Prólogo

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Liam Payne é um cara otimista.
Sempre tenta ver o lado bom das coisas, e mesmo que tudo pareça estar prestes a desabar, ele tem aquela carta na manga que faz toda a merda parecer - mesmo que seja só um pouquinho - menor. Quando era jovem e quebrou o braço, apesar da coceira e da dor, ainda conseguiu transformar o gesso branco e feio numa tela de pintura onde ficou dois dias inteiros dedicado a fazer uma obra de arte. Não deu muito certo, mas ao menos ele tinha algo com cor no braço ao invés de uma imensidão branca sem graça;
Mas a questão é, nem mesmo Liam consegue ser otimista quando tudo o que você construiu está prestes a desabar; quer dizer, ele está tentando encontrar soluções, mas isso não quer dizer que vá conseguir.

— É uma merda. — Louis Tomlinson, o melhor amigo de Liam - um rapaz baixo de olhos azuis e corte de cabelo idêntico ao de Tommy Shelby da série Peaky Blinders - afirma sem mais delongas. Louis nunca foi do tipo cauteloso, se for questionado, ele vai dizer o que pensa, não importa se for parecer grosseiro. Se sua opinião foi pedida, será dada. — Pensei que era uma obra de arte abstrata cheia de bolor.

É mesmo muito ruim.

— Acho que posso dar um jeito no mofo, pano úmido e vinagre...acho que li isso numa matéria uma vez. Talvez um pouco de tinta... — Payne encara fixamente o mofo. A crosta na parede já deixou de ser verde, e começou a ficar branca, o que o faz temer que um pano úmido e um pouco de vinagre, não vá realmente resolver nada.

— Posso processar esse lugar por pelo menos cinco irregularidades, e nem entendo nada da área sanitária. — dessa vez quem diz é Harry Styles, o marido do melhor amigo. Cabelos longos presos num coque perfeito, vestindo uma camisa social com os primeiros botões abertos que lhe cai perfeitamente bem ao corpo e óculos escuros esculpindo seu rosto, ele destoa de tudo ali.

E um fato sobre o desespero é que ele mexe com a cabeça das pessoas.
Em geral é perceptível quando se está numa situação de perigo iminente, mas quando o momento tem um problema velado, há pequenos sinais que demonstram o sentimento consumidor de pânico. Como por exemplo, a tolerância fica muito maior; Liam continua encarando o mofo, numa tentativa insistentemente de encontrar resoluções para o minúsculo apartamento onde está com seus dois amigos. Mas o lugar é de fato horrível, tudo cheira a meia velha, eles encontraram com um camundongo pelo corredor quando chegaram e a maioria das portas simplesmente não fecha, mas Liam ainda pensa que talvez não seja assim tão ruim.

— Se for ficar numa coisa dessas é melhor vir morar com a gente, pelo menos não vai pegar nenhuma doença ou até coisa pior... — Louis analisa um sofá de cor indistinguível deixado ali pelos donos anteriores enquanto fala. Pensando que se tentasse colocar fogo no móvel nem mesmo isso o destruiria.

Payne finalmente desvia o olhar do mofo ao escutar a frase. Morar com o casal não era exatamente uma opção porque, primeiro: eles tinham acabado de adotar uma filha pela qual ficaram um ano esperando para serem aprovados, e se sentia como uma segunda criança pelo qual o casal seria responsável. Segundo: Louis e Harry tinham comprado a casa a alguns meses e dividiram-na em prestações que durariam toda a sua vida, e Liam não quer ser outro problema. E terceiro: o castanho é um tanto quanto orgulhoso.

— Então, o que acham? Vão ficar com o lugar? — os três rapazes são despertados por um homem ainda mais baixo que Louis, um topete desmanchando em sua cabeça, o paletó de marca barata amassado e um sorriso torto completavam o visual de corretor de merda.

Liam olha com sua rotineira esperança para seus acompanhantes. Mas Louis continua encarando o sofá enquanto agora o toca suavemente com o pé para ouvir o rangido que ele faz ao ser balançado, enquanto Harry tem uma expressão de nojo visível no rosto apesar dos óculos.

Droga.

— Hm, eu tenho seu número, entro em contato com você caso decida ficar com o apartamento.

Na volta pra casa Payne teve que recusar por cerca de cinco minutos a carona que os amigos lhe ofereciam. O carro que vendeu a alguns meses não fazia uma falta real em sua vida. Ele até gostava do tempo que perdia usando o metrô, sempre com a desculpa de que o caminho ajudava quando passava em frente a sua cafeteria preferida e se entupia de chá verde com limão. Mas às vezes, quando ele está extremamente cansado, se pergunta porque não vendeu um rim ao invés do automóvel.

Quando Liam adentra seu atual apartamento - por pouco tempo já que a ordem de despejo chegou ontem em seu e-mail -, o otimismo parece morrer um pouco mais, o lugar que antes era tudo o que havia sonhado, agora havia se tornado um espaço vazio. Payne precisou vender praticamente todos os seus móveis para pagar as incontáveis dívidas da sua confeitaria que pareciam aumentar cada vez mais.

Depois de adentrar o lugar deixou sua mochila no chão, - porque não havia mais uma estante - caminhou até a cozinha e tirou da geladeira uma garrafa de vinho. Se sentou no chão - porque não havia mais mesa de jantar e muito menos cadeiras - e deu um longo gole na bebida. Sua cabeça repousou para trás na porta da geladeira fechada.
Encarou todo o nada à sua frente enquanto no fundo da sua cabeça a pergunta que ficava rodando era: como deixou isso tudo acontecer?

Talvez seus pais estivessem certos, é loucura largar a empresa que odeia trabalhar - mas onde ganha bem - e abrir uma confeitaria estúpida. Pensou que suas economias durariam mais alguns meses, pelo menos até ele conseguir se restabelecer, mas tudo sumiu tão rápido da sua conta bancária que pareceu um truque de mágica.

Puff.

Liam pensa em dar outro gole no vinho, mas sabe que depois do segundo, não conseguiria parar. Larga a garrafa porque não pode estar de ressaca quando acordar às sete da manhã para abrir a confeitaria.

Uma lágrima solitária escapa do seu olho e desliza por sua bochecha. Considera voltar para a empresa de finanças do seu pai, ou quem sabe pedir um dinheiro emprestado. A aventura tinha sido legal, mas às vezes é preciso saber parar.

O som do seu celular o desperta e o faz resmungar, é o barulhinho do aplicativo de aluguéis de imóveis.

Mesmo sem muito ânimo, pega o aparelho no bolso de trás da calça. Desbloqueia a tela imaginando ser outro apartamento minúsculo que mal o cabe, cheio de mofos e rachaduras.

A frase: Achamos um lugar perfeito pra você! brilha na notificação.

Liam abre o anúncio.

Love lives next door - FanficWhere stories live. Discover now