I Capítulo {Livro Um}

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Palácio de Versalhes. França. 1785.

Lady Bordô caminha de lado a lado pelo centro do salão. O ressoar de seus passos é o único ruído que ouvimos enquanto realizamos nosso afazer.

Nenhuma das outras donzelas ousa erguer os olhos para encará-la. Eu ouso, porque a dama não me assusta com sua austeridade.

Nossa preceptora possui — cerca de cinquenta anos — cabelos grisalhos presos num emaranhado de fios, ocultos por um pequeno chapéu, tem rugas por todo o rosto comprido e uma expressão séria ao observar-nos.

Recebe o tratamento de lady Bordô, por ser este o tom contínuo de suas vestimentas, mas chama-se Joana Bourbon. Faz parte da criadagem que está sob os serviços de vossa majestade e assim como os demais, foi agraciada com o sobrenome real.

Isto foi determinado pelo rei para demonstrar-nos que para ele os criados são como membros da família e não meros empregados.

Acontece que, como nosso tratamento formal consiste em referir-nos aos cavalheiros e damas pelos seus sobrenomes, ficaria difícil convocar um Bourbon e não receber a atenção de ao menos vinte criadas.

Sendo assim, eles mesmos deram um jeito nesse dilema, escolhendo para si mesmos, modos de tratamentos que os distinguisse.

Enfim...

Lady Bordô tem responsabilidade pela educação das donzelas do reino. Instruiu-nos nas mais diversas artes, durante quatorze anos e tem como missão, transformar-nos em perfeitas... Rainhas.

Lady Delyon! — repreende-me o alvo de meus devaneios. — Pare de admirar-me e trate de atentar-se ao bordado em tuas mãos.

De pronto, ouço um burburinho de risos, vindo das outras ladys. Não nos é comum ouvir repreensões. Para as outras tornei-me, nesse instante, um espetáculo a se apreciar.

— Perdoe-me, lady Bordô — peço-lhe com sorriso amável.

Abaixo minhas vistas para o longo tecido que apoio em meu colo, mas não antes de fitar rapidamente a face das donzelas que se sentam em circulo no salão.

Por serem ligeiras na arte de desviar os olhos e ocultar as faces, apenas consigo vislumbrar o topo de seus penteados em tranças.

Com a exceção de lady Leblanc.

Agnes Leblanc sorri docemente, piscando-me um dos olhos verdes de forma discreta e sem demoras volta a empregar-se em seu bordado.

Durante nossos anos de convívio, fiz amizade com todas as ladys, mas minhas amigas com laços mais fortes são; Agnes Leblanc e Alice Durant.

Foi muito mais fácil criar vínculos com as duas. Agnes me cativou desde o inicio, com seu jeito peculiar e Alice pertence à mesma província que eu. Imagino que isto tenha facilitado nossa interação.

(Amostra) Em Busca da Coroa - LIVRO 1 - CIR.Where stories live. Discover now