Travesseiro

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Chou Tzuyu

A luz quis ultrapassar as minhas pálpebras mais cedo do que eu esperava, tive que piscar um pouco mais forte algumas vezes até finalmente abrir os meus olhos, sentindo uma grande pontada em minha cabeça, indicando a dor de pós ressaca. Virei sobre a cama, me encontrando de roupão, mostrando que havia sido colocada na cama novamente. Por ela. Fechei os meus olhos e suspirei, massageei minhas têmporas e me culpei por palavras claras ditas antes de tudo virar um borrão em minha mente, desmerecendo tudo o que "tínhamos", dando a entender que tudo não havia passado de um erro. O que era verdade, mas... eu não precisava... eu... porra eu só precisava entender o que estava acontecendo comigo mesma em relação a Sana. 

Tirei aquele roupão e assim que passei pelo o espelho, notei as marcas de mais uma noite sem lembranças vívidas o suficiente, por cima das marcas que ela fez, marcas essas que eu me lembrava sobre cada detalhe, sem embriaguez ou sem me esquecer no dia seguinte. Eu apenas sabia quais eram as suas. 

Eu estava atrasada para o trabalho e isso não era uma novidade, mandei uma rápida mensagem ao meu pai dizendo que estava indisposta e que precisava descansar, mas passar o dia naquele apartamento sem Sana e sem Agnes, era pior do que enfrentar dez reuniões sobre um dia inteiro. Jogar videogame sem ela ao meu lado pintando as suas unhas ou lendo o seu livro nunca havia sido tão sem graça, e eu me puni fortemente por ter feito o que havia feito. Ela me disse que eu não precisava ter medo da sua irmã mas ao invés disso, fugi como uma criança, negando o que nascia dentro de mim. Mas eu podia mudar aquilo caso quisesse. E eu queria. 

Meu coração acelerou fortemente quando o barulho do elevador se fez presente, junto a chaves e a porta sendo destrancada, Sana entrou, sem Agnes, usava fones de ouvido e eu não sabia se estava me ignorando ou se realmente não havia me visto na sala, caminhando diretamente sobre o corredor. Joguei o controle do videogame para o lado, correndo em sua direção, pegando apenas a parte que ela fechou a porta do seu quarto, a trancando em seguida, deixando que o meu olhar fosse pra baixo, voltando até a sala como um cachorro abandonado pela a dona. E de fato eu era uma cachorra abandonada por Sana.

Apenas observei como o sol se escondia por entre os prédios, ouvindo os barulhos vindo do quarto de Sana, voltando a olhar para a TV quando ela finalmente saiu, porém, os barulhos dos saltos altos rapidamente me fizeram olhá-la. Sana estava arrumada, um vestido brilhante preto, com saltos da mesma cor, cabelos feitos e uma linda maquiagem sobre o seu rosto, reforçando os seus olhos. Parando apenas no espelho mais a frente, passando um batom tirado da sua bolsa. Eu me preparei para questioná-la, mas a minha voz morreu assim que o seu telefone tocou e ela começou a caminhar em direção a porta.

- Oi, Momo, sim, eu já estou pronta. Te encontro lá - a sua risada foi abafada quando a porta se fechou e a única coisa que eu poderia escutar era sua voz ao longe junto aos seus saltos, sumindo quando o "blim" do elevador se fez presente, a levando para longe. 

A sua saída foi uma grande indireta de "eu entendi o que você quis dizer". E eu também entendi que ela tinha uma vida, é claro que tinha e não faria sentindo eu querer fazer parte da sua vida, já que claramente, eu a enxotei do meu coração como um gato enxota um rato de um esconderijo. Eu a mandei embora do meu coração, com as palavras mais duras, e agora ela tinha ido, agora ela só estava ali pelo o plano, e nada mais do que isso. Eu a fiz seguir o plano, eu a fiz sair do plano e agora, a obrigava a voltar para o plano novamente, mas esse, esse não era a droga do plano. Afinal, qual era o plano? Eu não o tinha mais em mente a partir do momento que a beijei pela primeira vez. Pra falar a verdade, foi bem antes disso, a partir do momento que eu deixei meu coração bater um pouco mais forte ao seu lado. Eu sai do plano quando contei a ela que não sabia andar de bicicleta. Eu parei de seguir o plano no segundo que decidi olhar para ela com os meus olhos. Com os meus verdadeiros olhos. 

My dear wife - SatzuWhere stories live. Discover now