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Duas semanas depois

Chego em casa mais cedo do que o costume, pois havia adiantado tudo no serviço e consegui terminar todas as tarefas de hoje com antecedência.

As últimas semanas foram uma loucura. Tive que correr para dar conta de tudo, mas no fim acabou dando tudo certo.

Passo pela portaria, cumprimentando o Sr. José, o porteiro do prédio, que ao me ver acena e faz um gesto sinalizando para eu ir até ele.

— Chegou isso para você — ele me estende uma caixa média e eu agradeço, antes de seguir até o elevador.

Não consigo conter minha curiosidade e enquanto estou esperando o elevador, abro a caixa, espiando lá dentro, descobrindo que se tratava de uma lingerie que comprei no mês passado e que havia me esquecido completamente.

O que faz sentido já que nem ao menos me recordo do porquê comprei isso. Mas devo confessar que estava doida para experimentar. Talvez eu faça isso essa noite.

As portas metálicas se abrem e eu entro no elevador, apertando o botão do meu andar, ainda de olho dentro da caixa, encantada com o conjunto de renda rosa claro. Alguém pede para segurar as portas e eu consigo impedir o elevador de se fechar, quase derrubando a caixa no processo.

Um homem entra no meu campo de visão e assim que meus olhos batem nele penso estar alucinando.

Ele entra no elevador, um sorriso ensaiado no rosto, que quando me vê murcha para uma expressão genuína de surpresa.

Era o vizinho do apartamento da frente.

De início nossa primeira reação é olhar um para o outro, sem saber ao certo como proceder.

Digamos que desde meu surto de ter ficado nua para ele eu venho repetindo isso todas as noites.

Sim, eu tenho ciência de que é a coisa mais idiota que eu já possa ter feito na vida, ainda mais para um desconhecido. Mas toda vez que eu passava em frente a janela do meu quarto e o via relaxado no sofá, um lado obsceno meu, do qual eu não sabia que existia até então, vinha à tona e eu me entregava àquela experiência sem pensar muito.

Mas o que me deixava mais instigada em fazer isso sempre era o fato de que ele nunca sequer triscou um dedo em si mesmo. Todas as vezes em que eu aparecia nua ele apenas me analisava cuidadosamente, praticamente me devorando com o olhar, mas era apenas isso.

Confesso que gostei disso. Ter toda aquela atenção focada em mim era maravilhoso, ainda mais vindo de um homem como ele.

E, meu Deus, que homem.

Seus traços eram maduros, o rosto simétrico carregava uma barba por fazer com poucos fios brancos. O cabelo bem penteado dava um ar mais sério a sua imagem, diferente da roupa casual que ele usava.

Eu sabia que ele era bonito, mesmo vendo muito pouco de sua aparência, mas não esperava tudo isso.

Meu vizinho também não perde tempo em me analisar, mas consegue ser bem mais discreto do que eu. Seus olhos passeiam rapidamente por mim antes de pararem no meu rosto.

Não sei como encontro minha voz, mas de algum jeito consigo fazer minha boca funcionar.

— Oi — digo baixo.

Play With FireWhere stories live. Discover now