Capitulo XI - Casados

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ERA SUPOSTO ESPERAR POR TRÊS ANOS. Mas seis meses depois lá estava Yelena, correndo na minha direção, gritando a plenos pulmões que estava morrendo de saudades e que não aguentava mais ficar longe. Como da última vez, sua chegada foi surpresa até para mim. Seu jeito impulsivo a fazia tomar decisões do nada, e todas as minhas tentativas de reclamar acabavam da mesma forma:

— Você está feliz em me ver ou não? — Ela questionou com uma indignação forçada no rosto.

— Eu estou, mas...

— Não tem "mas" — Interrompeu. —Para de reclamar e vem logo me dar um abraço. Se continuar assim eu nunca mais volto, hein...

E é claro que eu nem poderia cogitar essa possibilidade.

Foi assim que começou sua rotina de ir e de vir. A faculdade, o mestrado e logo depois o trabalho na More Health. No princípio era tão fácil lidar com isso que nós não pensávamos em mudar. Lembro que Yelena dizia que a fazenda era seu lugar de paz e a cidade era sua realização. Afirmava que não poderia viver sem os dois mundos, e para mim estava tudo bem.

Nos casamos três anos depois, numa cerimônia linda na nossa fazenda, onde até os animais foram trajados com laços e turbantes a condizer com a decoração azul céu. Naquele dia mágico, sentimos o sol brilhar mais forte, e de noite as estrelas enfeitaram o céu de um jeito único, como se a natureza estivesse interferindo, na intenção de deixar tudo perfeito para nós os dois. Ou talvez aquilo fosse um sinal de que em uma dimensão qualquer, três almas de mãos dadas olhavam para nós com sorriso em seus rostos, enquanto aprovavam e abençoavam a nossa união.

"Agora sou oficialmente seu filho Sr.Marcelino..." Pensava eu enquanto colocava a aliança no dedo de Yelena. "Sei bem que era isso que o senhor queria dizer na noite em que partiste." Quando terminei, uma brisa leve passou por mim e fez carinho. De alguma forma, aquilo foi a autorização que eu precisava para continuar fazendo Yelena feliz.

Já casados, era hora de fazer algumas mudanças: Destruímos as duas casas e construímos uma só, grande o suficiente para caber a gente e a nossa felicidade. Yelena já havia pensado em tudo, fez questão de exigir que a casa estivesse preparada para todos os cenários, e no fim conseguiu exatamente o que queria:

Para os dias frios tínhamos uma lareira coberta de mármore, com uma sofisticação que deixava nossa sala de estar mais estilosa. Para o calor uma varanda enorme com a melhor vista para as estrelas e a lavoura de milho. E para a chuva não precisávamos de nada, pois nosso plano era correr por debaixo dela como fazíamos quando pequenos.

Mas não era só no clima que Yelena havia pensado. Pensou também nos pestinhas que viriam, nos pequenos Lúcios e Leninhas que mudariam nossa rotina para sempre. Transformariam as noites românticas em maratonas de choro e trariam para o nosso lar discussões tão exímias como: Quem vai trocar a fralda e botar eles pra dormir desta vez. Enfim, situações frustrantes que eu queria muito vivenciar e com certeza Yelena também.

Mais três quartos além do nosso, demostravam o quanto ela queria ter uma grande família, e mobiliar todos eles me fazia lembrar das várias conversas em que Yelena declarou seu desejo de ser mãe. Ansiávamos tanto por isso que começamos a tentar logo nos primeiros dias de casados, e continuamos tentando por vários meses. Até enfim decidirmos procurar alguém que nos ajudasse a perceber o porquê das nossas tentativas não darem certo.

***

Ah, a cidade grande... Um lugar onde a arquitetura das obras enchiam os olhos de quem via. Prédios enormes com mais andares do que eu conseguia contar, parques modernos pobres de natureza, e um tanto de vasos que privavam as plantas de terem contacto com o que mais precisavam: A terra.

Até Que MorramosWhere stories live. Discover now