Capítulo Quatro

1.3K 154 26
                                    

Kazimir

Algumas pessoas definitivamente não entendem o conceito de festa privada. Mas como contornar situações complicadas é algo que faço com alguma maestria desde que nasci, me jogo escadas abaixo tentando alcançar a porta antes que mais pessoas percebam o que está acontecendo.

"Kazimir, desculpe, mas você não pode entrar com todos esses homens, estamos com lotação completamente esgotada. Mas se você realmente quiser entrar, eu o convido para meu camarote privado. Mas apenas você. EU garanto sua segurança", digo com a voz mais macia que consigo, enfatizando que ele está sob meus cuidados, "e caso queira dispensar seus homens, eu me encarrego de levá-lo em segurança mais tarde". Ele apenas me olha, faz um gesto quase imperceptível e seus homens desaparecem como que por mágica.

Por Allah, meus avós me ensinaram a apreciar a beleza com distanciamento e não ser envolvida por ela, mas algo dentro de mim se remexe com esse homem e eu não sei dizer exatamente o que é. Ele não é tão alto, deve ter no máximo 1,75 e mesmo se vestindo como um lorde, tudo nele grita PERIGO. Dos olhos negros como a noite até as mãos macias de dedos curtos e grossos. Seu andar lembra um felino saciado, mas não descuidado, e o cheiro que ele emana me deixa tonta por alguns instantes. Kazimir, é um tcheco de 29 anos; algumas pessoas o acusam de ser senhor da guerra. Um homem envolvente e sedutor, moreno de cabelos pretos, ternos impecáveis, carros velozes e muitas tatuagens.

"Querida, jamais perderia a inauguração mais badalada da década. George me convidou e disse que poderia ficar com você", ele me enlaça pela cintura enquanto sussurra em meu ouvido, deixando Vargas completamente tenso, ele sabe que eu tenho problemas em ser tocada por desconhecidos. Antes que eu possa me afastar, ele beija meu rosto, perigosamente junto a minha boca.

Com um gesto evito que Vargas e Dylon se aproximem, me solto do abraço, mas ele pega novamente em minha cintura e diz no meu ouvido "Vamos? Estou pronto para você". A pressão da mão dele em minhas costas me arrepia, mas não é um bom sinal, não é o que Hannah ou Tonia descrevem quando falam de seus casinhos, por um segundo me sinto enjoada e tonta novamente. Mas quando tento me afastar, ele me segura com mais decisão, se prendendo completamente às minhas costas, "Não fuja, eu não pretendo fazer nada, apenas não quero perder você na multidão", fala próximo ao meu ouvido, mas roçando a boca em minha nuca.

Ao chegar ao elevador, explico que preciso resolver algumas coisas referentes ao funcionamento da casa e o deixo subir sozinho. Volto ao meu posto no camarote Murray e presencio o final da discussão entre William, que está sendo seguro pelo irmão, e George.

"Senhor, eu realmente sinto muito por ter destruído sua roupa, mas tenho certeza que a casa, digo, eu, pagarei uma nova para o senhor", apresso-me em dizer para tentar acabar com essa discussão. "Cale-se, quero aquele idiota fora daqui ou fecho esse lugar para sempre", ele grita. Juro que tenho vontade de perguntar qual idiota, mas Kate olha para cima e entendo que seu irmão se refere a Kazimir.

"Olha", digo suspirando, "ele está isolado de toda a boate, não tem como aprontar nada hoje. E para ser sincera, eu não o queria aqui. Mas ele recebeu convite", falo olhando friamente pra George. "Então, por favor, acalme-se um pouco e aproveite a noite. Garanto que não tem como ele sair do meu camarote, eu tranquei a saída do elevador por fora, ele só pode ir para o telhado e pegar o helicóptero. Por favor, desculpe mais uma vez pelo inconveniente. E para deixar claro que falamos sério, a direção coloca a disposição de vocês um passe VIP, com consumação liberada, sem validade e acesso a um dos camarotes especiais".

William não se acalma, mas senta resignado, passa as mãos pelo cabelo e engole a dose de whisky de uma vez só. Continuo parada ao lado da mesa. Tentando parecer a hostess perfeita, fingindo que os olhos cada vez mais intensos de William não estão me afetando. De repente o clima muda, as luzes diminuem de intensidade e a banda ataca uma música mais lenta. Por um momento me perco, pensando onde se meteu meu namorado que não apareceu para celebrar o sucesso da boate, com isso eu não percebo a movimentação no camarote. Os casais mais próximos, dançando, conversando mais baixo.

De repente sinto as mãos de William me puxando para ele e a voz rouca no meu ouvido "quero você agora", sua mão na minha nuca e sua boca explorando a minha de uma maneira que nunca fui beijada antes. Só me lembro de vê-lo no chão, meu salto nos seus testículos e minhas unhas cravadas em sua garganta apertando tão forte que ele quase não respira. Qualquer movimentação próxima a mim o aperto fica mais forte e meu pé afunda ainda mais, os sons que saem de sua garganta quase esmagada são horríveis. Sinto dois leves toques no meu antebraço e ouço "Solte". Eu saio de cima de William em um salto. Volto a respirar e pisco repetidas vezes para entender o que aconteceu.

"Dev, desculpe, eu não,..., eu só...". Digo me virando para encarar meu namorado. Mas a frase fica no ar quando noto o uniforme, o quepe embaixo do braço e o olhar entre divertido e preocupado.

"Acho que eu deveria perguntar o que ele fez para que minha garota tentasse transformá-lo em dos seus eunucos. Mas ele não vai poder falar por algumas horas, então venha, quero falar com você". Fala ele se divertindo ainda mais com a situação. "Como é que uma menina frágil e pequena como você derruba o bicampeão de artes marcais sem suar?".

Nem dou atenção para o que ele falou, minha preocupação é o uniforme completo que ele está usando, "Não Dev, você não vai embarcar, você não vai nessa missão, eu quebro suas pernas e você não poderá ir. Por favor, diz que não vai". Percebo que minha voz está alterada, mais alta e fina que o normal. Nada bom isso, nada bom.

Passo por ele como um furacão e corro pelas escadas para chegar até a porta. Dois soldados esperam para levar Devlin de volta à base e um deles comete a burrice de tentar me parar, eu não queria destroncar o braço dele, sério, mas ele não deveria ter tentado me segurar. Já fora da boate, olho para os dois lados da rua e por um instante não sei para onde ir. Mas logo me vem uma ideia, o general. Antes que consiga um táxi, Kazimir se materializa do meu lado e segurando meu braço me leva até o carro dele, "para onde senhorita?", ele está sério, mas com um meio sorriso nos lábios. Dou o endereço da base, ajusto o cinto e fecho os olhos. Noite doida dos infernos.

"O que houve no camarote embaixo do seu? Vi uma correria de seguranças e os irmãos Brody discutindo com os Murray. Eles foram deselegantes com você? Quer que eu volte lá e dê uma lição naqueles engomadinhos?", Kazimir é até gentil, tenta puxar assunto, mas estou completamente perdida em meus pensamentos.

"Nada, não aconteceu nada, Dylon deve ter cantado a esposa de Edward sem notar". Tento ser vaga, mas percebo que minha resposta não convenceu.

 "Okay", diz ele para encerrar o assunto. "Pronto, chegamos. Quer que eu te espere?". Diz quando chegamos à guarita principal.

"Não, vou ver o general e acho que isso vai demorar". Abro a porta e já com um pé para fora do carro, me viro e dou um beijo em seu rosto. "Obrigada, de verdade. Eu estava meio zonza, sem saber como chegar aqui". Tão zonza que nem perguntei como ele saiu do camarote fechado.

Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora