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Abro a porta do apartamento sendo recepcionada pelo silêncio reconfortante.

Jogo minha bolsa e as chaves em cima do balcão da cozinha e passo direto para o banheiro, onde uma ducha quente me aguardava.

Minha cabeça doía a cada esforço que eu tinha que fazer para me mover, mas consigo chegar ao chuveiro, onde deixo a água escorrer pela minha pele, levando todo mal estar para fora do meu corpo.

Hoje havia sido um dia difícil. Além de ter acordado atrasada para o trabalho, também cometi o erro de derrubar meu almoço e perder a minha parada no metrô, tendo que andar mais do que estou acostumada para conseguir voltar para casa. Tudo isso junto do meu estresse pré menstrual que havia vindo mais cedo para o meu desânimo.

Quando minha pele começa a avermelhar eu percebo que já faz tempo que estou debaixo do chuveiro. Quero ficar mais porém a conta no fim do mês me dá um motivo para sair.

Enrolo uma toalha em volta do corpo e outra no cabelo, saindo do banheiro, seguindo até meu quarto.

O lado bom de morar sozinha é poder andar como preferir dentro de casa. Não há ninguém ali para te criticar e eu sempre prezei muito por isso. Não que na casa dos meus pais eu não tivesse liberdade ou privacidade, mas é diferente. Na sua casa você tem o controle do que lhe convém ou não fazer e ninguém vai te punir por coisas simples como deixar a roupa jogada pelo corredor.

Mas nem tudo é tão fácil. Assim como os prós, os contras também estão inclusos, então se você não retirar a roupa do corredor e botar para lavar, ninguém fará por você.

Estico o pescoço, sentindo o osso estralar. A tensão em volta do músculo havia se dissipado um pouco com a água quente.

Retiro a toalha do corpo, passando pelos locais que ainda estavam molhados, sentindo minha pele arrepiar devido a uma brisa fria que entrava pela janela que acabei deixando aberta antes de sair nesta manhã.

Largo a toalha no chão e caminho até a janela para fechá-la, quando acabo tomando conhecimento de algo.

As luzes do apartamento em frente ao meu estavam acesas. Estranho, pois não havia visto nenhuma movimentação lá nos últimos dias, nem um indício de que alguém havia se mudado para aquele andar.

Mas, aparentemente alguém havia se mudado para lá.

Um homem estava sentado em um sofá, virado para a sacada aberta, em uma posição relaxada, com uma taça de algo que deduzo ser vinho nas mãos. Subo o olhar para seu rosto, notando mesmo de longe, uma expressão de surpresa e confusão nele.

Só então me dou conta de que não estou vestindo nada. E que aquele homem provavelmente tem uma visão bastante privilegiada do meu corpo exposto.

Sinto meu rosto esquentar feito carvão em brasa. Saio de onde estou, correndo para pegar a toalha caída no chão e me cobrir. A vergonha me deixa paralisada por um momento, mas fica pior quando penso sobre o que acabou de acontecer.

Um homem desconhecido havia me visto nua.

Coloco o rosto nas mãos, mas o que queria fazer mesmo era enfiar a cabeça em um buraco e não tirá-la de lá.

Eu tenho o costume de me trocar com a janela aberta pois até alguns dias atrás não havia ninguém ocupando o apartamento do prédio da frente, então não via necessidade de fechar as cortinas já que moro no décimo segundo andar e ninguém na rua ou nos outros andares do prédio poderiam me ver. Penso que devido a correria no trabalho acabei não percebendo a mudança e também não tinha feito questão de observar com afinco já que por algum motivo pensei que não fosse preciso.

Play With FireWhere stories live. Discover now