_ Vamos fazer algo diferente?
_ O que você sugere?
_ Passear por sonhos aleatórios! Eu descobri que para cá não vem apenas as almas, como também os sonho e também descobri como entrar neles. Bem é difícil, basta seguir esse riacho. Ao lado dele, aqui e acolá, surgem sempre pequenas fontes temporárias. São os sonhos que as pessoas deixam morrer. Alguns são muito bonitos, outros assustadores.
_ 'Muito assustadores' não é o que eu definiria como agradáveis... Duhghtér parecia relutante.
_ O cheiro deles é diferente, não tem erro.
_ Então vamos! As duas caminharam de pés desnudos, água no meio da canela, entre pedriscos coloridos e a água fresca muito agradável, observando as fontes até que acharam uma especialmente interessante, onde a luz cintilava. Mergulharam.
Saíram em uma praia de areias brancas, de frente a um mar de águas esverdeadas e de costas a falésias calcárias cobertas por vegetação mediterrânea. Era um a manhã de muita luz e temperatura agradável, com ventos frescos e suaves.
_ Vem, vamos até aquelas rochas brancas, mais adiante!
_ Então nos sonhos a senhorita entra no mar?!? Duhgthér sabia que normalmente ela só nadava em piscinas, por conta de um incidente infeliz envolvendo uma arraia, nas águas rasas do rio Araguaia.
_É um sonho, boba. Sonho de criança, aqui não me podem ferroar.
_ Então as duas, nuas, nadaram até as rochas e com que liberdade tomaram aquele sol quase dourado.
_ Em frente a elas, em outro islote rochoso, com alguns tufos de gramas e pequenas flores cor de rosa - havia uma sereia adolescente, que acariciava um gatinho e olhava na direção do sol.
_ Olá, como você se chama? Duhghtér perguntou, em tom amável.
_ Oi, eu sou uma sereia, mas meu nome é Éster.
_ Podemos tomar sal com você, Éster?
_ Sim, claro, podem vir.
_ Entre o barulho das ondas e o som das gaivotas, as duas conversaram longamente com a mocinha, e descobriram seus sonhos: ela queria ser aviadora, paraquedista ou pelo menos comissária de bordo e entendia muito de pássaros. Até sabia imitá-los. e depois falou de abelhas, e borboletas e também de estrelas cadentes. Até que por fim, sol começando a se ir, se calou.
_ Éster, você fala tanto das coisas do céu. Por que seu sonho é no mar?
_ É que eu... Eu não posso, sabe? Tenho medo, de assim - o olhar dela ficou vazio - estar como vocês estão.
_ Você diz, nuas?
_ Sim, eu não posso.
_ Entendo - Dughtér disse - mas por que você é uma sereia?
_ Sereias não tem, você sabe...
_ E por que isso é tão importante? Dughtér teve uma sensação ruim.
_ É que em sereias não podem, entende?
_ O que eles não podem, Éster?
O olhar dela ficou vazio novamente, o sol estava se pondo rápido.
_ Daqui há pouco ele me acorda e não posso mais ser sereia, não terei mais proteção.
O sol se pôs rapidamente e a noite veio muito escura, com tempestade. As duas voltaram ao regato do esquecimento.
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A Grande História
General FictionO Ser, que é a Mãe, fala com aquela que foi criada, que é a Filha, sobre todos os mistérios que existem sobre as coisas: sua geometria, seu funcionamento, sua história, sua geografia e àquela a quem serve. É uma história de descobrimento, fé, espera...