Uma mente mirabolante

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"Você deixou ela ir."

Addison

— Mas pra falar a verdade, temos preferencia as quintas, pois tenho aula de literatura e Bailey tem aula de Ed. Física, ele adora jogar basquete, e mesmo sendo baixinho, ele ganha até mesmo dos quintos anos, mamãe. — Henry falava incansavelmente sobre o seu dia, sobre como estava os seus estudos e as suas leituras diárias, eu escutava, ou tentava escutar, remexendo o jantar em meu prato, já resfriado pelo o tempo que o deixei parado sobre a ponta do garfo, sem fome nenhuma. — A senhora está bem, mamãe?

— Estou. — suspirei, piscando e sorrindo para ele, seus olhos me observaram diretamente. — Eu estou, sunshine, só estou cansada.

— Está com saudade da senhorita Grey, não é? — ele brincou, meus olhos se abaixaram e eu mordi parede da minha bochecha no mesmo instante.

— Não, sunshine. Não estou. 

Respondi, me levantando e retirando o meu prato da mesa, o coloquei na pia e ali fiquei, sem muito rumo depois daquilo, as palavras ainda me cortando, todas as conjugações, todas as sílabas e frases, palavras e letras, cada ponto e cada vírgula usada por ela, atravessando o meu peito, me fazendo sangrar e a cada segundo, tentar estancar o sangramento corrente por cada lugar que havia sentimento, que houve sentimento. Por que eu deveria ter sentimentos? Ela não tinha, ela não se importava, uma aventura, apenas isso.

Nunca passei de uma mera e divertida aventura para ela. 

— Mamãe, a senhora não está bem... o que aconteceu?

— Regra número seis, sempre acreditar na palavra final do mais velho. — olhei para Henry, que cruzou os braços, não aceitando aquilo como uma boa desculpa.

— Você e a senhorita Grey brigaram? — perguntou, com cuidado, como se qualquer palavra pudesse me quebrar. — Olha se for isso... o melhor a se fazer é pedir desculpas, não importa quem começou a briga, e sobre o que é, ceder primeiro sempre resolve a situação.

— Ela não me quer na vida dela, sunshine, apenas isso. 

— Isso é mentira.

— Henry. — chamei, começando a me cansar daquela conversa, e assim que fiz isso, ele me olhou, provavelmente surpreso, pois era rara as vezes que eu o chamava pelo o nome. — Meredith e eu não temos mais nada, entendeu? O sentimento não é recíproco. 

Ah... ela só quer ser sua amiga então?

— Ela não quer ser a minha amiga, ela só... não me quer da forma que um dia eu pensei. E está tudo bem, eu estou bem com isso, e você não deve se preocupar comigo, entendeu?

— Mas…

— Henry, já chega. Não tente achar argumentos aonde não há. 

Minhas palavras saíram rudes, objetivas, claras e sem espaçamento para qualquer contra ataque de lógica que ele lançaria futuramente, e doeu, ver os seus olhos se abaixarem, recuar alguns passos antes de subir para o seu quarto. Respirei fundo, tirando, arrancando a vontade imensa de apenas me sentar em um canto e chorar, chorar até secar e tentar entender.. entender de como eu não percebi que ela.. não sentia o mesmo.. ela parecia tão.. apaixonada.. tão.. eu era uma idiota, por achar que um dia, algo nomeado como "amor" daria certo pra mim. Era isso que eu era.

Uma verdadeira idiota. 

Um tempo depois, ciente sobre as minhas palavras e de como sem querer, descontei a minha frustação em cima de um garoto de oito anos, aonde a sua única vontade era ajudar e entender os meus dilemas, dilemas esses que nem eu mesma entendia, subi até o segundo andar, encostei a cabeça em sua porta e respirei fundo, batendo duas vezes. Não obtive uma resposta concreta, mas sim um murmúrio sendo abafado pela a madeira, girei a maçaneta e o encontrei no meio da sua cama, lendo uma das suas histórias em quadrinho, dei risada, baixa, pela a sua tentativa de enganação, perante a mim. Ele não estava lendo, pois estava sem os seus óculos, e qualquer coisa, fora do seu alcance de visão sem as suas lentes, era impossível. 

(Inicie: Matilda - Harry Styles)

— Está tentando me enganar? — devagar me aproximei, me sentando um pouco mais atrás dele, que não respondeu. — Eu sei... me desculpe, eu fui rude com você sem motivo algum, eu errei com isso, me perdoe por favor. 

— Por que vocês adultos complicam tanto? — ele perguntou, claramente chateado. — Poxa... o amor não é complicado. 

— Ele é, sunshine, mais do que você imagina. O amor não é igual esse amor na qual você lê em livros, séries ou filmes, aonde sempre, sempre está tudo bem. Acreditei muito nisso quando me casei com o seu pai, e olha como estamos hoje. Nem nos falamos mais.

— Vocês não se falam porque nunca se amaram, mas você e a senhorita Grey... vocês se amam. 

— Ela não me ama, sunshine, e talvez, eu tenha a amado até demais. 

— O amor nunca é demais.

— Para algumas pessoas, sim. — ele ficou quieto e permaneceu assim durante bons minutos, eu não o atrapalhei sobre os seus pensamentos, apenas nutrindo o seu silencio, e a sua linha de raciocínio, a qual as vezes eu não entendia. 

— Eu não vou poder ser mais amigo de Bailey? — e dei um meio sorriso, o puxando para os meus braços, e o abraçando com toda a minha força, mas ainda sim, sem machucá-lo, Henry não pensou muito antes de me abraçar de volta, com toda a sua força, que era pouca, mas o suficiente para me aquecer e me deixar bem.

— É claro que vocês podem, meu sunshine. Vocês são melhores amigos, e nem eu e nem a Meredith tiraríamos tal título pelo os nossos problemas pessoais. 

— Eu posso continuar indo na casa dele depois da escola para brincarmos? 

— Sim, você pode, assim como pode convidá-lo para passar a tarde aqui também, não há problema nisso.

— Posso convidá-lo para vir aqui amanhã? — meio incerta sobre, mas não aguentando ver aquele rostinho, cheio de esperança e expectativa, sempre cedi a ele, por que não cederia agora?

— Sim, sunshine, você pode convidá-lo para passar a tarde aqui amanhã. 

Mas as vezes eu esquecia que... nunca deveria subestimar a mente mirabolante e incansável daquele garoto de oito anos.

***

E cabe Henry e Bailey fazerem essas
duas conversarem. Até o próx cap ❤

Receita para o Amor - MeddisonWhere stories live. Discover now