Bônus: Anahí Portilla.

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Encontro o aparelho eletrônico que não para de vibrar quando jogo todas as roupas da cama no chão.

- alô?- atento sem olhar quem é.

Meus olhos azuis ganham maior proporção assim que ouço a voz do outro lado da linha.

- Anahí, venha para o hospital agora! Onde você está?

- Poncho, o que aconteceu? - pergunto já pondo a mão no peito - Ucker... Ele...

Minhas palavras morrem no ar, sou incapaz de por meus pensamentos em voz alta, mas meu ex noivo sabe exatamente o que estou falando.

Já se passaram dez dias desde que Ucker sofreu esse maldito acidente, que para mim já estão sendo equivalentes a meses. Omentir pra Dulce, conhecer Belinda, conviver com Poncho depois de tão pouco tempo...

Foram 12 dias corridos e dramáticos, mas também teve uma coisa boa, conheci meu primeiro sobrinho, Benjamin... Só em lembrar de seus olhinhos, de sua inocência... Sinto meu ar faltar, como uma criança tão pequena pode ficar sem pai assim?

- Quando você chegar aqui irá entender- sua voz é firme e tento não me deixar abater.

Consigo ouvir Poncho ser chamado de longe e antes de se despedir, desliga na minha cara.

Inspiro o ar com força e pego a primeira bolsa que aparece a minha frente.

Eu e Alfonso combinamos de só conversarmos o necessário, mas ainda o pouco diálogo que temos, me faz sentir mal. É como se fosse um veneno para meu coração... Agora compreendo porque Dulce Maria largou tudo aqui e se foi.

[...]

Chego no andar de UTI com o coração na boca. Me encosto na parede e tento recuperar o fôlego que perdi subindo os últimos dois andares de escada. Elevador lento de mais para Anahí Portilla.

Poncho: Annie!- chama minha atenção e me viro encontrando um largo sorriso.

Sem esperar mais sou presenteada com um forte abraço. Mantenho meus braços imóveis, mas ainda assim é inevitável não sentir o cheiro de seu perfume forte e sedutor.

Poncho: Me desculpa- me solta e dar alguns passos para trás - Não... não...

O médico cardiologista está visivelmente perdido, seus olhos caçam um ponto seguro para pousar enquanto suas mãos já estão guardados nos bolsos do jaleco.

- Isso é irrelevante, Alfonso.- corto o clima tenso e disfarço minha instabilidade com seu ato- Por que me chamou até aqui? O que houve?

Poncho: Vamos!- inclina a cabeça para o corredor que eu já conhecia bem.

Olho mais uma vez impaciente para o médico e o acompanho. Alfonso com certeza deve ter uma dificuldade para falar e um mestrado em enrolação.

Paramos em frente ao quarto de Christopher, aos poucos Poncho vai a abrindo e saindo de meu campo de visão.

Sem paciência para mais espera ando em passos grandes para dentro do quarto em tons verdes claro.

Em questões de segundos, toda a força e determinação que estava em meu corpo desaparece, dando lugar a joelhos bambos e visão embaçada.

- Ucker! Ucker!- digo enquanto as lágrimas caem disparadas - Ucker...

- Não vou ganhar nenhum abraço?- sua voz é baixa mas sai sem grande dificuldades.

Olho para Poncho, seu sorriso é tão largo que automaticamente me faz querer abraçá-lo também. Qual foi a última vez que vi um sorriso tão feliz e sincero em seu rosto?

Balanço a cabeça para os lados, Alfonso não deve mais estar presente em minha mente. Meu melhor amigo acabou de acordar de um coma, isso é o essencial para mim.

Com muito receio me inclino para abraçar o loiro. Sinto somente uma de suas mãos retribuir o abraço, sem muita força mas com muito carinho.

- Eu amo você!- sussuro entre lágrimas grossas - Pensei...Pensei que... que tínhamos te perdido.

A cabeça de Christopher se move em meu ombro, e o abraço com mais força.

Não faço ideia do que aconteceu, mas o mais importante é que Christopher está vivo! Está aqui de corpo e mente.

Poncho: O quadro clínico de Christopher melhorou drasticamente nas últimas 48 horas, e também se estabilizou, o que ainda não tinha ocorrido - explica enquanto tomo água - Então os médicos entraram em um consenso e decidiram tirar os medicentoa sedativos, tirando Christopher do coma.

Assinto para todas as palavras de meu ex noivo e sorrio enquanto vejo Christopher fazer ainda alguns exames.

Poncho: Christian já está trazendo Maite e também já avisei a Angel...

- Que com certeza avisou a Belinda - reviro os olhos e nem preciso olhar para o moreno para ver sua expressão de repreensão.

Estando ou não juntos, Poncho insiste em repreender o que não considera legal.

Poncho: Por que você não gostou dela?

- Por que todos vocês foram com a cara dela?- viro me para o homem sentado no mesmo sofá que eu.

Poncho: Ela parece ser uma boa pessoa, é gentil e mãe do filho de Christopher...

- Ela ser mãe de Benjamin não a faz uma boa pessoa - abaixo meu tom de voz.

Christopher está tão envolvido com o enfermeiro tirando seu sangue e fazendo sei lá mais o que, que nem nos observa. Ele já sabe que nos separamos ?

Poncho: Ela ter se envolvido com Christopher sem saber que ele era comprometido, também não a torna uma má pessoa.

Arregalo meus olhos e só não jogo esse copo de água em sua cara, porque agora sou uma pessoa madura.
- Afonso, desde quando você mudou bruscamente ? Cadê aquele homem certinho, calculista e extremista

Sei que não parece isso, mas também concordo com o que disse, Belinda não se resume a mulher que ficou com um cara comprometido. Seria muita hipocrisia perdoar ele e culpar ela, não é isso que me incomoda quando a olho.

No entanto, não faço questão alguma de compartilhar meus reais pensamentos com Poncho, isso nos tornaria mais... mais íntimos.

Poncho: Desde quando percebi o que estava perdendo com meu extremismo desnecessário. - seu olhar é profundo e seguro a mesma expressão sarcástica do início.

Antes que posso retrucar, a porta branca é aberta bruscamente e vejo uma cabeleira preta correr lado a lado com uma senhora de cabelos longos para a cama de hospital.

Christian aparece logo atrás com um sorriso de orelha a orelha e uma gravada solta no pescoço. Christian bem estilo Christian.

Alexandra solta murmuros abafados enquanto beija toda a face do filho e Maite está segurando firme a mão do amigo, ainda desacreditada.

Vozes de alegria e choros cortam o clima tenso entre mim e Alfonso. Sou grata por isso.

Recomeço Where stories live. Discover now