Capítulo 1 Principium Mundi

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Antes do principio, quando a matéria não existia e o tempo ainda não era tempo, havia apenas o vazio. Uma realidade de trevas infinita desprovida de vida e de qualquer tipo de conceito. Mas isso mudou com o rompimento do véu daquela dimensão e com a chegada da luz primordial. Ela adentrou no vazio alterando as leis da realidade e trazendo a criação, fazendo com que o "nada" desse lugar ao cosmos, aonde passou a criar galáxias, estrelas, planetas e sistemas solares inteiros. Muitas Eras se passaram desdê a chegada da luz e a medida que ela ia preenchendo aquele vasto universo, sua própria essência e forma passavam por metamorfose.

Antes, ela era como uma chama viva, na qual sua luz era mais forte e ofuscante  do que a maior estrela já criada. Agora, ela era humanoide e se equiparava a um de seus sistemas solares, ainda tendo o brilho mais intenso já concebido. Após vagar por milênios sozinha no vácuo do espaço, a luz se sentiu solitária. Então, decidida a mudar isto, ela separou seu núcleo, seu coração... e a moldou em uma contraparte e companheira para si mesma. Os dois seres primordiais criaram seu primeiro mundo juntos e decidiram fazer dele sua obra prima. Eles preencheram aquele novo mundo com montanhas, oceanos, vales, cordilheiras, vulcões, florestas, bosques, planícies, pântanos e desertos de areia e de gelo. Estavam tão felizes que ainda inundaram o mundo com vida, criando animais e criaturas fantásticas para manterem seu ecossistema em harmonia. Por fim, eles moldaram duas estatuas de mármore a suas próprias imagens e a luz assoprou a vida para dentro delas, criando assim, o primeiro homem e a primeira mulher. Dando-lhes o nome de Forst e Mandag.

A luz os ensinou sobre as leis da natureza e a falar. Ela então contou aos dois que seu nome naquele universo era Voltham e sua companheira se chamava Azura. Forst e Mandag passaram a adorá-los como seus deuses, e vivendo sobre suas regras os dois mortais eram mais que felizes. Após criar o mundo dos mundos, Voltham e Azura descansaram, fazendo sua morada sobre as nuvens. Após mil anos eles retornaram a terra para ver como Forst e Mandag estavam cuidando de seu mundo e também para levar as boas novas. Em sua ausência, Voltham e Azura haviam tido dois filhos gêmeos, os quais batizaram de Lothar e Lethos. Azura estava tão feliz com seus filhos que concedeu a Mandag o dom de dar a luz, para que a mulher pudesse experimentar essa alegria também. Isso fez com que Azura passasse a ser adorada como a deusa da fertilidade, do matrimonio e do amor. Desdê então, a humanidade cresceu, assim como os jovens deuses. Lothar era forte e valente, o que o tornava mais temperamental e muitas vezes imprudente. Já Lethos, era o oposto do irmão, sendo mais calmo e paciente. O tornando o mais racional entre os dois e aquele que tirava Lothar dos problemas.

Tudo estava perfeito. Voltham governava o mundo como deus da criação e rei dos deuses. Porém, enquanto a luz primordial moldava o universo existente, o vazio também passou a se transformar, criando consciência e  desejos, odiando o que os deuses estavam fazendo. Tomado por inveja e raiva, esse ser formado pela mais densa escuridão começou a devorar, destruir e profanar o universo de Voltham. Quanto mais ele avançava, mais forte ficava, e dê dentro de seu vazio abissal ele expeliu hordas de demônios que espalhavam o caos e destruição em nome de seu mestre. O abismo por fim, encontrou o mundo de Azura e Voltham. De forma ardilosa ele espreitou a humanidade. Trazendo a maldade e os pecados primordiais ele e seus demônios envenenaram a mente e a alma dos mortais, os desviando dos caminhos pregados pelos deuses. Filhos se voltaram contra pais e irmãos atacavam irmãos. Quando os deuses finalmente perceberam a presença do senhor das trevas já era tarde; a humanidade havia sido corrompida e a criação maculada. Demônios andavam livremente sobre a terra, desastres naturais e calamidades abalavam o planeta, o céu se tornou vermelho como o sangue e os primeiros homens presenciaram o horror cósmico que originou aquele mal cobrir o sol. Sua forma era inimaginável, sendo uma amálgama de massa negra bulbosa e disforme na qual emergiam tentáculos colossais que se estendiam até o solo, sendo a personificação da profanação do vazio contra a criação. A criatura ainda possuía dezenas de milhares de olhos vazios, aonde, encará-los era contemplar o abismo em sua magnitude e flertar com a loucura. O senhor das trevas, não satisfeito, aprendeu o idioma dos mortais para envenenar ainda mais suas mentes e debochar dos deuses. Ela revelou seu verdadeiro nome para a humanidade sem saber que sua pronuncia ia além da compreensão humana, assim, os mortais passaram a se referir a ele simplesmente como vazio, abismo, ou até mesmo "o impronunciável". Irado com as ações e afronta do senhor das trevas, Lothar foi o primeiro a revidar; incinerando hordas de demônios com o fogo sagrado. Junto com os mortais que lutavam contra as tentações diabólicas Lothar deu inicio a guerra santa entre a criação e o abismo. Ele ensinou os homens a forjarem armas, escudos e armaduras para lutarem e encheu os corações dos mais bravos com coragem para não sucumbirem ao medo. Assim ele se tornou o deus da guerra e do fogo da bravura. E esse período de conflito seria lembrado para sempre como o Cataclisma.

Contos do CaosWhere stories live. Discover now