14 - O Gato da Sereia

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_ Vamos fazer algo diferente?

_ O que você sugere?

_ Passear por sonhos aleatórios! Eu descobri que para cá não vem apenas as almas, como também os sonho e também descobri como entrar neles. Bem é difícil, basta seguir esse riacho. Ao lado dele, aqui e acolá, surgem sempre pequenas fontes temporárias. São os sonhos que as pessoas deixam morrer. Alguns são muito bonitos, outros assustadores. 

_ 'Muito assustadores' não é o que eu definiria como agradáveis... Duhghtér parecia relutante.

_ O cheiro deles é diferente, não tem erro. 

_ Então vamos! As duas caminharam de pés desnudos, água no meio da canela, entre pedriscos coloridos e a água fresca muito agradável, observando as fontes até que acharam uma especialmente interessante, onde a luz cintilava. Mergulharam.

Saíram em uma praia de areias brancas, de frente a um mar de águas  esverdeadas e de costas a falésias calcárias cobertas por vegetação mediterrânea. Era um a manhã de muita luz e temperatura agradável, com ventos frescos e suaves.

_ Vem, vamos até aquelas rochas brancas, mais adiante!

_ Então nos sonhos a senhorita entra no mar?!? Duhgthér sabia que normalmente ela só nadava em piscinas, por conta de um incidente infeliz envolvendo uma arraia, nas águas rasas do rio Araguaia. 

_É um sonho, boba. Sonho de criança, aqui não me podem ferroar. 

_ Então as duas, nuas, nadaram até as rochas e com que liberdade tomaram aquele sol quase dourado.

_ Em frente a elas, em outro islote rochoso, com  alguns tufos de gramas e pequenas flores cor de rosa - havia uma sereia adolescente, que acariciava um gatinho e olhava na direção do sol.

_ Olá, como você se chama? Duhghtér perguntou, em tom amável.

_ Oi, eu sou uma sereia, mas meu nome é Éster.

_ Podemos tomar sal com você, Éster?

_ Sim, claro, podem vir. 

_ Entre o barulho das ondas e o som das gaivotas, as duas conversaram longamente com a mocinha, e descobriram seus sonhos: ela queria ser aviadora, paraquedista ou pelo menos comissária de bordo e entendia muito de pássaros.  Até sabia imitá-los. e depois falou de abelhas, e borboletas e também de estrelas cadentes. Até que por fim, sol começando a se ir, se calou.

_ Éster, você fala tanto das coisas do céu. Por que seu sonho é no mar?

_ É que eu... Eu não posso, sabe? Tenho medo, de assim - o olhar dela ficou vazio - estar como vocês estão. 

_ Você diz, nuas?

_ Sim, eu não posso.

_ Entendo - Dughtér disse - mas por que você é uma sereia?

_ Sereias não tem, você sabe... 

_ E por que isso é tão importante? Dughtér teve uma sensação ruim.

_ É que em sereias não podem, entende? 

_ O que eles não podem, Éster?

O olhar dela ficou vazio novamente, o sol estava se pondo rápido.

_ Daqui há pouco ele me acorda e não posso mais ser sereia, não terei mais proteção.

O sol se pôs rapidamente e a noite veio muito escura, com tempestade. As duas voltaram ao regato do esquecimento.

A Grande HistóriaWhere stories live. Discover now