Show completo

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POV Wendell

Naquela manhã, eu havia acordado cedo. Abri os olhos e dei de cara com uma Maraisa adormecida, enrolada no lençol, apenas o barulho da sua respiração leve quebrando o silêncio.

Fiquei deitado na cama alguns minutos, lendo várias mensagens no celular. A culpa me invadiu por uns instantes, enquanto eu respondia as mensagens empolgadas da Luísa, mostrando fotos das dezenas de coisas que havia comprado em Miami.

Suspirei, bloqueando a tela do telefone. Eu precisava fazer alguma coisa a respeito daquilo. Nunca fora homem que fazia esse tipo de coisa, iludindo uma enquanto acordava do lado da outra. Mas era o que Jorge chamava de "efeito Maraisa". Ela tirava todo o meu rumo, sem fazer esforço algum.

Levantei da cama, juntando as minhas peças de roupa espalhadas pelo quarto. Apesar de estar morrendo de vontade de voltar para o colchão e envolver o corpo quente dela com os braços, era a minha chance de dar o troco por ela ter feito eu acordar sozinho aquela noite no Rosewood.

Fechei a porta do quarto, não antes de encará-la, adormecida, por mais alguns segundos. "Tão inofensiva... Nem parece o estrago que faz" - pensei, sorrindo.

Desci as escadas de mármore devagar, descalço, segurando o cinto e a camisa em uma mão, meu par de sapatos em outra, me esforçando para fazer o mínimo de barulho possível. Entrei na cozinha, largando minhas coisas na cadeira mais próxima, enquanto procurava a cafeteira.

Comecei a arrumar a mesa, tirando algumas coisas que tinha dentro da geladeira, no intuito de tentar deixar um café da manhã pronto para a Maraisa. Enquanto a cafeteira fazia barulho, senti meu celular vibrar no bolso da calça. Luísa estava ligando por chamada de vídeo.

Rejeitei a ligação, sem pensar duas vezes. Era óbvio que se eu atendesse iria receber um bombardeio de perguntas a respeito do motivo de eu estar na cozinha da casa de outra pessoa às oito horas da manhã de uma terça-feira.

Enquanto eu sentia o cheiro de café começar a surgir na cozinha, comecei a pensar em como contaria tudo isso para a Luísa. Se simplesmente terminaria, alegando o famoso "não é você, sou eu", ou se contaria que eu havia me reencontrado com a Maraisa.

Eu sabia, no final das contas, que ela saberia o real motivo do término. Não iria demorar muito para, caso eu e Maraisa fôssemos vistos em público, a fofoca começar a correr solta. De qualquer forma, Luísa saberia que Maraisa era o pivô do término.

Meus pensamentos se voltaram para o convite que eu havia aceitado na noite anterior: ir no show dela no dia seguinte. Meu subconsciente me alertara que era uma ideia péssima no momento em que Maraisa havia verbalizado. Mas, quando o assunto era ela, eu parecia nem dar bola para o que a sanidade mandava eu fazer.

Terminei o café, arrumando uma cesta de pães e bolachas, fazendo alguns patês com os ingredientes que encontrei na despensa. Catei uma caneta e um papel e deixei um bilhete direto e simples, mas que atestava o nível de insanidade e envolvimento que eu estava naquela história:

"Te vejo amanhã em São Paulo. Dessa vez eu pago o vinho. Ah... De nada pelo café".

Sorri, colando o bilhete com um imã na geladeira, enquanto terminava de juntar minhas coisas na cadeira, encarando, orgulhoso, o café da manhã que eu havia deixado pronto para ela.

"Você é um imbecil" - pensei, saindo pela porta da frente carregando minhas coisas e caminhando, ainda descalço, em direção ao meu carro - "levantou cedo para provocar e ir embora antes dela acordar, mas deixou o café da manhã pronto".

Abri a porta do lado do passageiro do meu carro, largando a camiseta, o cinto e os sapatos no banco. Assim que fechei a porta e ia caminhar em direção à do motorista, vi que a casa do outro lado da rua tinha uma roseira plantada, em frente ao portão. Ali, repousava uma única rosa vermelha, pequena, sozinha no meio do jardim bem cuidado.

Encontro com o passado - MADELLOnde histórias criam vida. Descubra agora