Problemas no paraíso

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Ochako se sentia sozinha, Deku estava ao seu lado por puro enfeite. Estava cansada de brigas, cansada de não o encontrar quando precisava, cansada de ouvir desculpas esfarrapadas, cansada de dormir segurando o telefone e cansada dos atrasos. Era sempre assim, todo esse caminho já sabia de cor. 

Eram as mesmas desculpas de sempre: "estava treinando para sair do 5° lugar", "estava ocupado com eventos publicitários", "apareceu uma missão de última hora" ou provocando Bakugou, com quem disputava pau a pau quem seria o próximo n°1. 

Primeiro sempre a deixava só, o segundo era não atender e o terceiro era se arrepender. Dessa forma, Ochako foi deixando de ser importante foi sendo deixada de lado, deixada para outra hora. Já tinham conversado sobre isso, ele mudou por uma semana e depois começou tudo de novo. Era um ciclo vicioso, do qual a castanha já estava cansada. Cansada não, exausta.

Checou pela última vez sua caixa de mensagem, ela o esperava em um restaurante italiano chique, estavam planejando há meses ir lá, a castanha sempre ouviu os amigos falando sobre como a comida era maravilhosa e os vinhos calhavam bem com a massa. Economizou durante todos esses meses para poder conhecer o lugar, contou moedinha por moedinha.

Não era apenas um encontro aleatório, era para ser a comemoração de cinco fodendo anos juntos, ela se arrumou como não fazia há tempos, um vestido vermelho que marcava bem suas curvas, o cabelo meio preso e meio solto, com uma maquiagem leve nos olhos, mas um batom marcante nos lábios. Ela estava vestida para matar, porém mais uma vez ele a deixou na mão, já deveria prever que isso aconteceria, ele sequer lembrava do que seria comemorado no dia.

Ela sentia saudades de seu antigo Izuku, aquele menino da U.A que sempre honrou os compromissos, saudades daquele Midoriya que sempre estava ali para ela. A morena olhou ao redor e deu um longo suspiro. Claro que ela o entendia, bom pelo menos uma parte, afinal também era uma heroína. 

Fazia tempo que isso vinha a comendo por dentro, será que estava sendo egoísta? Ela sempre soube os objetivos dele, mas poxa, quando foi a última vez que ele saiu com ela? Quando foi a última que chegou no horário marcado? A última vez em que ele realmente passou um tempo com ela sem falar de competições, sem criticar o estilo de vida de Bakugou, de missões e qualquer outra coisa que envolvesse trabalho? 

Ela era Ochako Uraraka, a pro-hero Uravity, não merecia meio amor, meias palavras, meios carinhos. Ela merecia algo por inteiro, um amor intenso, um namorado presente, alguém que realmente estivesse ao seu lado, como era no começo. E mais uma vez, lá estava ela apegada ao passado novamente.

Conferiu o horário novamente e decidiu que não iria o esperar, pediu sua refeição e apreciou sua própria companhia. Merecia aproveitar aquele resto de noite, economizou muito para sair dali de barriga vazia. Ela estava decidida, precisava dar um basta em toda essa situação, precisava juntar os caquinhos, o resto de amor próprio que lhe sobrou e sair daquela situação.

O caminho até em casa foi tranquilo, cheio de reflexões, dúvidas e incertezas. Chegou em seu apartamento e se jogou no sofá, seu corpo estava pesado, sua cabeça doía com tantos pensamentos e sentia uma angústia em seu peito e sabia muito bem o motivo, era por culpa dele. Doía pensar em deixá-lo, machucava ter que pôr um ponto final em uma história de cinco anos. É tão difícil deixar quem nos quebrou, difícil acreditar que encontrará alguém que vá lhe fazer feliz igual ele fez. 

Suas amigas já a tinham aconselhado, ela não queria aceitar no começo, negava dizendo que elas estavam vendo coisas demais, porém mais uma vez ele tinha feito isso. Midoriya era um doce quando estava presente, sempre fazia as vontades da castanha, mas realmente valia a pena continuar uma pessoa que estava mais ausente do que presente?

{...}

A castanha acordou em seu sofá, seu corpo estava levemente dolorido e com razão, onde já se viu dormir no sofá quando se tem uma cama? Culpa dele. 

Olhou em seu celular e não estava na hora de levantar, odiava quando isso acontecia. Em plena segunda-feira e isso já tinha acontecido, não precisava nem pensar muito para saber como seria turbulenta essa semana. 

Já estava acordada e sabia que não iria conseguir voltar a dormir, se levantou e caminhou se arrastando em direção ao banheiro, iria tomar banho para acordar e em seguida iria para a agência, por que não converter toda aquela raiva e angústia em treino? Era uma ótima ideia. 

Se deu ao luxo de comprar um mochi de morango em sua cafeteria preferida, seria um dia de merda, só precisava fugir um pouquinho da realidade. Além do mais, iria converter toda aquela caloria durante o treino, então sem julgamentos. 

A academia da agência estava vazia, só o pessoal do noturno que se encontrava e bom, eles não estavam afim de malhar bem no fim do plantão. Guardou suas coisas no armário e pegou seu celular com os fones, iria imaginar que aquele saco de pancadas era Deku e que estava chutando a bunda dele. 

Estava tão concentrada em seu objetivo que não percebeu a presença de mais alguém na academia, só voltou a si quando sentiu um leve cutucão em seu ombro. 

— Está tudo bem, cara de lua? —  Bakugou perguntou tentando disfarçar a preocupação. Ele havia mudado desde os tempos de U.A, mas não queria se intrometer em assuntos pessoais, eles não eram tão íntimos assim, só faziam algumas rondas juntos e mantinham a boa convivência.

— Bom dia, Bakugou — sorriu tímida — Claro que está — tentava disfarçar, mas sempre foi péssima em mentir — E você? 

— Estou bem — disse com seu ar sério de sempre — Tem certeza que está bem? — disse a olhando nos olhos — Você não costuma vir tão cedo e está quase partindo o saco de pancadas — observou. 

Ochako suspirou convencida de que não iria conseguir enganá-lo — Você sempre foi um bom observador — disse em um tom baixo — Desculpa estar quase destruindo um equipamento de sua agência — disse cabisbaixa. 

O loiro havia entrado de sócio da agência de Todoroki depois que Endevor aposentou, no começo ele não parecia gostar muito e agora, bom parecia estar no começo. Katsuki sempre foi discreto quando se tratava de pessoais, difícil saber se estava gostando ou não. A única emoção notável era quando estava com raiva, aí meu caro leitor, ninguém ficava na frente.

— Está tudo bem — deu um leve sorriso de lado — O que está acontecendo? Problemas no paraíso? — tentou não soar irônico. 

— Não sei se você vai querer saber — deu de ombros — Além do mais, agora é o único momento que você tem para treinar e eu não quero te atrapalhar — fitou seus dedos com as luvas. 

— Podemos revezar o saco de pancadas? — olhou esperançoso, realmente queria ajudar a colega. 

A castanha o olhou analisando sua expressão séria, tentava achar uma brecha dizendo que ele não queria ouvi-la, mas tudo o que encontrou foi uma indicação de que ele não sairia dali sem ouvir o que estava acontecendo — Fechado — disse pretensiosa. 

O loiro se preparou atrás do saco, segurando de forma que a garota pudesse descontar sua raiva sem se machucar — mais do que já estava. Ela começou a chutar, cada chute mais forte — Então? — ele pronunciou. 

— Problemas no paraíso — ela iniciou — Deku sempre ausente, nunca está e eu cansei disso — disse o básico para ele, não queria o encher com aquela baboseira.

— Eu não tenho muitas experiências em relacionamentos, só tive um em 22 anos, mas algo que aprendi com Camie é que não merecemos migalhas — mantinha seu tom calmo. 

— Como sabe do que estou falando? — perguntou curiosa por ele ter ido direto ao ponto. 

— Bochechas, vocês estão há cinco anos juntos e até agora não assumiram, Deku vive mais na agência e em missões do que com você, se importa mais com uma competição idiota do que estar presente para você — disse de forma simples — Qualquer idiota percebe, basta prestar atenção — respirou fundo e a fitou — Já tem um tempo que eu percebi que essa competição com ele não vai levar a lugar nenhum, que se foda ser o próximo número um.

A verdade é que Bakugou já esteve no lugar dela. Logo depois de se formarem, Camie foi fazer sua carreira no exterior, eles tentaram manter um relacionamento a distância, mas a loira nunca estava presente e o explosivo sempre estava lá. Esse era o mal dele, não se entregava pela metade, se entregava por completo, daria mais do que o necessário para fazer a relação valer a pena.

— Sua vez — Ochako disse a ele enquanto absorvia suas palavras — Eu sei que você está certo, já tinha me convencido disso ontem à noite — suspirou — Por que é tão difícil partir de quem nos partiu? Eu sempre falo que mereço mais, que não vou voltar para ele só que — suspirou — Eu sempre volto — seu tom de voz era baixo. 

— Temos medo do novo, medo de não achar alguém que nos ame novamente. Medo de ninguém aceitar nossos defeitos e acima de tudo estamos acostumados — ele sabia muito bem o que estava falando — Cara de lua, você é uma mulher incrível e sério, não se contente com metade, mete o foda-se para esse babaca — ele sentiu seu rosto ruborizar, não era de o feitio fazer elogios desse tipo, mas era um momento delicado. 

Agora a castanha segurava o saco enquanto o amigo chutava, estava surpresa. Não conhecia aquele lado do loiro, estava se sentindo à vontade para conversar. Ao contrário das amigas, ele não soltava nenhum "eu te avisei" ou "já te disse para abrir mão", simplesmente ouvia e dava conselhos. 

— Eu acho que me perdi — confessou ao amigo. 

— Todos nós nos perdemos, Deku também se perdeu — disse cansado depois de uma série de chutes. 

— Você se reencontrou? — perguntou sem rodeios. 

Reencontrar , está aí algo difícil de fazer. 

— Estou no caminho — lhe olhou nos olhos — Não é algo tão simples, muitas coisas mudaram, é preciso ser paciente — suspirou — Dei um tempo a si mesmo — sorriu.

Aquela era uma das raras vezes que ela o via sorrir. Uraraka gostava de Bakugou, ele era um excelente amigo, estava sempre disposto a ajudar e sempre pé no chão. Antes era um verdadeiro pé no saco, gritava com todos e a boca era tão suja quanto uma rua, mas anos se passaram e o loiro aprendeu a lidar com seu gênio forte.

— Obrigada, Bakugou — sorriu. 

— Você sabe que pode contar sempre comigo, por mais que não pareça — riu e a olhou docemente — Você é especial, Ochan e merece alguém bom. 

— Eu sei — suspirou.  

Os dois continuaram treinando ali por mais um tempo, porém os outros heróis começaram a chegar e Katsuki precisava assumir sua posição de vice chefe, se despediu da amiga e seguiu para o escritório. Em sua sala, pensava o quanto foi bom conversar com Ochako, deveria fazer isso mais vezes, estava sentindo falta de ter um amigo por perto e sabia que ela iria precisar de um amigo, mesmo que tivesse bastante.

Já Ochako sentia o peso das palavras de Bakugou, se até ele que via a relação dos dois a distância sabia o que estava acontecendo, por que o próprio Midoriya não sabia? Realmente, ela precisava rever suas prioridades. 

Assim que encerrou seu treino, foi até o vestiário da agência e tomou um banho, precisava fazer curativo em alguns cortes no pé, realmente exagerou nos chutes. Se sentou no banco em frente ao seu armário e se concentrou em passar pomada nos cortes. 

— Finalmente te encontrei — uma voz doce ecoou pelo local — Te procurei por todos os cantos, fui até a sua casa — a figura do esverdeado apareceu em sua frente — O que aconteceu? — perguntou ao ver os machucados.

— Treino matinal com o Bakugou — disse ríspida. 

— Desde quando vocês treinam juntos? — perguntou surpreso. 

— Desde quando você se importa com algo relacionado a mim? — perguntou com raiva. 

— Minha garota das estrelas — suspirou — Desculpa por ontem, é que apareceu uma missão importante e eu ... 

— Não podia deixar de lado e blá blá — disse o cortando — Já sei de cor, Izuku — se levantou e guardou suas coisas no armário — Conversamos depois, se der né — saiu o deixando com cara de tacho. 

A castanha o ignorou pelo resto do dia, não estava com saco para ouvir suas desculpas e nem ver sua cara. Seu alívio do dia foi poder chutar a bunda de um vilão, por um momento até sentiu dó, mas aí se lembrou que ele era um vilão e voltou a chutar mais. 

No fim do dia, Deku a esperava do lado de fora do vestiário, ver a luta dela na tv o deixou apreensivo e sabia que ela estava puta. O melhor a fazer era abaixar a cabeça e ouvir o que ela tinha a falar. 

— Vamos? — perguntou lhe estendendo a mão. 

Ochako apenas o ignorou e seguiu seu caminho, se quisesse, ele que viesse atrás. A castanha caminhou até seu apartamento e o esverdeado foi a seguindo quieto, provavelmente pensando em várias desculpas. 

Ao entrar no pequeno lugar aconchegante, a castanha logo disparou — Não estamos dando mais certo. 

— O que? — o homem entrou em pânico, do que ela estava falando? — Por que está falando isso? De onde tirou isso?

Ela riu com ironia — É sério isso? — perguntou o olhando nos olhos — Você lembra qual foi a última vez que realmente esteve comigo? A última vez em que não me deixou plantada igual uma idiota? A última vez que não chegou atrasado? — despejou toda a sua raiva nele — Eu mereço mais, Izuku! — disse alterada — Você foi deixando nossa relação de lado, você fez suas escolhas e agora eu estou fazendo a minha — seus olhos lacrimejaram — Eu estou escolhendo ir embora.

— Ochan, me desculpa — seu tom de voz era baixo.

— CHEGA! — o cortou novamente — Eu estou cansada de suas desculpas vazias, você só pede desculpas quando realmente não vai repetir o mesmo erro e no seu caso — o olhou com raiva — Meu querido, no seu caso, desculpas é só mais uma palavra como as outras. 

Ele sentiu o peso de suas palavras, realmente falhou com ela.

— Eu te disse uma vez e volto a repetir: Não se torne menos humano para alcançar seus objetivos — suspirou — Eu sempre te apoiei, mas não vou ficar para ver isso. Estou caindo fora. 

— Você não pode fazer isso, Ochan — a ficha finalmente caiu, ele estava a deixando escapar entre seus dedos.

— Posso e devo — respondeu determinada — Mereço mais do que migalhas — se lembrou do que Bakugou disse — Não tente abrir a porta desse amor, não faça promessas que só irá cumprir durante uma semana.

— Ochako — sua voz falhou — Eu te amo 

— Amor já não é mais suficiente, eu te amo também, mas não quero namorar um fantasma — respirou fundo — Suas coisas estão naquela caixa, quando puder me avise que pegarei as minhas no seu apartamento. Feche a porta quando sair — disse indo para o banheiro. 

O esverdeado ficou estático na sala, ela realmente terminou com ele. Nunca pensou que isso fosse acontecer e lá estava o destino provando que ele estava errado. Pela última vez olhou pelo corredor e saiu de cabeça baixa, aquilo não podia ser verdade. 

O caminho até seu apartamento foi longo, ainda assimilava tudo o que estava acontecendo. Ochako deu um belo pé na bunda dele depois de cinco fodendo anos juntos, mas é claro, ele foi um verdadeiro cuzão e reconhecia isso.

{...}

Ochako acordou mais uma vez antes do despertador tocar, estava pensando na possibilidade de aquilo virar um novo hábito, o choro da noite anterior resultou em dor de cabeça e seu rosto inchado. A castanha se sentia mal pelo término, mas ao mesmo tempo aliviada, agora não precisava mais ficar se preocupando com alguém que não lhe dava a mínima. 

Decidiu que iria focar em outras coisas, passaria mais tempo com os amigos e com sua família. Queria fazer alguma viagem para distrair, talvez sozinha ou até mesmo com algum amigo, só precisava fugir das notícias sobre Deku, o que era difícil já que o mesmo era o queridinho da mídia

Tomou coragem e levantou de sua cama, caminhou até o banheiro e entrou embaixo do chuveiro, deixou que a água quente se chocasse contra seu corpo. Inalava o vapor produzido pelo calor e deixava que ele limpasse seus pulmões, a água trilhava o caminho por seu corpo levando todas as mágoas da noite anterior. Era hora de seguir em frente. 

Passou em sua lanchonete favorita e comprou dois mochis, a frase "eu mereço" invadiu seus pensamentos e ela realmente merecia. Comeu um no caminho da agência e o outro deixaria para mais tarde, se sentia mais leve depois de pôr um fim em toda aquela situação com Deku, sua vida parecia ter mais cor. 

Chegando na agência se direcionou para a sala de treinamentos, já tinha pensado em seu treino do dia, precisava malhar perna e condicionamento físico. O clima naquela manhã estava favorável, perfeito para malhar — a castanha precisava de um incentivo, sempre foi preguiçosa. 

A castanha focou na esteira, era sua morte ficar andando sem chegar a ponto nenhum, aumentou sua música no último e se deixou levar pelos seus pensamentos. Como no dia anterior, Bakugou apareceu para treinar, pode perceber o entusiasmo da garota. 

— Eai, bochechas — se posicionou ao lado dela — Como que 'tá hoje? 

— Bom dia, Bakugou — sorriu docemente — Estou bem e você? 

— Na mesma de sempre — deu de ombros — Falou com o cabelo de merda? — perguntou ajeitando o aparelho. 

— Sim — suspirou — Dei um ponto final, mas sei lá se ele entendeu que é o fim mesmo, pelo menos levou as coisas dele — sorriu de lado — Estou pensando em viajar esse fim de semana, sair um pouco do mundo Deku, sabe? 

— Sei — com certeza ele sabia, às vezes enchia o saco o tanto que o cabelo de merda aparecia na mídia — Tenho uma cabana no campo, tem uma cachoeira perto e é um pouco afastado — deu de ombros — Se quiser, só falar. 

Ochako analisou as palavras do loiro por alguns segundos, ele realmente estava falando sério? 

— Eu estou falando sério, bochechas — disse ao perceber que a castanha o encarava demais — Só não fica me olhando desse jeito aí, é estranho demais, até mesmo para você — o comentário fez a menor rir e acabou arrancando um sorriso dele também. 

— Valeu, Bakugou — sorriu alegre. 

— Vai precisar pegar folga também? Se for já fala que preciso ver o maldito que vai te cobrir. 

— Não, já estava de folga mesmo. 

— Te entrego as chaves na sexta. 

— Uhn, é Bakugou — o olhou tímida — Muito obrigada. 

— Tsc. 

{...}

Ochako se encontrava em frente a uma ladeira, em um chalé localizado em uma das áreas afastadas da cidade. Longe de Deku, longe de notícias dele e amigas lhe perguntando toda hora se estava bem, não que elas enchem o saco, a castanha amava suas amigas, mas naquele momento não tinha a resposta cerkta para elas.

Estar bem, como estar bem em uma situação como essa? 

Um misto de emoções a tomava, terminar com Deku foi como respirar novamente, como se o ar preenchesse seus pulmões depois de quase morrer afixada. Céus, que sensação maravilhosa! 

Só que em contrapartida, a castanha se sentia triste por finalizar sua história com o esverdeado. Cinco anos juntos. O que significavam aqueles cinco anos juntos? 

Ochako não podia negar os excelentes momentos que viveram juntos, foram anos de aprendizados, cresceram juntos e acima de tudo, amaram e se respeitam. Uma relação de cumplicidade, mas que havia chegado ao fim, um ciclo se encerrava. 

Um término não precisa ser doloroso, o amor havia acabado e nenhum dos dois estava percebendo, até que um belo dia ela percebeu. Infelizmente o amor carnal virou amizade, hora de seguir em frente. Afinal, ela era ela e ele era ele, ela não estava no mundo para viver de acordo com as expectativas dele ou de qualquer outro, ela precisava viver de acordo com as expectativas dela. 

A castanha era grata pelos anos vividos ao lado dele, guardaria em sua memória os momentos bons. Desejava o melhor para Izuku, que ele conquistasse o que tanto almeja e quando conquistar, ela iria vibrar e comemorar.

O fogo da lareira aquecia sua pele e a chuva batendo no vidro tornava tudo mais melodramático, mas ela não se importava, precisava chorar e aliviar aquele sentimento de culpa, ali era o local e hora certa. 

Sozinha, em uma cabana que pertencia a Bakugou e em lugar afastado. Ela abriu seu coração e o ouviu, tão confuso e machucado, querendo voltar para quem o partiu, aquele era o momento de o curar, colar cada caquinho. 

O barulho da chuva aumentava a cada instante, mas não era maior do que os ruídos dos pensamentos da castanha. Seu coração doía, como pode aguentar tanto tempo para não machucar Midoriya? Como pode se colocar de lado? Em que momento ela deixou de pensar em si mesmo? Era doloroso ver daquela maneira. 

Ela se perdeu, assim como Katsuki.

O barulho da porta rangendo o chão a tirou de seus devaneios, seu coração acelerou e se colocou em posição de ataque, estava sozinha no meio do nada e alguém estava entrando pela porta da frente, rolou o olhar pelos cantos em procura de algo que pudesse usar em seu favor, mas nada encontrou. 

O barulho da porta se fechando e os passos pesados vindo em sua direção lhe causaram um arrepio, teria que lutar. Firmou os punhos fechados e engoliu a última dose de coragem. Fechou os olhos e respirou fundo — seja o que o todo poderoso quiser. 

— Mas que caralho, cara de lua — a voz rouca ecoou pelo pequeno cômodo. 

— Bakugou! — respirou aliviada ao ver a cabeleira loira — O que está fazendo aqui? Você quase me matou de susto! 

— Vim ver se estava bem, cacete! Você é medrosa 'pra porra e 'tá uma chuva do caralho. 

— Oh — deixou escapar. Então era isso, ele estava preocupado pelo fato dela estar sozinha? — Você veio aqui só para ver se eu estou bem? — a frase soou um tanto quanto estranha, esse era um lado que ela nunca imaginou conhecer de Katsuki. 

— Bom, você tá em uma puta fossa e eu — parou para pensar enquanto a morena o observava com atenção — Bem, sou um colega e não podia te deixar sofrendo no meio do nada sozinha — deu de ombros como se não fosse nada. 

— Obrigada por ter vindo — sorriu. Realmente, ficar ali sozinha estava lhe deixando mais triste ainda, talvez deveria ter ficado em casa, chorando e comendo porcaria. 

— Tsc — resmungou — Eu trouxe aquelas merdas que mulher como quando está triste — lhe mostrou a sacola que estava atrás de si. 

— Você está fazendo isso por mim?! 

— Não, pelos bichinhos que habitam na floresta — revirou os olhos — Claro né. 

— Obrigada, Bakugou — sorriu — E você não é um colega, é um amigo. 

RecomeçosTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang