Capítulo 15

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RAVENA CLARK

Acordo na manhã de sexta-feira antes mesmo do despertador tocar. Sequer consegui ter uma boa noite de sono, já que não pude livrar meus pensamentos de tudo que aconteceu no dia anterior.

Os eventos de ontem me mostraram que a atração que eu sentia por Bernardo e considerava completamente platônica, na verdade, não era tão platônica assim.

No momento em que encarei seus olhos de perto, notei que eles refletiam os meus e, pude sentir o desejo, o calor que inflamava sua alma. O mesmo calor que me incendeia sempre que nos tocamos, sempre que ele dá aquele sorriso de lado, absolutamente irresistível.

Além disso, Bernardo estava flertando, ou melhor dizendo, "dando em cima" de mim. Fazia contato quando não era necessário e falava de maneira provocativa, sempre que tinha a oportunidade. Nada disso passou despercebido, pode até ser que eu tenha imaginado algumas coisas, no entanto, suas intenções eram evidentes.

No final da noite, ele me chamou pelo meu primeiro nome, pouco antes do telefone tocar e interromper o que ele estava prestes a dizer. Esta foi a segunda vez desde que nos conhecemos que Bernardo fez isso e, ouvir meu nome em sua voz é... diferente, quase sensual. Fui atormentada a noite inteira por esse simples fato, e pela curiosidade de saber o que ele tinha para falar. Mas eu não fiquei para descobrir, é claro que não fiquei. Tenho medo de que, se eu ficasse, não seria mais capaz de sair de lá.

Por essa razão, eu posso afirmar que uma coisa é certa: a partir de hoje, tudo será diferente.

Seria inútil eu tentar continuar a ser a megera que estava sendo antes. É nítido que aquilo não funcionou, e Bernardo veria diretamente através dessa fachada, pois hoje ele sabe exatamente o efeito que possui sob mim.

Só mesmo um cego não notaria, uma vez que volto a ser uma adolescente que ruboriza porque há um cara lindo e gostoso do lado, e que não consegue se controlar se ele está sem camisa e com o corpo todo molhado, com a água escorrendo pelos seus cabelos e abdômen, e aquela toalha quase caindo de sua cintura...

Meu deus e, como sempre, minha imaginação me leva à caminhos tortuosos. Assim, aqui estou eu de novo, pegando fogo com o mero pensamento de Bernardo pós banho.

A cereja do bolo foi sentir sua ereção embaixo de mim quando acidentalmente cai em seu colo. Aquilo foi um alerta de que eu deveria sair correndo pela porta, caso contrário a situação tomaria um rumo perigoso, imprudente. Um caminho sem volta.

Por sorte, ou por azar, meu celular tocou exatamente naquela hora.

O que eu deveria mesmo fazer era evita-lo. Por dois motivos: primeiro que, por termos uma relação de chefe-estagiário, eu não queria sofrer o constrangimento que tenho certeza que sentiria em sua presença, em razão de tudo que aconteceu ontem. E segundo que, eu já havia atingido minha cota de autocontrole e, muito provavelmente, pularia para cima dele na primeira chance que eu tivesse.

***

Chego ao escritório muito antes do que de costume, pelo fato de que hoje acordei junto com os galos, ou talvez até mesmo antes que eles. É por esse motivo que estou com olheiras evidentes, apesar da maquiagem, e meu humor está simplesmente péssimo.

Do lado de fora do elevador, enquanto o aguardo pacientemente, avisto ao longe uma inconfundível cabeça loura em meio às pessoas que transitam no saguão de entrada. Luana está vindo nesta direção e sua cara aparenta estar pior do que a minha.

Sim, definitivamente pior do que a minha. Posso constatar isso quando Lua se aproxima e passa a aguardar o elevador ao meu lado, possui olheiras debaixo dos olhos e o cabelo visivelmente despenteado. Ela nem me nota, está encarando o chão, com o rosto inexpressivo.

Querido EstagiárioWhere stories live. Discover now