Capítulo 3

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Já tinha passado das seis. Ouvi minhas mães no andar de baixo, preparando o café da manhã e assistindo ao noticiário. Terminei de trocar os Band-Aids e continuei sentada na cama bagunçada, encarando a tela do laptop e analisando as câmeras de segunda mão no site de desapego.

Peguei a escova jogada na cama e escovei o cabelo, tirando os pequenos ninhos que os cachos fizeram. O cheiro de ovos invadiu o meu quarto e fez minha barriga roncar, estava quase pensando em descer quando uma câmera fisgou minha atenção. Era uma Polaroid vintage, isolada no branco. Analisei a pequena faixa de arco-íris no meio, decorando e dando-lhe um charme. Era de segunda mão, mas estava em ótimo estado, até o flash sobre ela parecia intacto.

Deixei a escova de lado e corri para ver o preço. Duzentos dólares. O número me deixou desanimada. Gastei toda a minha mesada e acho difícil minhas mães me darem esse dinheiro para eu saciar meu vício por câmeras antigas. Suspirei, frustrada. Deitei na cama, olhando para as prateleiras sobre a cabeceira e vendo todas as câmeras que ganhei de presente ou comprei sozinha. Ela ficaria linda na minha coleção.

Depois de longos minutos, saí da cama e guardei meu laptop dentro da mochila. Peguei uma calça jeans e vesti a camisa da lacrosse Hoje terá um jogo e é comum usarmos a camisa do time para demonstrar apoio e boa sorte. Coloquei meus sapatos e desci as escadas para tomar café da manhã com minha família.

Mas ao chegar à cozinha, meu corpo ficou tenso ao notar a mulher loira na beira do fogão. Minha mãe pode ser uma mulher de sucesso, uma excelente advogada e ótima em cálculos, mas ela não sabe cozinhar.

— Olha só a hora! — comentei forçando um sorriso. — É melhor eu ir correndo, senão vou chegar atrasada — avisei segurando a mochila com força e andando de costas de volta pelo corredor.

— Mas você não comeu nada. — Ela me olhou com expectativas e seu cabelo loiro estava solto em uma cascata lisa e brilhosa. — Eu fiz ovos — anunciou com um sorriso gentil.

Meu olhar correu para a outra mãe, ela estava com os cotovelos sobre o balcão e me olhava em sinal de aviso. Devagar, me sentei ao seu lado e analisei os ovos sem aquele amarelo brilhoso que costuma ter. Fiz uma careta, não foi esse cheiro que senti no andar de cima.

— Aqui está! — Colocou um prato na minha frente, até as torradas estavam um pouco queimadas.

— Então, mãe — comecei me forçando a comer os ovos escuros. — Não vai trabalhar hoje? — perguntei tomando um grande gole de suco de laranja, esperando disfarçar o gosto estranho.

— Decidi trabalhar em casa — avisou enquanto organizava as panelas que tinha usado. — Vamos jantar juntas hoje à noite.

Balancei a cabeça, sabendo o que aquilo significava. Ela vai preparar o jantar e quem sabe mandar toda a minha família para o hospital por causa de intoxicação alimentar.

— O que acham de sairmos para jantar? — sugeri esperando não passar a madrugada em um leito no hospital. — Vamos ao restaurante italiano que a senhora ama, vai ser divertido e ficaremos juntas. — Forcei um sorriso batendo no joelho da minha outra mãe, que não parava de mastigar os ovos, sem querer engoli-lo.

— Isso parece uma ótima ideia — minha mãe que estava ao meu lado disse de boca cheia e tirando os cachos do rosto. — Faz tempo que não saímos — comentou deixando minha outra mãe pensativa.

— Tudo bem, marcado — concordou me deixando aliviada.

Ela nos deu as costas e enviei um olhar para a mulher sentada ao meu lado, que fez um sinal com o polegar antes de cuspir os ovos no guardanapo. Espremi os lábios, reprimindo uma risada.

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