VI - Perfume amargo

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Em frente o espelho eu ajeitava minha gravata. Estava ansioso, afinal o que poderia esperar daquela noite?. Era um jantar com Adam Höffman. No melhor e mais caro restaurante da cidade.

- Não consigo acochar essa merda! Eu tô horrível. - Lamentava estressado em frente ao espelho, tentando ajeitar a gravata.

Atrás de mim Maddie estava me ajudando a escolher a melhor roupa para a ocasião, enquanto me tranquilizava.

- Calma! Você tá muito nervoso. - Se aproximou tirando minha gravata para colocá-la de novo. -Você tá um galã.

Enquanto ela tocava no meu pescoço dando o nó no tecido fino eu olhava meu reflexo agitado, endireitando a manga da camisa.

- Pronto. Agora sim. - Bateu levemente a mão no meu peito e se afastou. De longe mapeava meu corpo.

Virei de costas para o espelho ainda mexendo na gravata. De frente para o seu rosto. Ela olhava diretamente para os meus olhos enquanto chegava mais perto.
Não disse nada, apenas fiz o mesmo, sem perceber. Também fui me aproximando dela, dos seus lábios.

Na ponta dos pés, seus lábios encostaram nos meus.

Por que eu fiz aquilo?
Tinha ido longe de mais à minha inocência. Onde estava com a cabeça?

Rapidamente depois de perceber que havia me cedido, virei disfarçando, reparei que ela também tinha ficado sem jeito. Tímida.
Fui em direção ao guarda-roupa em silêncio e peguei um perfume da prateleira. Maddie saiu do quarto e eu borrifei o perfume no meu peito em frente ao espelho. As gotículas da colônia se sobrepunham com a luz que vinha da janela. O cheiro só me fazia lembrar daquela cena que acabaste de acontecer.

Não me fizeste mal, não senti incomodo algum. Mas foi diferente. Algo que não conseguia expressar.

Desta vez Maddie que me levou até a porta do restaurante, o caminho todo nos estranhávamos. Acho que ela queria me dizer algo. Se desculpar.

Paramos em frente ao estabelecimento, ela me desejou um bom jantar e se despediu, logo em seguida saí do carro.
A ansiedade aumentou naquele instante, o suor descia pelas minhas costas e a gravata chegava a incomodar cada vez mais. Meus passos eram lentos em conjunto a minha respiração ofegante. O ar fresco da noite sequer me tranquilizava, por conta do calor que estava sentindo por baixo daquele terno cinza.

Assim que pisei no tapete da entrada senti uma mão pesada que agarrou meu punho esquerdo, me puxando com rapidez. Foi tudo muito rápido. Em questão de segundos consegui distinguir o que estava acontecendo.
Era um homem, que me trouxe para o lado do estabelecimento.
Até que eu me acalmasse ele colocou sua mão no meu rosto para impedir que eu gritasse. Me prensando contra a parede.
O desespero era grande. Dava-se para escutar os meus gritos abafados enquanto me abordava no muro de tijolos. Debati o quanto pude.

- Shhhhhh. Fica quieto!. - Tentava falar o mais baixo o possível, para que eu ficasse em silêncio. Para ouvir o que ele tinha a dizer. - Lowis!! - Perdeu a paciência e gritou.

Nesse momento eu paralisei, parei de resistir e fiquei esperando até me soltar.
O estranho foi desprendendo seus braços de mim lentamente, tirou sua mão do meu rosto, ele sabia que eu não iria fazer qualquer coisa. Já que meu nome saiu de sua boca.
Aos poucos fui reparando sua aparência. Por conta da vestimenta e do mal descuido tinha-se a impressão de que era um rapaz mais velho. Sua face estava bem próxima a mim, o suor e sua pele suja brilhavam com a luz dos postes. Ainda perto continuava a dizer.

- Fica calmo. Eu não vou te machucar.

Constantemente insistia em passar uma segurança, com seus gestos, demonstrando que não iria de fato me ferir. Que queria apenas conversar.
Minhas mãos estavam trémulas, meus olhos zanzavam de um lado para o outro. Assustado afastei mais para trás, mesmo estando encostado na parede mantinha distancia dele.

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