo comer um misto-quente antes de ir para o trabalho. — Seu tom é constante e óbvio.

— Filho, eu–. — Dissaya diz, em um misto de empatia e impaciência com essa etapa de ajuste, a qual Pat a avisou. 

Tudo bem. Mas você dois simplesmente decidiram usar todo o queijo e não pensaram que eu poderia querer queijo também. Não pensaram que eu gostaria de saber que vocês usaram o queijo, pelo menos?Pran repete tanto a palavra que ela perde sentido para ele. E nem sabe mais se está falando do queijo.

PRAN! — Dissaya grita, não tão alto quanto os dois há segundos atrás, já ao lado do filho e o empurra de leve quando abre a geladeira e retira uma vasilha branca de lá com um papel escrito "Pran" colado na tampa. Entrega a ele. — Eu fiz um sanduíche para você também, filho.

Oh. — Pran intercala seus olhos rapidamente entre Pat e Dissaya e Dissaya e Pat, um tanto sem graça e pega a vasilha, enfim.

— Desculpa pelo mal entendido dessa viagem, filho. — Ela consegue falar, e ele se apressa em sair de perto, bastante desajeitado.

— "Mei bi rai", está tudo bem. 

Pran afirma enquanto olha para ela, envergonhado. Diz que conversa melhor com eles quando voltar. Estou atrasado. Não, ele não estava. Queria se desculpar desde que a ouviu reclamar do barulho e agora está constrangido com a maneira um tanto infantil que se comportou na frente da mãe. Mas como seria essa relação agora? Ela continua sendo a sua mãe, mas já faz muito tempo que não tem mais influência direta sobre a vida dele e na última vez que esteve aqui, Pat não veio junto. Pran se dirige até a porta e olha para ele, maneia a cabeça e Pat o imita — sem provocação dessa vez. Eles se amam. E estão com saudade. Os dois entenderam. Pran sente muito. Pat entendeu isso também. Pat sente muito, mas isso Pran já sabe desde ontem. Os dois se lembram.

[04] • ENFIM • [ BadBuddy | PatPran ] ):)Where stories live. Discover now