Um dia em Paris

{15}Falando em francês!

— Tá brincando?

— Nem um pouco. Vem!

Thierry me puxa próxima à porta de correr que eu tinha visto antes e abre ela revelando dentro do cômodo uma espécie de guarda roupas sem porta, com várias camisas de cozinheiro penduradas em cabides.

— Uau! Variedade. — brinco assistindo ele remexer nelas.

— Aqui. — diz puxando uma menor dentre as outras — Deve servir em você.

Thierry tira a pequena roupa do cabide e coloca a minha frente, medindo na altura do meu pescoço.

— Essa você usava quando era pequeno? — pergunto segurando a camisa junto a mim.

— Não. — responde rindo — Está é da Sophie.

— Quem é Sophie?

Observo ele abrir os botões de forma apressada e estender pra que eu coloque os braços nas mangas da vestimenta. Retiro meu sobretudo, largando de qualquer jeito e me viro vestindo a camisa.

— É uma cozinheira aqui do restaurante. — Thierry explica ajeitando ela em meus ombros — Nós guardamos nossos dólmãs aqui nesse armário.

Ele arranca a boina da minha cabeça e faz ela voar rumo ao sofá.

— Não são todos meus.

Volto a virar de frente pra ele e o vejo ficar nas pontas dos pés pra pegar uma touca branca no alto do guarda roupas sem porta. Estica ela se aproximando e põe na minha cabeça. Acabo de abotoar a camisa, ou dólmã e enrolo os cabelos pra dentro da touca.

— Melhor colocar a franja pra baixo da touca também — Thierry sugere me observando.

— Já que pediu... — digo desanimada fazendo o que ele diz.

Thierry ri da minha expressão e me puxa em direção as portas duplas com certa pressa.

— Você vai substituir Jules.

Mal presto atenção ao que ele fala de tão nervosa que estou por entrar em uma cozinha cheia de gente. Respiro fundo me preparando pra lidar com os olhares que terei sobre mim.

Thierry afasta as portas e...

Nada! Ninguém nem mesmo vira o rosto ou levanta a cabeça pra olhar a novata.

Todos estão concentrados no trabalho. Alguns correndo de um lado pro outro. Não querem largar os afazeres. Um corta cebola, outro acende o fogo, alguém tempera as carnes, uma mulher fatia cenouras, um homem mexe uma panela, Thierry puxa meu braço e o chefe da alguma ordem que não compreendo nem um pouco.

Pisco algumas vezes e encaro o homem ruivo que me observa com expectativa.

— Sauce Béarnaise. Sait faire? — Ele repete com olhar questionador.

— Je vais aider la mademoiselle à le faire. — Thierry diz a ele que acena concordando e nos apressa com gestos frenéticos.

Sou delicadamente empurrada até uma pia pra lavar as mãos, depois Thierry me conduz por entre as bancadas até eu ficar atrás de uma delas.

Coloca uma cebola roxa na tábua de corte a minha frente e acena pra ela sorrindo. Olho da cebola pra ele e dele pra cebola de olhos arregalados.

Vou ter que cozinhar? Mas nem mesmo conheço os pratos franceses. Tirando o "escargot".

Levanto os olhos da cebola e vasculho a cozinha até encontrar o Liam chefe. Observo ele bater palmas apressando os outros cozinheiros, até que seus olhos cruzam com os meus e então, desvio minha cara de espanto pra longe.