Dia Cinquenta e Um

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Enquanto Sarah contava sobre sua história e o que havia ocorrido no último andar, nenhum dos tripulantes do navio de Adila ousou abrir a boca para interrompê-la. Nem mesmo Édgar acrescentou detalhes, estava apreensivo sobre como os homens reagiriam a verdade sobre ela e sobre tudo ali. Alguns deles se levantaram e saíram da estalagem ao término do relato, outros simplesmente estavam atônitos, mas era a expressão do capitão que mais a surpreendeu.

— Sarah, para meus homens isso talvez seja uma grande surpresa, ou até mesmo possam lhe culpar pelo o que aconteceu em suas vidas, mas a verdade é que você não é culpada de nada. Você não pediu para nascer assim, muito menos passar por tudo o que passou, assim como cada um de nós aqui. Não podemos culpar uns aos outros pela tragédia que nos é imposta, há somente uma coisa a ser culpada, a Arcos Dourados.

— Você não liga mesmo eu ter sido o motivo de tudo? — ela perguntou ao capitão sem acreditar.

— Não é que eu não me importe, mas eu já sabia o motivo desse porto estar aqui, conheci as criaturas que o instituto do México criou, as enfrentei, este mal está no mundo todo e para mim é uma honra conhecê-la, aquela que poderá acabar com tudo isso.

Ela não sabia o que dizer, apenas parou e o observou, incrédula. Ela não esperava nenhuma outra atitude do que a vingança ser direcionada a ela, a causadora de todo o mal naquele lugar. Mas ao ouvir as palavras de Adila, um peso em seu coração se desfez e sua vontade em continuar trilhando o caminho até o Egito se renovou. Ela arrancaria o mal pela raiz.

— Se me permite vou lá fora falar com meus homens, creio que me entenderão, me dê um tempo, por favor.

— Tudo bem.

O capitão se levantou e Sarah também, o homem se encaminhou para fora junto com os demais tripulantes que estavam na estalagem. Ela foi até o balcão e pediu um copo da bebida mais forte que tinham e o balconista a serviu, Édgar se juntou a ela pedindo um whisky, fazia tempo em que tinha colocado uma gota de álcool na boca, o líquido desceu quente, ardendo, mas o que ele sentiu foi a nostalgia de um tempo em que não pensava em nada a não ser viver e não sobreviver.

— O capitão parece ser um cara legal, acho que vai nos ajudar.

— É, parece que sim — ela se limitou a dizer.

— O que a preocupa?

— O que me preocupa? É justamente ele querer ajudar — Édgar não entendeu bem, mas decidiu pedir outro copo, porém nem sinal do balconista.

— Estranho, o homem estava aqui até agora — ele observou.

Mal deu para procurar o balconista com os olhos quando a porta da estalagem se abriu e eles puderam ver que metade dos homens de Adila estava no chão, nocauteados e a outra metade sobre a mira de armas de grosso calibre.

— E vocês acharam que eu ia deixá-los ficar com o MEU porto!

Os amigos se olharam, não podiam acreditar no que estavam vendo, o chefe daquele porto estava diante deles e não poderia ser alguém mais banal do que o próprio balconista do bar. Ela tinha que confessar, foi uma jogada formidável, se esconder entre os próprios trabalhadores, assim ele teria acesso a todos os boatos e criaria os próprios a seu bel prazer. Comandando das sombras a vida de todos aqueles homens.

— Tá de brincadeira!? — Édgar não acreditou. Suas mãos foram involuntariamente a cabeça, o que fez com que os atacantes mirassem nele.

Os guardas foram entrando um por um no salão, cada um com um refém, e o próprio balconista segurava a arma na cabeça de Adila. A expressão do capitão dizia tudo, ele também não sabia daquela jogada e jamais esperaria por isso, para ele tudo estava perdido.

DISPOSITIVO FÊNIXWhere stories live. Discover now