Memórias do anjo - VIII

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Jerusalém | Cidade Antiga

Solstício de Verão

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O templo em ruínas foi atingido por um forte temporal naquela noite.

Catra sequer conseguiu dormir, diferentemente do anjo que estava acomodada em seus braços. Adora adormeceu logo após a conversa. A conversação certamente era incomum, a princesa do paraíso costumava passar noites a fio acordada cumprindo suas obrigações, mas, por uma única vez decidiu que descansar ao lado da mulher que lhe causava as mais diversas sensações pacíficas dentre toda a realidade caótica e assustadora em seus mundos.

Apesar do corpo do anjo aquecendo o seu ao longo da noite, Catra não pôde deixar de ter flashes acordada, como se algo terrível estivesse acontecendo. Havia algum tempo que ela não se sentia tão perturbada com os próprios pensamentos. Seu coração acelerado, a insônia mesmo diante de seu cansaço, os trovões ressoando sobre a estrutura que sobraram das ruínas, tudo parecia tão estranho.

Seu peito ardia como se uma faca estivesse sendo cravada no seu coração, ela definitivamente não sabia como seguir a noite com toda a inquietude que a rondava.

Adora demorou um pouco para acordar, na verdade ela nem pensou que poderia, mas quando seus olhos se abriram e sutilmente verificaram a incubus de canto imediatamente reparou que havia algo errado.

─ Você passa alguns dias fora e então está de volta aos velhos hábitos - Ela comentou em um tom sonolento e brincalhão, impulsionando seu corpo um pouco para cima fazendo com que seus lábios encostassem na mandíbula da princesa do inferno.

Catra sorriu suavemente e se virou para encará-la, suas sobrancelhas estavam franzidas mesmo sem um motivo aparente, Adora foi capaz de notar a confusão em seu rosto.

─ Está inquieta, o que aconteceu?

─ Eu não consigo dormir, Adora - Ela suspirou pesadamente ─ Algo está errado, eu não... Não sei, mas sinto que há alguma coisa acontecendo.

─ Você se feriu nos últimos dias? Alguma perseguição? - Catra negou

As duas mulheres se sentaram sobre a cama e Catra encolheu os ombros, apertando suas mãos juntas ao sentir seu peito fisgar como se algo estivesse a machucando.

A morena grunhiu desta vez, preocupando a loira um pouco mais do que antes.

─ Catra-

─ Está tudo bem, tudo bem, princesa. Eu só... - Catra se ergueu com dificuldade, levando uma de suas mãos ao lado de seu coração como se fosse capaz de amenizar a dor ao apertar suavemente a região ─ Tomar um pouco de ar fresco é tudo que eu preciso, está bem? Fique aqui, esta tarde.

─ Devo lhe dizer o mesmo.

- Não estou discutindo isso com você-

- Catra, está tão tarde para você quanto para mim - A loira segurou o pulso da entidade e a olhou com cautela - Por favor, não desapareça de novo.

- Estarei a apenas alguns metros, eu não estou dizendo que vou embora.

- Ainda sugiro que você fique-

─ Eu não sigo ordens suas, princesa - A filha do diabo rosnou, mas imediatamente pensou sobre a forma rude que estava proferindo suas palavras ─ Ficarei bem, você precisa descansar, se houver uma ronda lá fora será mais perigoso se a virem. Permaneça aqui dentro, está bem?

No final das contas, Catra tinha toda razão. Adora reavaliou suas opções e decidiu que ficaria em segurança, mesmo que a híbrida não estivesse mais esperando sua resposta quanto ao assunto. Aparentemente a princesa do inferno não estava em sua melhor noite, consequentemente uma luta no meio da noite a colocaria em risco. A mulher angelical franziu a testa ao notar que estava genuinamente se preocupando com o bem estar do demônio, mas ignorou os pensamentos em sua mente.

The Devil's Touch - Catradora (G!P)Where stories live. Discover now