Capítulo 18

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RAVENA CLARK

O final de semana passou se arrastando, literalmente. Não saí de casa em nenhum momento, nem mesmo para ir à academia ou à Boulangerie do Pierre.

Além de ficar trancafiada, fiquei me martirizando por como eu havia me deixado levar. Quando caiu a ficha do que eu tinha feito, a culpa passou a me consumir.

Por Deus, eu ataquei meu estagiário! Isso por si só já é altamente reprovável e ia contra todos os meus princípios. Mas óbvio que não era só isso. Ainda existia o detalhe de que Bernardo estava bêbado.

Embora não parecesse, não tenho dúvidas de que ele estava embriagado. Tirei proveito dele que estava nesse estado tão vulnerável, sem poder responder direito pelas próprias ações. Reviro os olhos e bato na minha própria testa pela milionésima vez.

No entanto, se eu realmente quisesse ser sincera comigo mesma, jamais poderia dizer que estava arrependida. Porque mais do que qualquer coisa, eu queria repetir tudo aquilo que havíamos feito, e mais. Sim, eu queria mais. Eu queria ter ido além.

***

Quando chega a segunda-feira, considero mil desculpas diferentes para eu deixar de ir ao escritório, pois eu não queria encarar a realidade.

Por essa razão, no expediente da tarde eu não chamo Bernardo para minha sala em momento algum. Simplesmente o evito, seguindo aquela máxima de "o que os olhos não veem, o coração não sente". Se eu não o visse, não iria sentir. Simples.

Todavia, eu não tinha considerado que Bernardo poderia vir até mim, ainda que eu não o chamasse. Estou trabalhando em meu notebook quando, após duas batidas na porta, ele entra, antes mesmo que eu lhe dê permissão para tanto.

Meu coração começa a palpitar assim que Bernardo se coloca na minha linha de visão. Ele caminha até o meio da sala, à uma boa distância de minha mesa, onde me encontro.

— Não me lembro de ter te chamado – falo impetuosamente, e volto a digitar o documento que estava redigindo.

— Dra. Clark, acho que precisamos conversar – diz, sua voz é calma.

— Bem, já que está aqui, pode me falar como anda aquela resposta à acusação que eu havia te pedido – falo, sem desgrudar a atenção do computador. Eu estava me esforçando para não o encarar.

— Ravena – me chama, seu tom de voz é baixo.

Imediatamente levo meus olhos a ele. Bernardo sabe exatamente onde me atingir, falando meu nome dessa forma, ele poderia me pedir o que quisesse e eu faria.

Entretanto, o que respondo a ele é o exato oposto do que estou sentindo, óbvio. Pois devo rebater qualquer pensamento imprudente e rechaçar isso que está acontecendo entre nós.

— Sou sua chefe Bernardo, você não deveria me chamar assim – digo ríspida.

— E como minha chefe, você não deveria ter me beijado – ele contra-ataca, arqueando uma sobrancelha. Touché.

— Eu não sei do que você está falando – falo com desdém, voltando meu olhar para o monitor.

— Não sabe? – ele dá alguns passos, encurtando o espaço entre nós – tem certeza que vai fingir que nada aconteceu?

Bato as mãos na mesa e o encaro novamente.

— Nada deveria ter acontecido. Bernardo, você é meu estagiário! – coloco as mãos na cabeça, ensandecida – Meu Deus, você estava embriagado, não sabia nem o que estava fazendo!

Bernardo se aproxima ainda mais, ficando bem à frente de minha mesa, e com a voz firme, rebate:

— Eu não estava embriagado.

Querido EstagiárioOnde histórias criam vida. Descubra agora