Jogo é jogo

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- Maya - Jorge repetiu pela quinta vez, no mínimo, batendo o copo de cerveja na mesa - tá aí! Gostei. Gostei pra caralho.

Eu ri, pegando meu copo e levantando, fazendo com que Jorge também levantasse o dele, antes de fazermos um brinde.

- Fala baixo, porra - sussurrei - a Maraisa me mata se vazar o nome já. Só hoje ela foi contar para a Maiara...

Já estávamos, no mínimo, na sétima garrafa de cerveja, sentados em um dos nossos bares preferidos em Goiânia, enquanto assistíamos ao jogo do Flamengo e do Corinthians passando no telão à nossa frente. O bar estava lotado naquele domingo, fazendo com que o barulho do jogo se misturasse com os urros e conversas paralelas das demais mesas ao nosso redor.

- Como tá a mãe da Maya? - Jorge perguntou, só mexendo os lábios na hora de falar o nome da "monstrinha", rindo em seguida, debochado, segundos antes de eu bater na mesa após o atacante do Corinthians perder um gol feito.

- Puta da cara - soltei, me recompondo, fazendo com que meu amigo caísse na gargalhada - experimenta trancar uma mulher ligada no 220v dentro de casa - eu torci o nariz, antes de continuar - e, além de tudo, ciente de que vai ter que ficar os próximos quatro meses sem trabalhar. Ela tá virada em uma bomba relógio...

Jorge me deu vários tapinhas no braço, em sinal de solidariedade, virando mais um gole de cerveja.

- É, meu amigo... Boa sorte. Você enjaulou a fera. Ela vai enlouquecer... A Rachel, que é mil vezes mais calma, quase enlouqueceu ficando dois meses em casa...

- Pior que apesar da Maraisa estar visivelmente irritada com o cuidado excessivo que todo mundo está tendo com ela, eu até que estou surpreso em ela estar aceitando tudo que eu e a Maiara impomos, sem contestar muito...

- Também né - Jorge começou, antes de levantar o olhar para o telão e assistir ao Corinthians chutar uma bola trave, fazendo com que nós dois soltássemos um suspiro de frustração, juntos - ela deu um susto enorme em todo mundo... - ele continuou, franzindo o cenho - acho que agora ela se ligou que está grávida e não pode mais sair pulando em palco por aí...

- Logo logo é a Maiara que vai ter que levar um fecho - eu disse, me servindo do último gole de cerveja da garrafa e fazendo sinal para que o garçom se aproximasse - ela simplesmente assumiu todos os compromissos da dupla e está carregando tudo sozinha, sem deixar ninguém ajudar... - parei, levantando a cabeça em direção ao garçom que estacionou ao meu lado - vê mais uma bem gelada pra gente?

- Duas - Jorge corrigiu, fazendo o número dois com os dedos, antes de eu repreendê-lo com o olhar. Já estávamos há horas ali bebendo e, meia hora atrás, tínhamos prometido um ao outro que iríamos parar - deixa de ser frouxo, Wendell. Tá com medo de levar uma surra da mulher grávida quando chegar em casa?

Percebi que o garçom segurou uma risada, antes de se afastar, enquanto eu encarava o meu amigo, rolando os olhos.

- Vai rindo, vai... Mateus me contou que você levou uma mijada da Rachel semana passada, porque chegou podre de bêbado voltando de um churrasco...

Jorge fechou a cara, terminando de beber a cerveja do seu copo, antes de responder.

- Mateus é um traíra fofoqueiro... Nem foi assim - ele tentou se justificar, claramente se perdendo na história - eu tinha ido pro futebol, mas daí o pessoal decidiu de última hora fazer um churrasco depois. Eu não ia ficar, mas insistiram bastante e...

- Cala a boca, você é um péssimo mentiroso. Tenho certeza que quem organizou o churrasco foi você mesmo.

Ele fez menção de retrucar, mas, logo em seguida, sorriu, se servindo de uma das garrafas de cerveja aberta que o garçom recém repousara na nossa mesa.

Encontro com o passado - MADELLOnde histórias criam vida. Descubra agora