3 • Deux ans depuis que le rouge peint en rose

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Já fazem dois anos

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Já fazem dois anos.

Cinco de outubro de 2020.

Segunda-feira, uma da tarde.

Esse foi o momento exato que tudo começou, bem ali, num quarto relativamente escuro, cujo a única fonte de luz era proveniente do abajur em cima da cômoda branca; acho que o tempo estava nublado e — naquele momento em que li versos de sangue carmesim selando a carta do meu futuro — tudo parecia tão calmo e etéreo... Devia ser o sopro sorrateiro do destino, a benevolência em sua face mais crua, tramando criar uma sensação gostosa e inesquecível, a misticidade rodeando o ambiente para que jamais pudesse ser esquecido; ele, o destino, previa o que aconteceria naquela tarde e sabia que tudo precisaria ser lembrado.

Não imaginei que aqueles míseros segundos, em que parei para decidir ler algo, alteraria todo o curso da minha história. Quando o vermelho dela tingiu meu cinza, que lentamente se descoloriu e virou rosa; rosa moldado por vermelho; a doçura em sua verdade mais caótica. Mas estou me adiantando, já que, antes disso, houve um breve prelúdio que anunciasse o Caos iminente.

Quase um ano antes, em outubro de 2019, se anunciava o início da minha queda; um post inocente do twitter de título: "Bem-vindo a "Vermelho do Caos", minha próxima fanfic. Esse é o EVIL, Banda de indie rock, rock de garagem e relacionados." passava pela minha tml; intrigada, foi como fiquei. Apenas vi aquelas fotos e instantaneamente me vi encantada; não lembro o porquê não pude ler a postagem inteira, provavelmente estava corrida com alguma coisa, então simplesmente salvei aquilo, na esperança de finalmente ler quando tivesse tempo; fui tola, porque quando lembrei do breve encanto, havia perdido aquela postagem no meio dos itens salvos (será que realmente a salvei, ou fui enganada pela minha própria mente?) e fiquei extremamente chateada por isso. Acho que ainda não era o momento.

Algum tempo se passou e uma amiga me recomendou uma fanfic, Vermelho do Caos; não me lembro se cheguei a ler a sinopse antes de adicionar a biblioteca, mas lembro que achei a capa extremamente bela e hipnotizante; o vermelho começava a dar mais de seus sinais, sorrateiro, hipnotizando-me com o soar musical de sua flauta doce, me cercando como uma presa indefesa, incapaz de escapar de sua sedução.

Em agosto de 2020, tive o primeiro vislumbre dela, a moça com covinhas e sorriso bonito. Uma postagem – outra vez – passando pela minha timeline do twitter com Dynamite na legenda; ela estava usando uma blusa amarela e um óculos de mesma cor sobre os cabelos presos, a blusa possuía mangas e ela usava uma chocker vermelha. Pensei "Uau, que moça bonita", completamente fascinada pelos olhos grandes e pelo brilho que ela emanava, atraída pelo seu campo magnético que me alcançava mesmo através da tela de um celular. Entretanto, acho que também ainda não era a hora de conhecê-la, pois, antes que pudesse entrar em seu perfil, o twitter – com sua mania perversa e catastrófica – atualizou a página e me fez perder a linda imagem quimérica pela qual meus olhos haviam se apaixonado.

O momento decisivo se fez presente naquela mesma rede social azul ilustrada com o passarinho branco, quando me vi presa pela caracterização dos personagens na história. Os vi pela primeira vez. O moço de neve, a substância primordial e dicotômica do profano misturado a doçura de Shakespeare; olhos claros em contraste com as mechas de vermelho caótico nos cabelos; todas as linhas retilíneas cravadas nos livros de poesia, transcrevendo amor, deveriam ser sobre ele. E, além do moço de neve, havia o poeta de aparência delicada, que sempre sangraria versos de sangue e choraria lágrimas de sal sobre tudo que o tocasse; adornado por presilhas bonitas e maquiagens bem elaboradas, ele era a epítome do encanto que se fazia presente nos contos de fadas. Os vi e tentei resistir, mas não consegui. Suas imagens estariam cravadas em minha mente para sempre, queimando sinapses descontroladamente e causando a euforia que nenhuma droga química poderia sintetizar.

Enrolei por quase um mês, até não conseguir mais aguentar; precisava ler, precisava descobrir, precisava ter a pele manchada por vermelho, uma tatuagem sensorial que jamais seria esquecida. Virtú e Fortuna, os conceitos mundialmente conhecidos de Maquiavel se fazendo tangíveis ao toque; a fortuna me assolou muitas vezes, mas apenas quando tive a virtú pude aproveitá-la.

Então quando chegou naquela tarde banhada de virtú, eu li. Eu li seguidamente, parando muitas vezes para digerir cada frase, ponto final e vírgula que meus olhos viam; eram sete da manhã do dia seguinte quando terminei de ler. Eu não conseguia acreditar, era intragável digerir que havia acabado, tão rápido quanto veio, havia partido e a dor da despedida se tornou a minha maior inimiga desde então. Foi uma epifania literária, palavras queimando meu peito feito brasas no ferro de encontro a pele fria. Mas não tinha importância, a chuva de verão cobriu o ardor com seu frescor passageiro, deixando apenas a marca bonita, uma mancha vermelha no meio do cinza; a mancha que escorreu e deixou rastros cor de rosa.

Precisava ler de novo, então eu li.

Uma, duas, três vezes, até que vermelho caótico que era escrito pelas mãos da garota com covinhas me cobrisse por inteiro, descolorindo o cinza que cobria o meu rosa; um rosa cheio de poesias que eu não sabia existir. A Labadessa foi muito importante, me fez questionar: Eu poderia escrever daquele jeito? Sempre fui apaixonada por Shakespeare e palavras bonitas carregadas de sentimentos, mas sempre as achei tão intangíveis ao toque que jamais pensei que poderia escrevê-las. Fanfics poderiam ser escritas daquele jeito? Poderiam carregar uma linguagem tão bonita e complexa? Não sabia de tal fato, por mais tolo que isso possa soar. Alguém como ela, alguém real e não nomes clássicos numa estante, foi capaz de criar a coisa mais linda e encantadora que meus olhos já haviam lido, então... eu poderia tentar também? Então eu tentei, me derramei em rosa por todos os cantos, fazendo uma bagunça que foi se ajeitando aos poucos; ainda não acho que eu seja uma verdadeira poeta, mas estou sempre em busca de me tornar, tudo isso inspirado por ela.

Um vulto; um conceito; como ela mesma diz. A materialização quimérica de um devaneio ilusório de verão, a epítome da beleza e o arquétipo perfeito de Clarice Lispector. Labadessa: o nome composto por nove letras que estaria marcado para sempre nas páginas do meu destino, no capítulo crucial que o acaso quis escrever. O frio na barriga, as borboletas no estômago, o anseio da paixão, a lamúria eterna de amar e temer o destino final disso, tudo proporcionado por ela.

Dia Vinte e um de junho de 2020, Festival de Verão em Samanda, data em que se comemora o solstício, pintada pelo pertencimento de um calor efusivo de paixão, dia em que um certo alguém pertenceu ao Caos.

Dia Cinco de Outubro de 2020, uma data qualquer no calendário gregoriano de dois anos atrás, outono no hemisfério norte e primavera no hemisfério sul, um dia pouco especial para outros, mas para mim, o dia em que tudo mudou seu curso, em que a poesia me capturou e me atraiu até o seu precipício. O dia em que me perdi em versos sobre amar pela primeira vez, que pertenci ao Caos, e foi difícil, foi difícil compreender logo de cara, não era fácil interpretar algo tão singelo e cheio de sentimentos, mas eu amei a dificuldade de me perder em palavras escritas por ela e amei mais ainda me perder em palavras escritas por mim.

Obrigada.

Obrigada por ser o vermelho que me mostrou o meu rosa, Labadessa.

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⏰ Last updated: Oct 05, 2022 ⏰

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