Capítulo 3

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Um sopro forte estimulado pela sobrevivência, um impulso em busca de oxigênio. Ainda despertava quando seu corpo se pôs automaticamente de pé.

Imediatamente foi punido por uma forte tontura que o desequilibrou, tentou usar suas pernas e braços para se manter, porém sequer os sentiu. Caiu com o rosto de volta à neve fria.

Como estava vivo era uma ótima pergunta a se ponderar. Seu corpo estava totalmente anestesiado e dormente pelo frio, enquanto se tremia com o frio extremo. Contudo podia sentir uma dor insuportável em seus pulmões enquanto suas narinas buscavam incessantemente por oxigênio.

Ainda nessas situações, escolhido pela sorte e pelo destino que não era a hora de partir, novamente se levantou. Constatou os arredores enquanto se abraçava e se encolhia nas roupas que sequer pareciam estar ali, notou a escuridão da noite e o inerte da floresta consumida pela neve. Por quanto tempo esteve soterrado? Desnorteado, não poderia saber da resposta.

Em passos lentos, obrigou seu corpo exausto e trêmulo a caminhar, no entanto caiu logo em seguida. Vivendo no automático, não reclamou, não pensou ou raciocinou, somente ficou em joelhos outra vez. Parecia programado a sair dali e só isso. Mas pela primeira vez as recordações vieram a sua mente. Estava com os caçadores quando lagartos estranhos os atacaram... e então? Não se lembrava tão bem do que veio a seguir.

Novamente se levantou, somente para tropeçar e cair de joelhos em algo duro. Pôs suas mãos no chão para se reerguer, sentindo tocar em uma pedra ou madeira, mas pelas cores que captou na escuridão, não poderia se tratar disso. Arriscou suas mãos à frieza e limpou a fina camada de neve que escondia seja lá o que havia ali.

Roupas de couro. Foi o que encontrou. Mas elas vestiam alguém. Tateou e segurou algo semelhante a um braço, então fez força para puxar e desenterrar aquele corpo pálido e teso. Limpou a neve do rosto do mesmo, o reconhecendo de imediato. Era a única face que precisa reconhecer, afinal de contas. Manteve seus olhos doloridos naquele homem sem vida, mas não por muito tempo. O instituto de sobrevivência o lembrou que estaria daquela mesma forma em instantes se não se apressasse.

A caminhada para fora da floresta foi difícil, e na verdade, ele não fazia ideia para onde estava indo. No fundo, ele nem fazia ideia que estava vivo. Apenas caminhava como um zumbi gelado, um morto-vivo que ressurgiu do além em busca de qualquer ambiente minimamente acalorado, embora a neblina a frente dificulte a missão. No céu não há lua, nem estrelas, e isso traz aos olhos o breu total. As nuvens densas e esbranquiçadas voltaram a derrubam flocos de neve de si, em companhia com a ventania forte e gelada que a espalhava pelos quatro cantos.

Mal podia sentir seu corpo, e continuou, com a certeza que morreria em breve, como seu pai. Porém, o destino lhe trouxe a recompensa da perseverança, e finalmente sua córnea captou construções ao longe. Se parecia um muro de vilarejo e algumas casas logo após. Meio a tropeços em exaustão, logo a névoa revelou um um portão de madeira. Não pensou duas vezes, usou toda a força que lhe restava e empurrou a porta de entrada.

Localizou resmungos vindos de uma casa próxima dali, e usou a audição para se guiar até eles. Quando viu uma luz fraca, seu coração acelerou e sentiu uma grande vontade de correr até lá, no entato quase não sentia as pernas por tão gélidas, então teve que ir em passos lentos até à direção, ficando de frente para um homem aborrecido que usava uma pá para tirar a neve de dentro de sua residência.

- Oi... - teve dificuldades na fala por seus lábios estarem dormentes.

O residente apenas ficou o observando com os olhos estreitados. As cordas vocais de Spency pareciam congeladas e falar era uma tarefa quase impossível, mas se esforçou como pôde.

Hutbus IslandWhere stories live. Discover now