Capítulo 4 Vlad Stoker

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Os finos flocos de neve caiam sobre o longo manto negro do caçador, enquanto ele seguia pela trilha gélida e branca da floresta. Mantinha os sentidos aguçados para encontrar qualquer detalhe ou sinal que sua presa pudesse ter deixado na neve ou nas árvores. Além do barulho dos corvos que o seguiam, sentindo o cheiro de morte que o impregnava, só era possível ouvir o assovio do vento frio; em uma dessas rajadas, com a rápida mudança de direção do vento, o aroma ferroso de sangue fresco inundou as narinas do caçador sendo o suficiente para quê ele saísse da trilha e adentrasse na floresta fechada. Depois de caminhar por alguns metros a dentro, a vegetação voltou a ficar mais aberta e limpa. A neve estava revirada com marcas de rodas pesadas e rastros de cavalos deixados no solo. O caçador olhou para o leste, de onde acreditava ter vindo a diligência perdida, devido a única estrada grande o suficiente para aquele tipo de carruagem ser naquela direção. O homem então voltou sua atenção para o lado oposto, seguindo assim a nova trilha que surgira.

O cheiro de sangue ia ficando mais forte a medida que ele avançava e os rastros abruptos da diligência mais evidentes, com galhos quebrados e marcas de arranhões nas árvores. Não demorou muito mais até que a primeira mancha escarlate surgisse, destacando-se em meio a neve, o caçador se abaixou, retirou uma das luvas e pões a palma centímetros acima do solo, sentindo o leve calor do sangue se dissipando. Ele estava chegando cada vez mais perto. Se levantou rapidamente e caminhou ainda mais de pressa seguindo agora o rastro de sangue que ficava mais consistente a cada metro percorrido; até que o cheiro ficara insuportável, anunciando assim o local da carnificina. A carruagem estava tombada  com uma das rodas faltando, era de tamanho considerável, sendo originalmente puxada por quatro cavalos, dois dos quais estavam mortos com os pescoços rasgados e os estômagos parcialmente devorados. O solo ao redor da diligência estava tingido de vermelho com tantos pedaços de carne, vísceras e membros que tornava impossível saber ao certo quantas pessoas haviam morrido ali. O caçador foi até a carruagem, observando ao redor tentando encontrar algum indicio do quê poderia ter feito tamanho estrago, mas sem sucesso. A pequena porta estava aberta. E ao espiar para dentro pode ver que seu interior estava intacto, sem marcas de luta ou sequer uma gota de sangue, constatando assim quê; seja lá quem fosse que estivesse na parte de dentro no momento do conflito, abandonou a diligência antes que o agressor conseguisse alcançá-lo.

O caçador desceu da carruagem e redobrou sua atenção para aquela visão macabra, formulando possíveis cenários que poderiam ter acontecido. Precisava encontrar outro rastro para seguir. Enquanto divagava de um lado para o outro notou um par de manchas de sangue fora da área de conflito, em direção a mata fechada, ele se aproximou delas e teve a certeza de que se tratava na verdade de pegadas humanas. Deduziu que o fugitivo passou pelo campo ensanguentado pouco antes de correr para a floresta. Ele olhou para frente e viu mais pegadas, não tão sujas de sangue e de tamanhos diferentes. Havia mais de um sobrevivente. Estava ponderando sobre as novas informações obtidas quando um ruído vindo de trás da carruagem chamou sua atenção. Ele se virou rapidamente então, tomando uma posição defensiva, pois sabia que o perigo se aproximava. O ruído ficou maior e detrás da carruagem surgia pontas negras e curvadas, revelando ser um par de galhadas como a de um cervo, porém, muito mais sinistras. Os olhos de um amarelo profano seguiram junto a coroa de chifres, totalizando a visão hedionda e maligna da besta. A criatura ficou curvada sobre as patas dianteiras em cima da carroça, enquanto as longas garras que terminavam em quatro dedos arranhavam a madeira. O monstro era comprido e esguio com sua pele lembrando a de um animal pestilento, ela encarava o caçador com a bocarra espumando entre as fileiras de dentes irregulares.

O homem abriu seu manto e puxou um longo chicote negro preso a seu cinturão, fazendo a arma serpentear pelo ar, reluzindo o fio prateado atado ao couro preto.

- Aí esta você...

Como se fosse dado um comando, ela saltou em sua direção ao final da frase. Ele se esquivou em um salto, fazendo o chicote dançar no ar mais uma vez e acertando a ponta no peito da fera com maestria, ao final de seu movimento. O golpe em si já teria sido suficiente para cortar a pele do monstro, mas o chicote do caçador ia além; ele queimou a carne da criatura fazendo pequenas chamas azuladas cintilarem. A besta ficou em pé emitindo um grito estridente de dor e raiva; partindo para cima do homem novamente em uma fúria cega, ela golpeou com suas garras duas vezes consecutivas mas acertou apenas o ar. O caçador desviava dos golpes com a facilidade de alguém experiente, sem deixar o chicote perder o movimento. Agitando a arma, fizeste com que a ponta acertasse os braços da fera e uma terceira vez no abdômen. Mais uma vez o local atingido queimou emitindo as chamas azuis; e a cada novo golpe desferido aumentava a força do próximo, se aplicado com velocidade; a pele do abdômen da fera borbulhou antes de derreter e o fogo a cauterizar. O monstro abaixou sua cabeça rugindo em cólera e investiu contra o homem tentando perfura-lo com os chifres, mas ele conseguiu rolar para o lado bem a tempo, se erguendo, girou o corpo e transferiu toda força mecânica do movimento para o chicote desferindo um poderoso ataque em diagonal, acertando o braço esquerdo da criatura. A carne borbulhou com mais intensidade e explodiu, desmembrando a fera. Ela segurou institivamente o toco que sobrara de seu braço tentando estancar o sangue que vertia agora. O caçador aproveitou a brecha e brandiu o chicote com mais força, levantando ele a cima da cabeça e descendo com violência contra a cabeça do monstro. Ele apenas conseguiu rugir, antes do golpe com toda energia acumulada cortar a carne até o osso, fazendo sua cabeça entrar em combustão e explodir logo em seguida. O corpo inerte da besta caiu com força no chão e o caçador recolheu seu chicote, o enrolando e prendendo novamente no cinturão.

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⏰ Última atualização: Sep 06, 2023 ⏰

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