Capitulo VI - A Tragédia

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AS COISAS ENTRE MIM E YELENA MUDAVAM RÁPIDO DE MAIS. Num dia a gente se via, lembrava do passado e sorria por todas as loucuras que já fizemos, e no outro era apenas um "olá." Como se não nos conhecêssemos ou assim. E por causa disso, seguimos caminhos diferentes durante um longo período.

Quando terminei meu ensino médio, abdiquei do sonho da faculdade para cuidar da minha mãe, que já andava doente. Assumi responsabilidades importantes na fazenda me tornando o braço direito do Sr.Marcelino. Já Yelena dividia seu tempo entre estar com as amigas e ler seus livros "esquisitos" de Biologia. Acentuando assim, cada vez mais, o desejo que tinha de estudar Biomedicina na faculdade.

Naquela época, os convites para jantar em casa dos Freire viam com muita frequência por parte de Sr.Marcelino, que fazia questão que eu atendesse a todos, sem exceção. Nesses momentos, sentados em volta das panelas, eu podia presenciar o homem que julgava tão sábio ser esculachado por Dona Maria, que o fazia sempre que podia.

— Oh... que chulé horroroso!— reclamou a senhora em alto e bom tom, interrompendo o discurso de Sr.Marcelino sobre como Yelena estava estranha nos últimos dias.

— Mas eu já lavei os pé umas três vez, mulher... — Afirmou Sr.Marcelino cuspindo respingos de arroz sobre a mesa. — As bota eu deixei passando vento lá na varanda, não sei porque ainda reclamas, ora!

— É porque a sala continua abafada com cheiro de chulé, homem... Deve de ter morrido um gambá dentro de suas bota e você nem percebeu.

— Você tá exagerando, Maria. — acusou Sr.Marcelino, revirou o olhos e a seguir me encarou. — Lúcio, meu filho... Fala pra mim, você tá sentido cheiro de chulé?

— Eh.. N-não! Eu não estou sentindo nada Senhor. — Respondi e rapidamente voltei a mirar o olhar pro meu prato.

— Viu só! Teu nariz deve tá é podre, mulher. Só você tá sentindo esse cheiro!

— Que podre que nada. Tu achou mesmo que ele iria confirmar?! Esse garoto concorda com tudo que você diz. Se você peidar e perguntar que cheiro ele tá sentido, ele vai dizer que sente cheiro de rosas.

— Talvez por que tenha mesmo! — Sr.Marcelino respondeu com o deboche escancarado no rosto. Dona Maria ergueu as sobrancelhas.

— Só não vou dizer que cheiro tem de verdade pra não ferir a tua sensi... sessi... Como se diz mesmo meu filho?

— Sensibilidade!— completei segurando risada.

— Isso mesmo! Essas palavra são muito difíceis de se falar, viu.

Sr.Marcelino movimentou o rosto como se preparasse uma risada de deboche, mas quando o olhar afiado de Dona Maria varreu sua face de cima a baixo ele se calou. Fez o gesto de um zíper passando sobre os lábios e continuou mastigando em silêncio. Mais vez ficava claro quem é que dava as ordens naquela casa.

— Quer saber... — Dona Maria empurrou a cadeira onde se sentava e se levantou. — Eu vou procurar umas meia limpa para tu botar e abafar esse chulé ácido. Vou até botar um perfuminho nas meia pra garantir.

Quando a senhora foi pro quarto, um silêncio tomou conta do ambiente. O som dos animais, proveniente do estábulo, voava pela fazenda e alcançava a sala trazendo uma trilha sonora peculiar para o nosso jantar. A noite serena, contrastava com a preocupação do senhor a minha frente. Me lembrei que antes do assunto do chulé vir à tona, Sr.Marcelino falava de um assunto que me interessava: Yelena.

— O senhor estava dizendo que a Yelena está diferente e que...

— Ah sim... — Ele interrompeu. Se ajeitou sobre o assento e passou o lenço na boca. — Ela terminou com aquele namoradinho metido a Antônio Bandeira e agora fica mais tempo lendo os livrinho dela lá. Tem até falado que quer ir embora daqui, sabe? — Franziu a testa e proferiu com desprezo: — Ela quer estudar na cidade grande.

Até Que MorramosWhere stories live. Discover now