Jealous

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Eu e Louis fomos almoçar na mesa quando chegamos em casa. A refeição estava sendo esquisita, digo isso porque Elliot ficou nos encarando de um jeito desconfiado, como se tivéssemos feito algo incomum. Aquilo foi tão desagradável que usei minha enxaqueca como desculpa para sair antes de terminar o prato.

Me tranquei dentro do meu quarto durante umas duas horas. Eu não aguentava mais ficar presa lá dentro, apesar da dor ainda perturbar meu juízo e ser mais cômodo ficar deitada na cama.

Saí daquela prisão de quatro paredes e vi o relógio que mamãe havia comprado. O artefato se encontrava no fim do corredor, ou seja, bem na saída do meu quarto.

— Pelo visto você gostou.— Minha mãe disse ao aparecer do meu lado no corredor.

— É... Gostei.— Falei falsa. Gostei tanto que doaria para um lixão.

— Pelo menos você. Elliot e Louis pareceram odiar.— Comentou bufando em forma de desabafo. Não quero a desapontar, mas vamos combinar que eles estão certos em pensarem assim.— E então, a dor continua?— Perguntou me fitando cuidadosamente.

— Sim.— Confirmei fazendo uma careta de desagrado.

— Isso já está ficando fora do normal. O que acha de irmos em um médico?— Sugeriu expressando preocupação.

— Não precisa, é só pelo estresse.— Previ tentando convencer ela (e a mim mesma) de que não passava de uma mera dor de cabeça.

— Estresse com o que, querida?— Questionou alisando meus cabelos com cautela.

— Sei lá, toda essa mudança. Cidade nova, casa nova, escola nova, vida nova...— Listei usando uma intonação entediante.

— Entendo... Sinto muito, mas saiba que todos nós estamos passando por isso juntos.— Consolou compreensiva.— Conseguiu fazer alguma amiga?— Perguntou na tentativa de suavizar o problema.

— Amiga não. Estou andando com uns meninos lá.— Falei sem dar muita importância.

— Ui, já está de namoradinho?— Supôs brincando maliciosa. Credo, por que todo mundo acha que qualquer relação entre homem e mulher vai acabar em algo romântico? Arg.— Só deixo se você me apresentar e for um rapaz direito.— Condicionou fingindo rigidez. Depois disso Louis atravessou o corredor me fitando com desprezo, logo esbarrando em meu ombro propositalmente antes de sair.

— Tá vendo?— Falei mostrando a grosseria do garoto.— E você ainda diz que ele gosta de mim.— Complementei revirando os olhos.

— Oh, S/n. É ciúmes.— Falou rindo discretamente do incidente. Ciúmes? Louis com ciúmes de mim? Era pra ser uma piada?

— Ok, mãe. Agora você se superou.— Afirmei enquanto ela abria a porta do seu quarto e me puxava para dentro.

— Minha filha, está na cara que ele ficou incomodado pelo que estávamos falando.— Explicou com a voz baixa.— Louis te vê como a irmãzinha mais nova dele, aí fica morrendo de ciúmes.— Disse querendo me convencer. Irmãzinha? Pelo amor de Deus, ele quase surta quando nos chamam de irmãos.

— Aham.— Concordei de forma irônica.

— Sabe qual é o problema de vocês?— Iniciou convencida.— Os dois tem o mesmo temperamento forte, por isso não se entendem.— Revelou aparentando ter certeza do que dizia.— Acho incrível como vocês são parecidos, até fisicamente.— Concluiu encarando meu rosto.

— Nada a ver.— Contrariei me sentindo ofendida. Ser comparada com aquele babaca já é demais.

— S/a, você é literalmente uma versão feminina dele.— Afirmou prendendo uma risada.

—Dai-me paciência.— Murmurei olhando pro teto como se estivesse pedindo ajuda para uma divindade.— Ah, tem uma coisa que eu queria te perguntar.— Lembrei mudando de assunto.

— O que seria?— Indagou curiosa ao franzir o cenho.

— Foi você que convenceu Louis de fazer terapia, né?— Perguntei tendo quase certeza.

— Como você soube... Espera, ele te contou?— Questionou desacreditada ao arregalar os olhos.

— Não foi bem assim. Eu meio que acabei descobrindo.— Expliquei a realidade.— Mas não é esse o foco, quero saber se você pressionou ele.— Retornei a pergunta inicial.

— Bem... Louis é um garoto cheio de traumas. Quando decidimos nos mudar a reação dele havia sido péssima... Então sim, eu pedi para que ele começasse o tratamento após descobrir que a escola nova de vocês oferece ajuda profissional.— Narrou minuciosa.— Foi difícil fazê-lo aceitar. As sessões mal começaram e ele já está querendo largar.— Falou de maneira desapontada. Eu sabia que tinha sido ela. Afinal, Elliot não parece se preocupar tanto com a saúde mental do filho.

— Agora faz sentido.— Constatei refletindo comigo mesma.

— Falando em traumas... Percebi o que fez com o espelho do banheiro.— Assumiu receosa. Merda, esqueci de tirar a merda da toalha. A maioria das vezes que eu vou no banheiro, coloco algum pano ou toalha tampando o reflexo. Ontem de madrugada não foi diferente...

— É difícil, mãe.— Desabei sentindo meu olhos se encherem de lágrimas. Mamãe me abraçou em seguida.

— Eu entendo, querida. O tanto que eu sinto falta dela não está escrito.— Disse insistindo no abraço.— Mas não é por isso que eu vou deixar de olhar para você.— Exemplificou fazendo carinho nos meus longos fios de cabelo.

— Foi o que papai fez.— Falei chorosa. Sei que meus pais estariam juntos até hoje se não fosse por aquilo. Ele largou a minha mãe porque não suportava me ver todos os dias e lembrar de Clarice. Nunca me confirmaram isso, mas eu sei.

Não escutei nenhum de seus consolos dali em diante, tudo que eu ouvia era um zumbido contínuo e agonizante.

𝐒𝐭𝐫𝐚𝐧𝐠𝐞𝐫 𝐛𝐫𝐨𝐭𝐡𝐞𝐫- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦Where stories live. Discover now