Organização

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  Demorei um pouco para criar coragem e sair da sala circular que antecedia os quartos dos meus prováveis colegas de trabalho e fui em direção ao elevador que parecia ser outro meio de subir e descer naquele estratosférico elefante branco que chamavam de Mansão principal, mas antes que eu o chamasse pelo botão, o elevador se abriu e por ele passou um homem de incríveis olhos claros e um surpreendente colar do que parecia ser metal azul turquesa ocupando quase metade do pescoço como se fosse uma coleira ou algo assim e me encarou fixo com um olhar difícil de entender, mas em poucos segundos seu olhar desceu para os meus pés e só então eu vi uma maleta na mão dele:

— É mesmo trinta e nove.

— Oi?

Olhei para os meus pés ao mesmo tempo em que ele abriu a mala, se colocou em um joelho e puxou um dos meus pés tirando meu tênis e colocando um chinelo almofadado no lugar com a rapidez e agilidade de alguém que parecia bem acostumado aquele tipo de coisa. Depois ele fez o mesmo com meu outro pé e em menos de meio minuto eu já o via se erguer, colocar meu tênis em um saco de zíper e colocar dentro da mala:

— Vou deixar seu tênis na porta do seu quarto para guardá-lo quando voltar e um par reserva de chinelos de casa. Na mansão interna é proibido uso de sapatos da rua, existe uma prateleira na porta lateral onde fica os chinelos de todos os moradores, cada um em sua devida gaveta correspondente, assim que tiver a sua eu deixarei outro par lá para você. Se não for possível calçá-los, tire os sapatos na porta e ande com eles em mãos.

De repente eu me dei conta de algo que não me atentei quando entrei... Realmente PCy tinha tirado os sapatos ao entrar e o velhinho da loja do gato usava chinelos como aqueles que agora eu usava...

Hummm...

— A Imperatriz tem toc de limpeza?

Perguntei espontâneo. O homem me olhou e acabou sorrindo de canto como se ouvisse uma piada de mal gosto:

— A pergunta certa é quantas horas você durará antes que te enxotem daqui... Um meistre... Realmente isso é algo que as apostas vão subir até os céus quando você abrir a boca desse jeito lá embaixo. Você não tem culhões, isso será divertido. Boa sorte...

Ele saiu de perto de mim e eu tive que respirar umas dez vezes antes se seguir para o andar de baixo sem xingar aquele cara. Mas que inferno! Qual era o problema daquela gente comigo!?

Entrei no elevador me sentindo ainda mais disposto a fazer mais do que o meu melhor naquele trabalho, fazer tão bem que calaria a boca daquela gente toda que me olhava de cima para baixo! Apertei o T de térreo e esperei, esperei, mas o elevador parecia descer mais do que dois andares e quando finalmente parou, eu saí direto para um lugar que parecia aquele estacionamento subterrâneo que antecedia o escritório aonde fui para entrevista. Era grande, largo, todo iluminado com lâmpadas brancas e tinha dois caminhos que levavam até outras duas portas e lagos entre eles, como se fosse um labirinto de água ao invés de arbustos.

— Mas que diabos... Oh!

Parei de falar quando alguém saiu de um dos lagos como se estivesse saindo de alguma piscina e se sentava na beira de um dos caminhos que não deviam ter mais de dois metros de largura e colocava o cabelo para trás enquanto esticava os braços.

O homem usava apenas uma calça de mergulhador, pelo que parecia e tinha a pele clara, mas com uma tatuagem de machado de dois gumes nas costas... A tatuagem era colorida e as lâminas do machado eram azuis como se fossem pedras preciosas...

Eu me vi enfeitiçado pela tatoo tão realista e dei uns dois passos em direção a ele antes de ser percebido. Ele se virou para mim e deu um sorriso bonito e amigável e eu quase suspirei de alívio. Alguém amigável finalmente...

O novatoOnde histórias criam vida. Descubra agora