Capítulo 1 - Parte 2

15 2 0
                                    

É claro que eu não tinha escolhido ficar em um dormitório, porque eu sabia que, em algum momento, os meus pais apareceriam e iriam começar a julgar e a conversar, e eu prefiro me chutar no rosto antes de submeter um inocente a isso. Em vez disso, peguei meu dinheiro suado e bem merecido, e aluguei um apartamento de dois quartos próximo ao campus.

O Sr. e Sra. Saviñón odiavam isso. E isso me fazia muito feliz. Mas agora eu estava lamentando meu pequeno ato de rebeldia, porque, enquanto eu corria para fora do calor úmido de uma manhã de final de agosto e entrava para o prédio climatizado, já era 09h11min e minha classe de astronomia era no segundo andar. E, por que diabos eu escolhi astronomia?

Talvez porque a ideia de ficar sentada em outra aula de biologia me fez querer vomitar? Yep. É, foi isso.

Corri até a escadaria larga, corri através das portas duplas e bati direto em uma parede de tijolos. Tropeçando para trás, meus braços se debateram como um guarda em um cruzamento. Minha bolsa lateral escorregou, me puxando para um lado. Meu cabelo voou na frente do meu rosto, uma mecha ruiva obscureceu tudo enquanto eu oscilava perigosamente.

Oh meu Deus, eu estava caindo. Não havia como parar. Visões de pescoços quebrados dançaram na minha cabeça. Isso ia ser ruim...

Algo forte e duro passou em volta da minha cintura, parando minha queda livre. Minha bolsa caiu no chão, derrubando livros e canetas pelo chão. Minhas canetas! Minhas canetas gloriosas rolaram em toda parte. Um segundo depois eu estava pressionada contra a parede.

A parede estava estranhamente quente.

A parede riu.

— Uau. — disse uma voz profunda. — Está tudo bem, querida?

A parede definitivamente não era uma parede. Era um cara. Meu coração parou por um segundo assustador e a pressão apertou o cerco contra meu peito e eu não podia me mover ou pensar. Eu estava sendo levada de volta para cinco anos atrás. Presa. Não podia me mover. O ar dos meus pulmões perfurou em uma corrida dolorosa como formiga se espalhando em volta do meu pescoço. Cada músculo preso.

— Hei. — A voz macia se afiou com preocupação. — Você está bem?

Obriguei-me a apenas respirar. Eu precisava respirar. Ar para dentro. Ar para fora. Eu tinha praticado isto uma e outra vez por cinco anos. Eu não tinha mais 14. Eu não estava lá. Eu estava aqui, do outro lado do país.

Dois dedos pressionaram embaixo do meu queixo, forçando minha cabeça para cima.

Surpreendentes e profundos olhos azuis emoldurados com espessos cílios pretos fixaram-se nos meus. Um azul tão vibrante e elétrico, e um contraste tão gritante contra as pupilas negras, que eu me perguntei se eles eram reais.

E então a realidade me bateu.

Um cara estava me segurando. Um cara nunca tinha me segurado. Eu não contei daquela vez, e eu estava pressionada contra ele, coxa com coxa, peito com peito. Como se estivéssemos dançando. Meus sentidos fritaram quando inalei o aroma leve de colônia. Uau. Ele cheirava bem e a algo caro, como o dele...

A raiva de repente correu através de mim, uma coisa doce e familiar, afastando o pânico e confusão do momento. Eu me apeguei a ela desesperadamente e encontrei a minha voz.

— Me solta.

Ele imediatamente deixou cair o braço. Despreparada pela perda repentina de apoio, eu balancei para o lado, equilibrando-me antes que tropeçasse em minha bolsa. Respirando como se tivesse corrido um quilômetro, empurrei os fios do meu rosto e, finalmente, dei uma boa olhada no cara.

Ele era lindo, de todas as maneiras que fazem as garotas fazerem coisas estúpidas. Ele era alto. O corpo como o de um atleta da natação. Cabelos pretos ondulados. Maçãs do rosto largas e grandes, lábios expressivos completavam o pacote criado para as meninas babarem. E com esses olhos cor de safira, santo Deus...

Quem pensou que um lugar chamado Shepherdstown estaria escondendo alguém que se parecia com isso?

E eu corri para cima dele. Literalmente. Legal.

— Eu sinto muito. Eu estava com pressa para ir para a aula. Estou atrasada e...

Seus lábios se inclinaram sobre os cantos quando ele se ajoelhou. Ele começou a recolher minhas coisas e por um breve momento, senti vontade de chorar. Eu podia sentir as lágrimas se formando na minha garganta. Eu estava muito atrasada agora, de nenhuma maneira eu poderia entrar na aula e no primeiro dia. Que fracasso.

Mergulhando para baixo, deixei meu cabelo cair pra frente para proteger meu rosto e comecei a pegar as minhas canetas.

— Você não tem que me ajudar.

— Não é nenhum problema. — Ele pegou um pedaço de papel e, em seguida, olhou para cima. — Astronomia 101? Estou indo nessa direção, também.

Ótimo. Vou ter que ver o cara que quase me matou no corredor pelo semestre inteiro. 

Wait for You - AdaptadaOnde histórias criam vida. Descubra agora