Dia Cinco

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A manhã seguinte já havia acabado quando Sarah acordou, ela sentia olhos curiosos fixados em si e uma mão pequenina cutucava seu rosto. Ela abriu um dos olhos e a encarou, a menina se assustou e tirou os dedinhos de sua bochecha, na mesma hora em que a moça que cuidava de Sarah, ralhou com a pequena pedindo para lhe deixar em paz.

— Tudo bem — disse se sentando na cama — qual seu nome criança?

— É Jade — a pequena disse fazendo biquinho.

— Ah! Que nome bonito! Você quer brincar Jade? — ela se animou por um instante e lembrando-se do que havia acabado de acontecer, olhou para a mulher esperando sua aprovação.

— Você está melhor? — perguntou a moça que agora olhava seriamente para Sarah.

— Sim estou, consegui nadar a noite — apesar de sua ajuda, ela não queria ser amigável demais.

— Percebi pelas suas roupas molhadas — a moça sorriu.

— Ah — só então Sarah percebeu que a roupa de cama estava completamente encharcada.

— Não tem problema, tem bastante sol lá fora para secarmos roupas, estamos no período de estiagem. Jade não fique importunando nossa hóspede — a moça ralhou novamente com a criança.

— Tudo bem mamãe! — respondeu a pequenina.

— Eu sou Sarah, qual seu nome? — a pergunta foi direcionada a mãe da menina.

— Ah, com tudo que aconteceu esqueci de me apresentar, me perdoe. Sou Âmbar e essa é minha filha Jade como você já sabe. Somos um pequeno grupo de nômades. E você? De onde vem?

— Bom, não faço ideia. Não tenho memória de como fui parar no Deserto Cinzento, mas devo ter sofrido uma amnésia temporária devido a algum acidente, não sei ao certo — de fato ela não sabia.

— Te examinei quando você chegou e não parece que você bateu a cabeça, somente indícios de desidratação e cansaço. Pode ser psicológico.

— Eu realmente não sei.

— Entendo. Sou médica também, caso precise de alguma ajuda pode me chamar — ela saiu levando Jade.

A moça se foi tão rápido que não deu chances de Sarah perguntar mais coisas. Nômades? Por quê? O mais indicado para a sobrevivência na situação que estavam vivendo era se fixar em um local com água em abundância e terras para plantar. Mas o que eles estariam fazendo parados num pequeno oásis como aquele e tão perto do Deserto Cinzento, Sarah teria que descobrir o porquê, até lá iria ouvir mais e falar menos.

...

Dessa vez o lado de fora não estava tão calmo. Algumas poucas crianças brincavam em volta dos restos da fogueira, mulheres retiravam água de um lado e os homens retiravam os matos que cresciam em volta das barracas. Os mais velhos teciam e cuidavam das crianças. Os mais jovens estavam reunindo lenha ou caçando. Parecia uma comunidade harmoniosa e bem disposta. O sol já estava alto e o estômago de Sarah começava a reclamar. Precisava achar Âmbar para perguntar onde poderia arranjar alguma comida ou até mesmo ajudar em alguma tarefa. Ela não planejava ser alimentada de graça, não queria dever favores a ninguém.

Sarah se pôs a caminhar lentamente, cumprimentando com um aceno seco os mais velhos que a olhavam com interesse e um sorrisinho animado. Aliás, todos estavam olhando-a com interesse, provavelmente ela era a maior novidade que tiveram em muito tempo. Então resolveu puxar assunto com uma senhora que estava tricotando um suéter. E como sua própria intuição dizia: se você tem paciência para tricotar um suéter você é uma pessoa que fala muito.

— Olá, boa tarde. Sou Sarah. Estou procurando por Âmbar, você a viu?

A senhorinha levantou os olhos de seu tricô lentamente e sorriu.

— Minha jovem, você é a moça que nossas crianças encontraram, não é? — perguntou.

— Sim, sou eu — respondeu apressadamente.

— Ah, vejo que já está bem. A noite faz muito frio, estava tricotando isto para você, suas roupas estão um farrapo — ela disse olhando-a de cima a baixo.

Aquela informação a fez corar, a idosa tricotava para uma estranha. Sarah não esperava isso de um desconhecido.

— Senhora, não é necessário — ela ficou sem saber o que dizer, aquele povo estava conquistando-a contra sua vontade.

— Ora, não se incomode, não tenho nada para fazer mesmo e minhas costas não me deixam ajudar mais que isso — ela sorriu novamente.

— Venha, vou te levar até Âmbar — ela se levantou com as mãos nas costas e se pôs a guiar a desconhecida.

Chegando a outra tenda, Âmbar estava preparando algo num fogão improvisado com sucata.

— Âmbar minha querida, trouxe sua amiga.

— Ah, esqueci de te dizer onde ficava minha tenda, obrigada Helena. Cuidado com essas costas hein! —disse olhando a idosa sair.

— Não queria interromper seus afazeres. Quero pagar minha estadia com trabalho.

— Não é para tanto, o lema de nossa comunidade é ajudar. Você está com fome, não é? Sente-se vou lhe dar algo para comer enquanto termino o almoço.

— Obrigada — disse sem rejeitar a oferta.

Enquanto comia um pedaço de pão feito por Âmbar, Sarah desferiu sua série de perguntas.

— De onde vocês estão vindo? Por que são nômades? Porque não se instalam em um único local com água abundante?

— Vejo que tem fome de conhecimento também — Âmbar brincou.

— Ah — Sarah corou novamente.

— Tudo bem, isso é normal para quem acabou de chegar. Você está certa de querer saber, não se pode confiar nas pessoas hoje em dia — disse a última frase com pesar — coma devagar, vou te contar tudo.

DISPOSITIVO FÊNIXWhere stories live. Discover now