2. Wildest Dreams

486 66 14
                                    



Jimin


Por que ninguém conta para nós que o curso que escolhemos quando prestamos vestibular pode se transformar naquilo que mais odiamos no último ano da faculdade?
E, francamente, como as pessoas podem esperar que alguém de dezenove anos saiba o que quer fazer pelo resto da vida e fique feliz com essa decisão?
Ridículo...

No meu primeiro ano como universitário, em algum momento entre
Contabilidade para Pequenas Empresas e Introdução ao Direito Tributário,
percebi que eu odiava administração de empresas apenas um pouquinho
menos do que a ideia de trabalhar em um escritório pelo resto da vida.

Muito embora eu soubesse fazer gráficos e integrar estatísticas como ninguém, estava entediado. Dolorosamente entediado.
Não descobri minha verdadeira paixão na vida até começar a preparar
cupcakes para celebrar meu ódio pelo curso e enfrentar aulas intensas de
Direito Tributário. Levei-os a um grupo de estudos e eles foram devorados
em segundos. Então assei mais cupcakes e comecei a me arriscar e fazer
outras coisas.

Num primeiro momento, eu dominava três receitas simples: diferentes
cupcakes, cookies e brownies. Então, passei a tentar receitas mais elaboradas: bombas de chocolate com cobertura, waffles recheados etc. Quanto mais eu cozinhava, mais feliz ficava, mas só no dia em que minha mãe fez algo que me chamou a atenção que comecei a levar essa ideia a sério.

Eu tinha feito um suflê de laranja no Natal e ela adorou tanto que chegou a levar pedacinhos para seus vizinhos e a convidá-los para experimentar. Chegou a convidar meu namorado na época para uma visita e pediu para ele provar, mas ele só disse "hummm, é comestível".

De qualquer forma, descobri meu amor pela arte da culinária tarde demais. Então, em vez de trocar de curso, continuei fazendo Administração
e, sempre que tinha tempo livre, roubava umas aulas da escola de culinária número um da praia: Wellington's Culinary Institute.

Todo sábado e domingo eu ia ao centro e me sentava no fundão da sala de
aula. Tomava notas como se eu realmente pertencesse àquele lugar. Nos dias em que as aulas aconteciam na cozinha - um fogão por aluno pagante -, eu simplesmente fingia ser uma colegial fazendo um trabalho de pesquisa.
Era o que eu andava fazendo naquele momento.

— Não se esqueçam de que vocês receberão notas com base em como
criam a cobertura dos
croissants — avisou o professor, do outro lado da sala.

— Elas precisam estar crocantes, mas sem esfarelar; suaves, mas não
grudentas. Vocês também precisam ter certeza de que o que vão criar é algo
que não foi feito antes nesta sala de aula. Não recriem nenhuma das
atividades anteriores, ou automaticamente estarão reprovados.

Observei enquanto a mulher parada à minha frente mexia a massa e acrescentava algumas polvilhadas de açúcar. Ela provou a mistura, negou
com a cabeça e acrescentou ainda mais açúcar.

— Ei... — sussurrei para ela.

— Ei... — Ela olhou por sobre o ombro.

— O que foi?

— Você não precisa colocar mais açúcar.

— Como você sabe, ladrão?
Revirei os olhos.

— Porque você ainda vai ter que fritar e acrescentar uma camada de açúcar, e isso antes de injetar o recheio, que é bem doce. Se colocar mais, vai acabar fazendo o degustador ter diabetes.

Ela colocou o pote de açúcar outra vez sobre o balcão e voltou ao trabalho, e pareceu agradecida ao dar um passinho para o lado para que eu pudesse ver o restante de sua mesa. Enquanto eu anotava a lista de ingredientes, senti alguém dar tapinhas em meu ombro.

— Oi? — Não olhei para cima.

Eu estava no meio da anotação de como preparar um tipo especial de
massa. Na verdade, estava na última letra quando o caderno foi puxado da
minha mão e me deparei com uma mulher vestida totalmente de preto. A
palavra "Segurança" estava gravada em seu peito com letras enormes, e a
criatura estava de braços cruzados.

— O que você está fazendo aqui hoje, senhor Park? — ela perguntou, apertando os lábios.

— Eu estou... É... — Raspei a garganta e ajeitei o corpo.

— Estou fazendo um trabalho sobre um livro.

— Um trabalho sobre um livro?

— Sim — respondi.

— Um livro muito importante para o meu colégio. Para o meu colégio.

— E em qual colégio você disse que estuda?

— Pleasant View High.

— Você estuda em uma escola que está abandonada há cinquenta anos?
Merda.

— Eu quis dizer Ridge View...
Eu tinha procurado no Google mais cedo.

— Todos os colégios estão fechados para as férias de verão. O último dia
de aula foi sexta-feira passada.

Ela estalou os dedos e acenou para que eu me retirasse.

— Vamos. Você conhece a rotina...
Eu me levantei e peguei o caderno de volta, seguindo-a para fora da sala,
na direção do corredor.

— Entrar em aulas e tirar notas extras em um curso é mesmo um crime?
questionei.

— A quem estou fazendo mal com isso?
Ela passou o cartão para abrir a porta.

— Fora.

— Espere. — Eu já estava do lado de fora.

—  Se eu te der vinte dólares, você pode voltar lá e me dizer que tipo de massa eles estão usando para fazer aqueles cronuts especiais? Talvez eu pudesse deixar meu e-mail e você me mandaria depois? — Ela bateu a porta na minha cara. Droga... Enfiei o caderno na bolsa e ouvi uma risada conhecida. Ergui o
olhar e percebi que era o professor de uma disciplina chamada "Entendendo as receitas".

— Você acha engraçado? — falei, sentindo-me audaz.

— Chutar alguém da sala de aula?
— É hilário. — Ele ria ainda mais enquanto olhava para mim.

— E você não foi chutada para fora da sala, foi retirada porque eu a vi entrando hoje mais cedo.

— Você me entregou? Pensei que gostasse de mim... Você não costuma me
entregar.
— Não costumo, mesmo — admitiu.

— Porém, em dia de prova, aí não tem
conversa. Você não consegue ver a relação direta entre os momentos quando algum segurança a tira da sala e quando não?
Fiquei impressionado.

— Exatamente — ele falou, dando tapinhas em meu ombro.

— Todos nós damos valor à sua paixão, mas os dias de prova são só para aqueles que pagam a mensalidade. Acho que vou vê-lo com mais frequência, agora que você está terminando a faculdade, não?
Assenti e ele riu outra vez,

acrescentando:
— Até o próximo fim de semana, senhor Park. — E foi embora.

Completamente honrado pelo "apreciamos sua paixão", sorri e me
perguntei se ele escreveria uma carta de recomendação não oficial para algumas escolas de culinária das quais eu esperava uma resposta.
Talvez uma carta assinada por ele me ajudasse e conseguir uma bolsa
de estudos? Olhei para o relógio e percebi que tinha três horas para me arrumar para a faculdade pela qual eu pagava. Minha cerimônia de formatura era hoje.


Votem e comentem, por favor :)
Boa leitura!

Sinceramente, JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora