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O movimento da cafeteria era mínimo nas manhãs de terça-feira, motivo pelo qual eu optava por tomar café aqui nesse dia.

A decoração simples, puxada mais para um ar natural, cheio de plantas e flores espalhadas pelo local, o que me ajudava a relaxar. Além do capuccino maravilhoso que eles serviam.

Me sento em uma mesa mais afastada, procurando por privacidade, enquanto espero meu pedido. Abro um livro que havia levado para terminar ali e começo a ler, ansiosa para saber o fim da história.

Estou tão entretida na narrativa que nem ao menos vejo quando alguém para ao meu lado, tomando um susto quando o ouço me chamar.

— Desculpe, não quis te assustar — diz uma voz masculina.

Uma voz que eu conhecia.

Olho para cima, dando de cara com Rodrigo ali. Ele estava como na vez que nos vimos pessoalmente, usando roupas casuais mas sempre com aquela aura séria o rodeando.

Mas ele parecia um tanto diferente dessa vez. Não entendo de imediato o que exatamente me faz tirar essa conclusão, mas associo isso ao fato de que já fazia algum tempo que não o via.

No começo da semana passada, quando espiei para ver se ele estava no seu lugar costumeiro, notei que o sofá estava vazio, sem nenhum sinal de que Rodrigo havia estado ali.

Fiquei confusa e, por mais que me obrigasse a nunca admitir isso em voz alta, chateada pelo seu sumiço. De início pensei que ele poderia apenas estar muito ocupado para não aparecer então deixei de lado.

Mas então ele não apareceu no dia seguinte. Nem no próximo. E continuou assim, até hoje.

— Oh, não. Eu estava distraída mesmo — explico, marcando a pagina e deixando o livro de lado.

— Aqui — ele deposita a xícara em suas mãos em minha frente.

Rodrigo não faz menção de se afastar, isso me dá a oportunidade para perguntar:

— Você trabalha aqui? — espio seu torso, notando a falta de um avental que diferenciava os funcionários.

— Na verdade não, eu estava na fila quando ouvi o atendente chamando pelo seu nome, mas aparentemente você não estava ouvindo. Então tomei a liberdade de pegar para você — explica.

— Obrigada — indico a cadeira à minha frente — não quer se sentar?

Meu vizinho se acomoda no assento á minha frente, enquanto eu tomo do capuccino.

— O que você está lendo? — me surpreendo com sua pergunta.

— Ah — viro o livro com a capa para cima, mostrando o título de "Verity" — é um livro de suspense que ganhei de presente de aniversário mas enrolei alguns meses para começar a ler.

— Posso pegar? — concordo, minha mente fugindo para outro lugar inapropriado.

Ele folheia algumas páginas depois de ter lido a sinopse e deixa o livro sobre a mesa com cuidado.

Mexo meu café, desconfortável com o silêncio. Sinto os olhos de Rodrigo em mim mas não me atrevo a encarar de volta.

Como pode isso? Fiquei a semana pensando sobre o que poderia ter acontecido com ele e querendo que ao menos ele desse um sinal de vida e agora quando o vejo, viro uma completa covarde.

— Como tem passado? — a voz de Rodrigo me ganha a atenção e eu olho para ele, contemplando suas íris castanhas me fitando.

— Estou bem — largo a colherzinha dentro da xícara — e você?

Play With FireOnde histórias criam vida. Descubra agora